Por karilayn.areias

Rio - Depois de dez dias de confronto, além da falta de segurança e do medo, a população do Jacarezinho é obrigada a lidar com restrições de circulação e de serviços, como transporte, saúde, educação e coleta de lixo.

Desde que os confrontos começaram há dez dias%2C serviços essenciais não são feitos%2C como coleta de lixoReprodução Internet

Ao todo, 11 escolas e 6 cheches estão fechadas nas regiões do Jacarezinho, Manguinhos, Triagem, Maria da Graça e Higienópolis. A paralisação prejudica mais de 8 mil alunos, a maior parte deles, cerca de 5.400, do Jacarezinho e Manguinhos. "Dizem que o caminho é a educação? Mas as escolas não abrem, como ficam nossas crianças, sem aula há uma semana?", indagou uma moradora.

A Clínica da Família localizada no Jacarezinho também não abriu as portas desde o começo dos confrontos. Em nota, a Secretaria de Saúde do município disse que a unidade só vai voltar a funcionar depois da avaliação que será feita do território amanhã pela manhã.

Desde o início dos conflitos, o serviço de trens da Supervia suspendeu a circulação do transporte em nove dias. Na terça-feira (15), passageiros não puderam contar com o sistema de transporte durante quatro horas. As linhas de ônibus que passam pela região também foram afetadas. Em 2017, a Supervia contabilizou 23 intervenções operacionais causadas por conflitos de segurança pública. Desse total, 19 foram no ramal Belford Roxo.

Por sua vez, a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) interrompeu a coleta feita todas as manhãs e que recolhe 40 toneladas de resíduos por dia. De acordo com a companhia, "a administração regional e a presidência da associação de moradores pediram que os garis suspendessem a coleta para preservar a integridade física da equipe". Estima-se um total aproximado de 400 toneladas de lixo acumulado. Um risco para a saúde dos moradores.

"O acúmulo do lixo leva à proliferação de baratas, insetos, roedores e mosquitos, trazendo riscos de doenças comuns a estes ambientes como a leptospirose, zika, dengue e chikungunya. Crianças e idosos, principalmente correm mais riscos de contraírem alguma patologia", alertou o infectologista Edmilson Migowski.

A ONG Rio de Paz, que atua na região com projetos sociais, também paralisou as atividades. A decisão foi tomada depois que a sede da organização foi atingida por seis tiros. "O pobre não tem a quem recorrer e está vivendo um autêntico desespero, buscando refúgio dentro de banheiro, se jogando no chão. O Jacarezinho se tornou a Síria latino-americana", disse o presidente da entidade, Antonio Carlos Costa.

Manifestantes fazem passeata em Manguinhos

Dezenas de manifestantes interromperam o trânsito na Rua Leopoldo Bulhões, em Manguinhos, na manhã de ontem para protestar contra a onda de violência nas comunidades da região do Jacarezinho, que convive com operações da polícia e confrontos. A iniciativa faz parte da quinta edição do Caminhada da Paz, e contou com cartazes pedindo paz, desenhos no chão, carro de som e atividades para crianças.

Manifestantes pedem o fim da onda de violência na região do JacarezinhoSandro Vox / Agência O Dia

“A gente não quer viver na violência. Queremos vive de paz e não de guerra”, diz Jane Camilo, de 57 anos, moradora de Manguinhos há 20 anos. Um grupo de manifestantes seguiu a Avenida Dom Hélder Câmara em direção ao Jacaré.

Para a auxiliar administrativa Patrícia Evangelista, de 44 anos, nascida e criada em Manguinhos, os confrontos impedem os moradores de terem acesso aos serviços básicos, como escolas e postos de saúde, e de se locomover. “As escolas não funcionam, não se acessa os serviços de saúde, as linhas de ônibus param de funcionar. Você pode perder o seu emprego porque não consegue sair para trabalhar”, lamenta. 

Família e amigos prestam homenagem a policial morto

Morto em uma operação no Jacarezinho há 11 dias, o policial civil Bruno Guimarães Buhler, conhecido como Bruno Xingu, recebeu homenagem ontem, de manhã, na praia do Recreio dos Bandeirantes, onde costumava surfar. O surfe era o esporte preferido do policial. Amigos e parentes, com faixas e camisas pretas com inscrição #XinguEterno, fizeram uma caminhada pela orla e entraram no mar. Um helicóptero da Polícia Civil sobrevoou a área, e agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da qual Bruna fazia parte, nos carros das instituição, passavam buzinando.

Pelo menos, cem pessoas participaram da manifestação. Bruno é um dos mortos na guerra que assola o Jacarezinho. 

Homenagem a Bruno foi feita na praia do Recreio, onde ele surfavaFoto%3A Matheus Jorio / AG ODIA


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