Rio - Quase metade das mulheres que trabalham como taxistas já sofreu algum tipo de assédio sexual. A maioria delas já até recusou corridas para levar homens por medo ou desconfiança e todas preferem ter mulheres como passageiras. Tais conclusões fazem parte de pesquisa inédita feita pelo FemiTaxi, aplicativo de transporte exclusivo para as motoristas e passageiras. Foram ouvidas 200 profissionais de seis cidades — Rio, São Paulo, Campinas, Santos, Belo Horizonte e Goiânia.
“A consulta nos dá ideia mais precisa da realidade do dia a dia delas. Esperamos também que a pesquisa, que nos revelou algumas situações graves, como motoristas que chegaram a ser feridas a facas e ameaçadas de morte, sirva de base para ações das autoridades de segurança pública”, destaca Charles-Henry Calfat, idealizador do FemiTaxi.
Respondendo a perguntas sobre a rotina diária, 47,9% das motoristas disseram ter sofrido algum tipo de assédio. Já 68,6% das profissionais revelaram que recusaram corridas com homens por medo de agressões ou de serem vítimas de abusos sexuais. À noite, 75,1% delas disseram se sentir inseguras em levar clientes masculinos para qualquer destino.
Das que confessaram ter sofrido algum tipo de assédio, 47,9% detalharam que as iniciativas masculinas foram desde cantadas, aparentemente inocentes, a convites para sair, além de ofensas e ameaças. A enquete revelou que 54,5% das entrevistadas preferem trabalhar só com mulheres e 45,5% disseram não ter preferência. A pesquisa também mostrou que 93,5% das profissionais avaliam aplicativos do tipo FemiTaxi como uma das formas mais seguras de trabalhar, pois trazem segurança.
RIO DE JANEIRO
No Rio, as taxistas chegam a 4.691 — 8,5% de 55.260 permissões. Segundo estimativa do Sindicato dos Taxistas, pelo menos mil mulheres circulam diariamente em todas as regiões da cidade, 24 horas por dia. As demais alugam as permissões e só 555 são auxiliares — 4.136 são donas das autorizações.
Tânia Maria Aguilar, 48 anos, taxista há 23, vinculada aos aplicativos Táxi Rosa e FemiTaxi, confessa ter medo de levar homens. “Já fui assediada e assaltada. Com policiamento falho e menos gente nas ruas a partir de determinado horário, ficamos vulneráveis”, justifica.
Carla Iorio, 45 anos, taxista há 5, prefere clientes de aplicativos. “Evito pegar passageiros nas ruas. Já passei aperto com um homem que queria uma garota de programa e me propôs esse papel. Parei o carro e o obriguei a descer”, lembra.