Rio - A morte de uma criança na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Engenho Novo, na Zona Norte do Rio, se transformou em caso de polícia. Matheus Guedes, de dois anos, foi atendido no local na manhã desta quarta-feira, mas não resistiu. Mãe do menino, Polyanna Guedes, de 21 anos, diz que os médicos não souberam explicar o motivo da morte do filho e que recebeu três diagnósticos diferentes.
Ela lembra que Matheus ficou resfriado e com moleza no corpo há umas três semanas. Por isso, Polyanna resolveu levá-lo em uma Clínica da Família no mesmo bairro, onde os médicos afirmaram que ele estava com bronquiolite e receitaram nebulização, além de quatro dias de antibiótico. "Ele estava muito 'caidinho' esses dias. Recebemos até um encaminhamento da creche. Mas o remédio não fez efeito nenhum. Meu filho tinha ainda com uma tosse seca", destaca.
Polyanna conta que levou o menino novamente na clínica na semana passada. Segundo ela, os médicos disseram para continuar com a nebulização e indicaram o uso de um xarope para aliviar a tosse. "Mas ontem [esta segunda-feira] ele continuava muito cansado, não queria levantar e nem fazer nada", reforça a mãe, que levou o filho na UPA na manhã desta quarta-feira.
De acordo com a jovem, a médica da UPA explicou que Matheus não poderia ter tido bronquiolite por causa da idade — a doença atinge crianças até dois anos. Polyanna afirma que a profissional o diagnosticou com asma e pediu para o menino fazer três nebulizações de meia em meia hora. Depois, ele teria que tomar uma medicação na veia.
"O remédio ajudaria 'abrir' os brônquios. Quando acabou o procedimento, me disseram para ir à sala de observação, onde ele faria mais nebulização. Lá, a médica avaliaria a situação novamente. Mas, quando cheguei na sala, ele já estava revirando os olhos", explica a mãe. "Os médicos tentaram reanimá-lo, mas eu vi que ele já estava sem os movimentos. E eu vi que meu filho tinha morrido", completa.
Polyanna comenta ainda que, depois da morte da criança, os médicos fizeram um raio-x. "Foi apenas nesse momento que fizeram o raio-x. Não tinham feito exames antes. Depois do resultado, a médica disse que uma pneumonia tomou conta do pulmão dele. Mas quem me garante que ele já não estava assim antes?", acrescenta a mãe.
Matheus será enterrado no Cemitério do Catumbi, às 14h desta quinta-feira. Na certidão de óbito, não há o motivo da morte, apenas que está na "dependência da oitiva da médica". Segundo a família, que registrou o caso na 25ª DP (Engenho Novo), a polícia vai intimar duas médicas para prestar esclarecimentos sobre o caso. "O hospital tinha que declarar as causas. Vamos enterrar meu sobrinho hoje sem saber o motivo de ele ter morrido", lamentou o tio da criança, Marcelo Varanda, de 45 anos.
A Polícia Civil informou que foi realizada uma remoção para verificação do óbito. O corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML), onde será feito uma perícia. Ao DIA, a coordenação da UPA confirmou que Matheus deu entrada no local nesta quarta-feira, passou por atendimento e faleceu no fim da manhã. A coordenação também disse que aguarda a conclusão do laudo com as causas da morte. Em nota, a gerência da Clínica da Família Izabel dos Santos, informou que lamenta o falecimento do bebê.
Confira o documento na íntegra:
"A gerência da Clínica da Família Izabel dos Santos, no Engenho Novo, lamenta o falecimento do menino Matheus Guedes, que era paciente acompanhado na unidade.
No prontuário da criança – que tinha histórico de asma – consta atendimento no dia 22 de junho, devido a um quadro viral, com esforço respiratório e sem relato de febre. Na ocasião, foi prescrita a medicação indicada para o quadro.
Doze dias depois, em 5 de julho, Matheus foi levado à unidade apresentando sintomas condizentes com resfriado – tosse e coriza – e sem apresentar dificuldade respiratória ou febre, sendo prescrita a medicação indicada para o quadro. Entre aquela data e o dia 12 de julho, quando foi internado na UPA do Engenho Novo, não consta registro de retorno ou relato à clínica por agravamento do quadro.
A gerência da unidade está à disposição das autoridades policiais para colaborar com o esclarecimento do caso, que será avaliado também pela Comissão de Óbitos da Coordenação de Área da Secretaria Municipal de Saúde, como estabelece o protocolo."
Outros casos
Em 2015, outro caso de uma criança morta em uma UPA do Rio precisou ser investigado. Layla Cristina de Freitas Lopes de Oliveira tinha apenas 2 meses de idade e morreu após receber atendimentos por duas vezes na UPA de Santa Cruz, Zona Oeste. A mãe havia sido orientada a procurar uma Clínica da Família ao invés do serviço de emergência.
O caso foi apurado por uma sindicância do Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro). Também houve registro na 36ª DP (Santa Cruz) após um protesto na UPA, realizados por parentes inconformados com a morte da menina. Na ocasião, policiais militares do 27º BPM (Santa Cruz) também foram acionados para conter a manifestação.
Com a estagiária Nadedja Calado