Por luana.benedito

Rio - A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) voltou às aulas nesta segunda-feira, após ter o início do primeiro semestre suspenso por tempo indeterminado no dia 1º de agosto. O clima nos corredores da instituição era de desconfiança entre os alunos, funcionários e docentes, que retornaram, mas em "estado de greve". 

Movimentação no primeiro dia de aula na Uerj Severino Silva / Agência O Dia

Aluno do terceiro período de Biologia, Matheus Martins, 22 anos, revela que o cenário da instituição ainda é precário. "Nós estamos sem o bandejão e o meu curso é integral. Eu tenho muitos colegas de turma que não têm dinheiro para comer aqui nas imediações."

É o caso da estudante de Letras Sarah Viana. "Dois dias da semana vou precisar me organizar para trazer comida de casa, porque os restaurantes pelo Maracanã e Vila Isabel custam em média R$ 15."

"Eu estou com o pé bem atrás, porque a gente não sabe se as aulas vão continuar e se a situação vai melhorar. Eu vejo muita gente abandonando a Uerj por esse futuro incerto, apesar de ser uma das melhores universidades do país", diz Matheus.

A estudante do curso de Engenharia Ambiental Mariana Pimenta acredita que a situação está melhor agora e não há mais motivo para não ter aulas. "Caso volte a atrasar o salário, acho que eles (professores) têm todo direito de reivindicar."

Mariana Pimenta (direita) está otimista com retorno das aulasSeverino Silva / Agência O Dia

O professor Renê Mendes Granado prefere não perder o otimismo e acredita que a situação da instituição vai melhorar. "A expectativa é grande, porque nós estamos confiando no comprometimento das autoridades com o que foi reivindicado."

O docente, que estava na universidade para recepcionar os novos alunos dos cursos de Engenharia, diz que a turma estava apreensiva com o futuro. "Eles estão cheios de dúvidas, se a Uerj vai melhorar, se o governo vai privatizar... Eu digo que minha expectativa é que a Uerj volte a ser a referência que sempre foi". 

Outro ponto de apreensão para os alunos da instituição é o calendário acadêmico. "Da outra vez que retornamos tivemos um semestre em 75 dias, foi muito desgastante para gente, muitos trabalhos e conteúdos em menos tempo", lembra o estudante de biologia Matheus.

Sobre o calendário enxuto, Renê tranquiliza os estudantes. "O período passado foi muito complicado para os alunos  e para nós, mas já ouvi nos corredores que esse período terá cem dias de aulas".

Renê Mendes%2C professor da Uerj%2C acredita que governo vai cumprir o acordo firmadoSeverino Silva / Agência O Dia

DCE promove ato

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Uerj planeja promover um ato nesta segunda-feira, na reitoria da instituição. De acordo com Natália Trindade, integrante do diretório, o objetivo da manifestação é lembrar aos diretores as pautas dos alunos que ainda não foram atendidas. "Um terço da universidade não tem perspectiva de receber no próximo mês e queremos a abertura do bandejão". 

Segundo Natália, sem o restaurante universitário fica mais díficil para os cotistas se manterem na instituição. "Muita gente que mora longe, estuda no curso integral e não tem tempo de fazer sua marmita para trazer. A gente acaba tendo que recorrer para o salgado e refresco nas refeições principais".

A universitária diz que a resposta da reitoria é que as empresas não querem assumir o bandejão por causa da crise do estado. "Eles dizem que o governo se tornou um mau pagador, mas tem que ter uma solução",reclama Natália. 

Primeiro dia também foi marcado por trotes dos cursos da UerjDivulgação

Docentes vão paralizar nesta quarta-feira

De acordo com Lia Rocha, presidente da Associação dos Docentes da Uerj (Asduerj), o momento ainda não é de otimismo. "O governo tem sido um grande inimigo da Uerj. Nós já ficamos quatro meses sem receber e ainda estamos sem receber o décimo terceiro, mas entendemos que era importante voltar às aulas."

Para a docente, a suspensão da greve não foi uma decisão fácil."A assembleia entendeu que havia um compromisso do governo, especialmente com a situação dos substitutos que não recebem desde janeiro, com o pagamento de algumas bolsas, mas estamos apreensivos porque o estado não cumpre seus acordos e a situação é muito grave", diz Lia. 

Segundo a presidente da Asduerj, o calendário de mobilização dos docentes continua. Nesta quarta-feira, eles realizam uma paralização e um ato unificado, com servidores da saúde e educação de outras instituições. O protesto tem concentração na Cinelândia, a partir das 16h. 

Trote com palavras de ordem

Em meio a gritos de "Uerj Resiste", "Fora Temer" e "Fora Pezão", alunos dos cursos de Pedagogia e Educação Física recepcionaram os calouros de 2017.  Veteranos e novatos circularam pelo prédio e realizaram um juramento dos seus respectivos cursos no hall de entrada da instituição.


Reportagem da estagiária Luana Benedito sob supervisão de Marlos Mendes


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