Por karilayn.areias

Rio - A prometida queima de fogos recorde desta edição do Rock in Rio, disparada a partir de balsas instaladas na Lagoa de Jacarepaguá e em pontos atrás do palco montado no Parque Olímpico da Barra, não tem autorização ambiental, segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Ambientalistas alertam que a atividade deve causar impacto negativo na já fragilizada fauna do local e que o ruído excessivo pode inclusive levar as espécies à morte por estresse.

A edição deste ano do Rock in Rio%2C que começa em 15 de setembro%2C acontecerá no Parque Olímpico da Barra da Tijuca%2C que fica às margens da Lagoa de Jacarepaguá%2C na Zona OesteDivulgação

Animais como jacaré do papo amarelo, lontra, mão-pelada (um tipo de guaxinim), gambá, capivara e diferentes aves estariam em risco, afirma o biólogo Mário Moscatelli. Ele denunciou o caso às secretarias municipal e estadual responsáveis pelo Meio Ambiente. “Todas essas espécies ficam estressadas com ruído muito intenso. Na Lagoa de Jacarepaguá nunca houve evento desse tipo e isso agrava ainda mais a situação. Isso poderia matar os animais pelo estresse”, explicou.

O gestor ambiental Sérgio Ricardo Verde, do movimento Baía Viva, ressalta que seria necessário estudo prévio do impacto ambiental, de acordo com a legislação ambiental. “Não havendo de fato estudo prévio, uma medida mais drástica pode ser acionar o Ministério Público e embargar o evento. Outro instrumento seria um Termo de Ajustamento de Conduta. Apesar de aquecer a economia da cidade, não pode ser um desenvolvimento econômico contra a natureza”, apontou.

A assessoria de comunicação do Rock in Rio não respondeu se foi realizado estudo prévio do impacto ambiental. A organização afirmou, em nota, que “o processo de licenciamento dos fogos atende aos requisitos estabelecidos por cinco agências governamentais: Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Defae (Polícia Civil), Corpo de Bombeiros (DDGP) e Capitania dos Portos. Todos os trâmites estão sendo seguidos para obtenção de todas as licenças nestes órgãos e os mesmos realizam vistoria no local de realização do espetáculo”.

O Inea, no entanto, garante que nenhum pedido de autorização ambiental foi recebido pelo órgão e ressaltou que “caso haja a intenção de tais atividades deve-se consultar o Inea”. A Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente explicou que não tem jurisdição sobre a Lagoa de Jacarepaguá, que é de responsabilidade do estado. A pasta acrescentou que fiscaliza “o monitoramento dos ruídos, o licenciamento para a instalação e operação dos geradores que darão suporte ao evento e o esgotamento sanitário”.

Projeção de como será a queima de fogos prevista para ocorrer três vezes durante os sete dias de festivalReprodução

O Ministério Público estadual informou que não recebeu denúncia formal e, por isso, não há procedimento instaurado. Já a Polícia Civil respondeu que solicitou o projeto para que possa ser avaliado e aguarda a remessa. O Corpo de Bombeiros alega que fiscaliza as especificações dos fogos e a Capitania dos Portos informa que não fiscaliza impacto ambiental. 

Espetáculo pirotécnico terá 4,5 toneladas de fogos em 18 pontos

A organização do Rock in Rio afirma que esta será a maior queima de fogos de todas as edições, com 4,5 toneladas de explosivos disparados de 18 pontos. No site do Rock in Rio, a queima de fogos é descrita como um “espetáculo pirotécnico”, que será realizado em três momentos diferentes, durante os sete dias de festival. O show cobrirá um raio de 500 metros e poderá ser visto de vários pontos da Cidade do Rock e de áreas no entorno.

Estimativas indicam que a explosão de rojões pode ultrapassar os 120 decibéis (dB), o equivalente ao som da decolagem de um avião a 60 metros de distância. Depois dos 110 dB, curtas exposições ao ruído são capazes de causar prejuízos imediatos à audição dos humanos.

A assessoria do Rock in Rio argumentou que “os fogos que serão utilizados no festival possuem ruídos mínimos e que os resíduos sólidos (papel) são produtos orgânicos que se encontram em concentrações pequenas não prejudiciais ao ambiente e, principalmente, não afetam a qualidade da água e nem causam prejuízo à fauna”.

O biólogo Mário Moscatelli concorda que o uso de fogos de artifício de baixo ruído “resolveria 80% do problema”. Já a coordenadora da Comissão de Meio Ambiente de Jacarepaguá, Núbia Correa, afirma que só as luzes fortes já seriam suficientes para afugentar os animais de seu habitat natural. “Mínimo ruído para um lugar que não tem barulho já é uma intervenção, uma alteração do estado natural da lagoa. É preocupante para onde esses animais vão quando se assustam. Isso já tem acontecido, sem fogos, no Recreio, onde os bichos invadem condomínios e pistas. Mas eles estão no habitat deles. É o ser humano que está invadindo”, defendeu.

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