Por luana.benedito

Rio - Mercedes Lopes Sosa, de 37 anos, apontada como líder de uma quadrilha de tráfico internacional de adolescentes, também foi explorada sexualmente, de acordo com as investigações da Polícia Civil. A paraguaia veio para o Brasil há 15 anos e trabalhava em casas de família na Zona Sul do Rio. Ela e outras três pessoas foram presas, na manhã desta quinta-feira, durante a Operação Coiote — das delegacias de Atendimento à Mulher (Deam) de Belford Roxo e da Criança e Adolescente Vítima (Dcav). 

Quatro pessoas foram presas na Operação Coiote Divulgação

Além de Mercedes, foram presos: Rodrigo Moreira de Araujo, 36 anos; marido da paraguaia; Eder da Silva Carvalho, 35; e Daniel Camilo Santos Araujo, 28 anos.

"Quando a pessoa vive um tipo de violência assim, ela mesmo reproduz", afirmou Juliana Emerique, titular da Dcav. A paraguaia e o marido aliciavam adolescentes para o Rio com a promessa de emprego, mas elas eram exploradas domesticamente e sexualmente. 

De acordo com agentes da Dcav, a mulher alegava para as famílias no Paraguai — todas vivendo em áreas bem pobres — que as jovens tinham um trabalho de forma legal. Mercedes ainda depositaria uma quantia para os familiares para não causar qualquer suspeita. No entanto, a polícia apura se os parentes realmente recebiam algum dinheiro. 

Operação contra tráfico internacional de adolescentes foi realizada na Baixada FluminenseDivulgação

"Esse é um crime desumano, que tem de ser combatido com integração (se referindo ao apoio da Polícia Federal)", afirma Juliana Emerique.

Na Baixada, as adolescentes eram submetidas à exploração sexual, inclusive pelo marido da Mercedes. "A mulher facilitava para que outras pessoas abusarem sexualmente dessas adolescentes", afirma Tatiana Queiroz, titular da Deam.

Ainda segundo as investigações, as jovens trabalhavam em um creche improvisada no Parque Esperança, em Belford Roxo. 

Adolescentes denunciaram o esquema 

As investigações começaram após uma denúncia de uma jovem à Dcav. De acordo com informações da Polícia Civil, a menina chegou ao Brasil com 15 anos e foi mantida em cárcere privado por dois anos. 

Já uma outra adolescente, de 16 anos, denunciou o esquema de exploração sexual à Deam. "A primeira vez uma das vítimas (que fugiu) foi acompanhada de um dos opressores. Ela havia sido abusada sexualmente por duas pessoas, e eles facilitaram esse abuso", afirma Tatiana Queiroz. 

Segundo a delegada, o homem acompanhou a vítima para que ela prestasse depoimento sobre os abusos, mas sem revelar o esquema. "Ele e a mulher eram responsáveis legais por ela, o homem também já havia sido denunciado por agredir a própria mulher. Por isso, ele quis se eximir de qualquer responsabilidade."

No entanto, no dia seguinte a jovem foi acompanhada de uma vizinha e revelou os abusos que sofria. De acordo com Tatiana, a garota engravidou de um dos homens e fez um aborto. "Ela estava muito fragilizada e eu fiquei muito sensibilizada. E olha que eu como delegada lido com denúncias de abusos de três a quatro vezes por dia", relata. 

Pelo menos 25 agentes participaram da operação e, além dos quatro prisões, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em três residências. Foram apreendidos celulares, pen drives e computadores que serão periciados. A polícia também colherá depoimentos para auxiliar na investigação.

O DIA entrou em contato com o Consulado do Paraguai no Rio, que disse não ter autorização para falar sobre o assunto. A consul no Rio, Estefania Laterza, está de férias e só retorna à cidade semana que vem.

Reportagem dos estagiários Luana Benedito e Rafael Nascimento, com supervisão de Thiago Antunes 

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