Rio - A violência contra policiais militares só aumenta no estado do Rio. Na manhã desta sexta-feira, mais um PM foi assassinado por bandidos durante uma tentativa de assalto, no bairro Jardim Tropical, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Fabiano de Brito e Silva, de 35 anos, é o 90º militar morto neste ano.
Lotado no 20º BPM (Mesquita), o PM foi baleado no lado direito de seu corpo e chegou a ser socorrido no Hospital Geral de Nova Iguaçu (Posse), mas ele já chegou morto à unidade. O corpo já foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML). Até o momento, nenhum suspeito foi preso. Fabiano estava na corporação desde 2014 e deixa uma esposa Nataline e três filhas: uma de 18, outra de 13 e uma menina de 5.
Segundo um PM amigo do soldado Brito, o policial recusou uma oferta de trabalho oferecida por um empresário de Nova Iguaçu que está preocupado com a violência contra os policiais. O convite foi na semana passada.
"Trabalhei com ele durante anos e ele amava o que fazia. Ele recusou esse convite para trabalhar em outra coisa", contou o PM que não quis se identificar. "A gente não tem segurança. Essa é a realidade que estamos vivendo. Hoje, um policial no Rio está sendo caçado. Mataram um trabalhador com três filhos. Quem vai cuidar dessas crianças agora", questionou o policial, chorando.
Ele reclamou também das condições de trabalho. "A gente está desamparado, sem apoio. A vida está banal. Essa é a consequência da impunidade. Se eu (PM) morro, imagina vocês", disse o policial, que reclamou também das condições de trabalho. "Olha a viatura que estamos trabalhando. Está amassada e sem paralamas. Às vezes, temos que parar também para consertar a arma", denunciou o PM.
A sogra disse que a vítima "amava o que fazia". "Ele era uma pessoa ótima e evangélico. Ele estava muito feliz na profissão. Na semana passada ele até comemorou a festa de uma das minhas netas. A ficha da minha filha ainda não caiu. Ela está sem chão. Não sei o que será dela agora", disse a sogra. Segundo informações preliminares, dois bandidos em uma moto abordaram Fabiano e teriam dito: "sai, sai, sai". O militar que estava fardado, em seu carro um Hond Fit, teve a arma levada pelos criminosos.
Além de ser policial, Fabiano também mantinha um negócio de dedetização. Amigo do PM e empresário, Farid Assed, criticou a falta de segurança e lamentou a morte de Fabiano. "Noventa policiais mortos em sete meses. Mortos em uma guerra civil. Esse número é saldo de guerra. Hoje, temos mais uma viúva desesperada, mais uma viúva sem auxílio do governo, enquanto o senhor governador Pezão está lá em Penedo, no spa, garantindo a sua saúde. Quem está hoje fardado virou um alvo", criticou.
Ainda de acordo com Farid, o policial era constantemente ameaçado. "Ele recebia ameaça todo dia. Era o único que prendia traficante, encarava o tráfico".
Cunhada do PM, Fabíola Sales, de 26 anos, lamentou a morte e disse que sua irmã está muito abalada. "Uma das filhas dele fez 13 anos na última quarta-feira. A mais velha ia se formar e a de cinco anos ainda nem sabe o que aconteceu. Estamos arrasados, não tem o que falar da conduta dele. Era um homem íntegro, uma pessoa excepcional", completou a dona de casa.
Ela afirmou ainda que o sonho dele era "servir e proteger". "Foi perto de casa, não dá para entender, algo surreal. Um tiro que acabou com uma família. Estamos sem chão. Ele estava há pouco tempo na PM", contou.
Na última operação que o soldado Brito participou, há três dias, ele prendeu o traficante Jonathan da Silva Magalhães, o Playboy, de 21 anos, na comunidade Samuca, no K-11, em Nova Iguaçu. O enterro será amanhã no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. No entanto, a família ainda não sabe o horário.
Em nota, a Polícia Civil disse que agentes procuram testemunhas e imagens de câmeras de segurança instaladas na região onde ocorreu o fato para tentar identificar os criminosos.
O DIA pediu uma entrevista ao secretário de Segurança Pública Roberto Sá para que ele comentasse o alto número de policiais mortos nesse ano no Estado. No entanto, a assessoria de imprensa disse, por telefone, que Sá não estava no Rio. O mesmo pedido foi feito para o comandante geral da Polícia Militar coronel Wolney Dias. A assessoria informou que iria ver sua agenda. No entanto, até a publicação desta reportagem não houve retorno.
?Reportagem do estagiário Rafael Nascimento, com supervisão de Maria Inez Magalhães