Rio - Enquanto a prefeitura de Belford Roxo derruba o monumento da cidade, moradores enfrentam grandes dificuldades para conseguirem atendimentos básicos, tanto na Saúde, para retirada de remédios, quanto na Educação, com unidades fechadas. Os bairros mais críticos são: Santa Maria, Roncali, Lote XV, Bom Pastor, Jardim Irerê, Parque Amorim e Jardim Ipê.
Na manhã de ontem, a auxiliar de serviços gerais Andreia Luiz da Silva, 32, grávida de nove meses, peregrinava em busca de vacina para a enteada de oito anos. Debaixo de sol, a moradora de Belford Roxo andou cerca de dois quilômetros em vão. “Mandaram voltar porque não tinha vacina de febre amarela e da gripe. Muitas das vezes não há médicos na cidade e tenho que pegar um ônibus até o Hospital Geral de Bonsucesso”, desabafou.
Ela também enfrenta dificuldades para colocar a filha de 12 anos na escola. “Ela ficou quase dois meses sem ir à escola. Eu tive que ir na direção para brigar. É um absurdo”, lamentou Andreia.
Eleito com tema da mudança, prefeito derruba pórtico
Prefeito de Belford Roxo, Waguinho (PMDB) foi eleito com o lema de ‘mudança’. E mudança é o que ele tem promovido na cidade. Nos últimos meses, segundo moradores, foram demolidas várias obras da gestão de Jorge Júlio da Costa dos Santos, mais conhecido como Joca. Entre elas, o tradicional portal da entrada da cidade, posto abaixo no fim da noite de segunda-feira. A perda do pórtico, que foi construído em 1994, causou a revolta em parte da população do município.
A atual gestão está no comando há pouco mais de seis meses. Em março, também na calada da noite, a prefeitura demoliu a Creche Municipal Geraldo Dias Fontes, em Heliópolis, mesmo com uma decisão judicial que impedia a destruição. No local também funcionava um posto de saúde.
Na ocasião, o município alegou que a creche tinha rachaduras e havia sido condenada pela Defesa Civil, o que colocava em risco a segurança de alunos e funcionários. Ainda segundo a gestão, o posto de saúde vizinho foi transferido para uma rua próxima.
A decisão de demolir o pórtico, principal símbolo de Belford Roxo, foi publicada no Diário Oficial do município no dia 8 de julho. O texto apena informava sobre a licitação da construção de um novo marco na Avenida Doutor Carvalhães.
A concorrência pública para a escolha da empresa responsável pela obra do novo portal deveria ter sido feita até a última segunda-feira. Até ontem, no entanto, não havia prazo e nem valor sobre a execução do projeto. Qualquer empresa do ramo poderia fazer parte da licitação.
Com uma população estimada em quase 500 mil pessoas, Belford Roxo está ‘largada’, segundo moradores. E muitos atribuem as demolições a uma rixa antiga entre Waguinho e o ex-prefeito Joca, assassinado com mais de dez tiros, em 1995, em Laranjeiras, na Zona Sul. “Ele (atual prefeito) sempre teve um problema político com o Joca. Você pode mudar uma coisa aqui e outra ali, mas tentar apagar o passado de um político isso não existe”, afirmou a pedagoga Marina Alves, 59.
Além da derrubada de construções, a atual gestão também decidiu mudar a cor dos uniformes e até o brasão do município. Dhulian Joca, uma das filhas de Jorge Júlio, criticou o prefeito. “O Waguinho quer ser maior do que meu pai. Nada nessa cidade funciona e ele está cometendo um crime. O atual prefeito não respeita a democracia”, afirmou Dhulian. Procurada, a Prefeitura de Belford Roxo não se pronunciou.
Reportagem do estagiário Rafael Nascimento com supervisão de Maria Inez Magalhães. Colaboração de Gabriella Mattos