Rio - Mesmo com cinco minutos de tolerância de atraso, nenhum estudante chegou correndo, neste domingo, aos portões da Uerj, fechados às 9h05. Ao contrário dos dias de provas anteriores, o trânsito nos arredores do campus Maracanã fluía livremente. Com o menor número de inscritos e a maior crise de sua história, a universidade realizou a primeira fase do Vestibular - cerca de 37 mil estudantes se matricularam e 35 mil realizaram o exame, menos da metade dos 82 mil de 2016 e dos 88 mil de 2015. Ao todo, 10,38% dos inscritos faltaram.
Segundo Diretor do Departamento de Seleção Acadêmica da Uerj, Gustavo Krause, o número de inscritos para a segunda fase, discursiva, deve ficar em 15 mil - o que resultaria em uma relação candidato-vaga geral de 2 para 1. Mesmo assim, o professor garante que a universidade não deve perder excelência acadêmica. A instituição estadual é a quinta maior do Brasil e 11ª da América Latina, de acordo com o ranking do Best Global Universities.
“Já temos um perfil de classes populares, todos os cursos estão acostumados a lidar com pessoas com educação básica mais fraca. São pessoas que se dedicam muito. Nos 10 anos de sistema de cotas, a média dos alunos cotistas fica muito próxima ou até superior aos de livre concorrência”, declarou.
Os candidatos aprovados neste Vestibular vão ingressar no primeiro semestre de 2018, que deve começar em abril do ano que vem, de acordo com Krause. “Mas tudo depende deste semestre que se inicia, do comportamento do governo estadual e federal”, alertou.
O segundo semestre letivo de 2016 só foi concluído na quinta-feira passada. Na terça, o secretário Estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Social, Pedro Fernandes, anunciou a saída do cargo pelo atraso no salário dos servidores. São três vencimentos atrasados, além do 13º. No início do mês, uma assembleia de professores decidiu pela greve caso os repasses financeiros não sejam normalizados pelo governo do estado.
Apesar disso, os candidatos e seus pais tinham esperança - tanto de aprovação no Vestibular quanto de que a Uerj vá sair da crise. Era isso que Diana Barros, de 17 anos, falava em um abraço apertado com a mãe, antes de entrar para a prova. “Minha mãe disse para eu ter calma e confiança em mim mesma. E eu confio que vai dar tudo certo para a Uerj também. A universidade não pode continuar assim”, contou a estudante, que ainda não escolheu o curso de graduação.
Com dois vestibulandos na família, os analistas de sistema Claudio Eduardo da Rocha, de 51 anos, e Lucimar da Rocha, 45, estavam do lado de fora, nervosos como se tivessem que fazer a prova. O pai disse esperar que os filhos depositem um voto de confiança na universidade onde ele mesmo se graduou. “Temos que valorizar uma das maiores faculdades do país e valorizar os professores, que trabalham mesmo sem receber. A Uerj precisa disso”, declarou.
Alguns estudantes também fizeram o exame como um teste de preparação, de olho em outras universidades. É o caso de Bruna Gama, de 18 anos, que pleiteia uma vaga no curso de Direito. “Mesmo com a crise, a Uerj ainda é uma das melhores universidades do país, mas vou fazer o Enem e tentar outras faculdades”, disse.
Nesta primeira fase, os candidatos responderam 70 questões de múltipla escolha sobre Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas. Ainda não era preciso escolher instituição ou curso. Os estudantes serão classificados nos conceitos A, B, C, D ou E, de acordo com o número de acertos. Uma segunda prova será aplicada no dia 17 de setembro - podem realizar o exame vestibulandos que queiram aumentar a nota ou tenham perdido o primeiro teste.
O exame discursivo, para os alunos aprovados na primeira fase, ocorre no dia 3 de dezembro. Nesta prova, serão testados Língua Portuguesa Instrumental, Redação e duas disciplinas específicas do curso escolhido pelo candidato. De acordo com Krause, a novidade deste ano é o resgate da lista de livros de Literatura, com foco em leitura e interpretação de texto.
“Apostamos na importância da literatura, especialmente nesse momento de intolerância que vivemos. Na literatura, você fica no lugar do outro. Isso é precioso e está perdido. Nesse momento ruim, estamos tentando fazer o melhor”, afirmou.
Números do 1º Exame de qualificação Vestibular Estadual 2018
Inscritos: 37.195
Pagantes: 35.422
Isentos da Taxa: 1.770
Faltosos: 3.860 (10,38%)
Municípios: 15
Locais de Prova: 52
Locais de prova no município do Rio de Janeiro: 30
Locais de prova no Estado do Rio de Janeiro: 22
Candidatos no campus Maracanã: 3.955
Candidatos Desipe: 478
Candidatos com condições especiais: 81
Pessoas trabalhando juntos aos candidatos com condições especiais: 180
Reportagem da estagiária Alessandra Monnerat