Rio - A Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ) contra a médica Haydee Marques da Silva — que se recusou a atender o bebê Breno Rodrigues Duarte da Silva, morto por complicações em seu quadro clínico — por homicídio doloso (quando se assume o risco ou há a intenção de matar).
Além da acusação, o juiz Gustavo Gomes Kalil também acatou o pedido do MP mandou suspender, com urgência, o registro de seu exercício profissional, solicitando a comunicação imediata ao Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj), que também realiza uma sindicância para investigar a médica.
"A garantia da ordem pública estará comprometida, se permanecer no exercício de sua profissão de médica, tendo em vista a gravidade concreta altíssima do crime supostamente cometido pela acusada", disse o magistrado.
Haydee terá que comparecer mensalmente durante o juízo para justificar suas atividades; não pode ser ausentar da cidade sem autorização judicial; entrar em contato com testemunhas do processo; e manter o endereço atualizado, informando à Justiça qualquer mudança. O descumprimento de qualquer uma das medidas pode acarretar na sua prisão preventiva. A Polícia Federal também será comunicada que ela está proibida de deixar o país.
Em depoimento no dia 3 de junho, Haydee afirmou que não tinha responsabilidade na morte de Breno. "Estou triste e muito abalada pela criança ter morrido, mas não estou arrependida porque não fiz nada de errado do código de conduta médica. Eu pedi outra unidade, com pediatra para atendê-lo. Não sou pediatra, não sou neurologista, pedi à outra unidade de ambulância para atender esta criança. Disseram que a unidade estava indo”, disse. Além de ter sido investigada pela morte de Breno, Haydée também possui uma anotação criminal por agredir uma paciente no ano de 2010.
Breno, de um ano e meio, morreu pouco mais de uma hora depois de médica se recusar a socorrê-lo e levá-lo para um hospital. Câmeras de segurança do condomínio flagram a chegada da ambulância ao local.
A mãe de Breno, Rhuana Lopes Rodrigues, 28 anos, contou o que aconteceu: "Ele estava com uma gastroenterite, passando mal do estômago. A médica que cuida dele indicou a internação. Durante a madrugada ele piorou, tinha dificuldade de respirar. O home care solicitou a ambulância às 8h20 e 9h10 já estava na porta do meu condomínio. O porteiro avisou que tinha chegado, mas não subia. Depois, ele ligou e disse que a doutora tinha ido embora. O porteiro disse que ela esbravejava ao telefone e estava nervosa. Aí ela rasgou os papéis que parecia ser a solicitação do atendimento e disse que tinha acabado o plantão e que não era pediatra".
Quando a segunda ambulância chegou, às 11h, o menino já estava morto. Breno nasceu com problemas neurológicos e desde que deixou o hospital, em julho de 2016, recebia atendimento em casa no sistema home care. Desde então Rhuana deixou a vida de empresária de lado e passou a se dedicar integralmente ao filho. "Ele tinha 1h30 para chegar ao hospital. Vou morrer com o 'se'. Se ela o tivesse levado, ele estaria vivo? Se tivesse vomitado no hospital, não teria equipamentos para salvar ele?", lamentou.