Rio - Com a lataria enferrujada, vidros quebrados e rodas inexistentes, duas viaturas abandonadas da UPP Camarista Méier denotam o estado crítico de conservação da unidade. Em frente à fachada visivelmente mal cuidada da sede inaugurada em 2013, motocicletas esperam conserto há pelo menos um ano, segundo moradores.
Um levantamento recente da Polícia Militar apontou que pelo menos 20% dos veículos da corporação estão parados, sem contrato de manutenção. A seleção pública para novos contratos ainda está sendo preparada, segundo a promotora do Ministério Público estadual (MP-RJ) Gláucia Santana. Ela é a responsável por um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2015 para melhorar as condições de trabalho da polícia.
Para atingir este objetivo, o governador Luiz Fernando Pezão concordou na época em destinar R$ 4 bilhões para a área de Segurança Pública. “O TAC tem vigência de seis anos e está em pleno vigor, mas não tem como ser executado com essa falta de recursos”, apontou Gláucia.
Nas ruas do entorno da UPP Camarista Méier, as viaturas que conseguem circular estão em péssimas condições, diz um morador que preferiu não se identificar. Parte dos 16,3 mil habitantes atendidos pela unidade sente que a sensação de insegurança aumentou.
“Já não se vê mais policial da UPP na rua. As pessoas têm chegado mais cedo em casa por causa da sensação de insegurança. Os motoristas do Uber têm medo de ir buscar e levar passageiros aqui. Isso atrapalha nosso direito de ir e vir”, contou.
Para quem vive na região e vê a degradação piorando com o tempo, o retrato é de um projeto falido. “Somos mais uma parte do Rio de Janeiro abandonada. O Sérgio Cabral (ex-governador) veio aqui na inauguração com mil promessas e não cumpriu uma. Asfalto, saneamento, somos carentes de tudo”, lamentou o morador, que vive no local há 42 anos.
A promotora do MP-RJ e a população atendida pelas UPPs concordam que é necessária a melhoria urgente das condições de trabalho dos policiais— em pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, 76,3% dos moradores de áreas pacificadas disseram que uma mudança nesse sentido ajudaria a melhorar as UPPs. “A situação em geral é muito ruim”, disse Gláucia. “É preciso que seja observada a saúde física e emocional do PM”, completou.
A Coordenadoria de Polícia Pacificadora admite que “a perda de recursos materiais ocorre em todas as unidade da Polícia Militar e é um desafio enfrentado pelo comando da corporação”. O órgão informou que o policiamento na comunidade Camarista Méier não foi afetadas pelos “problemas logísticos”.