Por thiago.antunes

Rio - Traficantes dos morros Cerro-Corá e Guararapes, no Cosme Velho, na Zona Sul, estão aliciando bandidos para praticar assaltos na trilha que liga o Parque Lage ao Cristo Redentor, uma das principais atrações turísticas do Rio. A conclusão é da Polícia Civil, que deflagrou uma operação para prender suspeitos ontem nas duas comunidades.

A delegada Valéria Aragão, titular da Delegacia Especial de Apoio ao Turista (Deat), identificou nove suspeitos de roubar turistas e cariocas no local. Dois deles já estavam presos desde a semana passada, e sete foram procurados na ação de ontem, mas não foram encontrados.

Civil realizou operação no Cerro-Corá e Guararapes%2C mas não encontrou suspeitos de atacar na trilha que vai do Parque Lage ao Cristo RedentorErnesto Carriço / Agência O Dia

De acordo com a delegada, a nova estratégia dos criminosos se deve à queda dos lucros com o tráfico. “O que tem acontecido lá é que até pessoas que não têm anotação criminal, como um pedreiro e um estudante, estão praticando roubos e foram reconhecidos pelas vítimas. Uma das vítimas teve um celular subtraído. Ele foi rastreado e foi encontrado junto a esse pedreiro e esse estudante”.

O pedreiro Douglas Dias da Silva foi preso e o estudante de 16 anos teve uma representação de busca e apreensão pedida, mas ainda não foi deferida pela Justiça da Infância da Juventude. Naquela ocasião, Marcelo Santos de Oliveira também foi preso. Foram identificados e procurados Lucas Lima Luiz Vicente, Wallace Guilherme Soares Silva, Romário Cosme de Assis, Luiz Henrique da Silva Fonseca, Rafael Vicente Ferreira e Wesley Ulisses de Souza Santana Santos, além do menor.

Cinco parentes dos foragidos foram convidados a irem até a delegacia para prestarem depoimento. A delegada afirmou que eles relataram que os procurados foram orientados por advogados a saírem da comunidade, após terem suas fotos publicadas na imprensa. “Um bom profissional que tem um cliente foragido devia orientar que ele se apresente e se defenda”, reclamou.

Apesar da falta de presos, a operação conseguiu identificar os caminhos usados pelos criminosos, que acessam a trilha por caminhos na mata direto das comunidades. “Identificamos possíveis pontos onde os criminosos se escondem na mata. Eles acessam a trilha pela parte alta. Enquanto vítimas acessam a trilha pelo Parque Lage e, quando chegam à parte alta, estão cansadas, fatigadas, exauridas e se tornam presas fáceis”, explicou.

A decretação de prisão dos suspeitos ocorreu após a Deat identificar os integrantes do grupo, na semana passada. As investigações começaram há cerca de seis meses, quando os ataques a turistas dispararam. De janeiro até o começo de julho, foram registrados pelo menos 40 assaltos na trilha, com mais de 150 pessoas roubadas.

Um dos procurados na operação desta sexta-feira participou do roubo ocorrido na semana passada e que terminou com dois turistas estrangeiros — , um polonês e um inglês — feridos a faca.

Várias empresas especializadas em trilhas no Rio estão se recusando a fazer a caminhada do Parque Lage ao Corcovado. Um exemplo é a Nattrip. “Por conta dos assaltos que estão acontecendo na trilha do Parque Laje, nós não estamos fazendo trilhas por questões de segurança. Quando ligam pra cá pedindo, nós informamos sobre a situação”, conta Lucas Teixeira, guia de turismo.

BPTur sofre com falta de policiais

Em vistoria realizada no dia 9 de maio deste ano no Batalhão de Policiamentoem Áreas Turísticas (BPTur), e obtida com exclusividade pelo DIA, o Ministério Público conclui: “O número de efetivo é ínfimo para atender toda a área turística do Estado do Rio de Janeiro”. Atualmente, o batalhão possui somente 99 homens em atividade operacional, revezados em escalas.

A falta de policiamento fez a delegada Valéria Aragão, da Delegacia de Atendimento ao Turista, fazer um pedido inusitado ontem, durante a operação para prender os suspeitos de praticarem assaltos na trilha do Corcovado: “Eu não recomendo que essa trilha seja feita. Sugiro, sim, o seu fechamento temporário. O patrulhamento ostensivo na região nunca será eficiente porque os recursos humanos nas forças de segurança estão avassaladoramente escasseados”, alertou.

A Polícia Militar afirmou, em nota, que o Parque Lage é, desde 2004, parte do Parque Nacional da Tijuca, área de competência federal, cabendo ao ICM-Bio salvaguardar o parque. A PM acrescentou que dá apoio através do policiamento ostensivo, feito com rondas preventivas por motos e viaturas.

A assessoria do Parque Lage informou que os assaltos ocorrem apenas na trilha, e que a onda de assaltos estão denegrindo a imagem da Escola e do Parque. Ressalta ainda que os criminosos agem na trilha pela falta de policiamento e facilidade em abordar turistas com objetos de valor. E que os turistas são alertados logo na entrada sobre os riscos de roubos da trilha.

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