Por karilayn.areias

Rio - Os Aedes aegypti 'do bem' já tomaram conta de Tubiacanga, na Ilha do Governador, e de Jurujuba, em Niterói. Nestas localidades, praticamente todos os mosquitos têm a bactéria Wolbachia, que dificulta a proliferação e a picada do transmissor da dengue, zika e chikungunya. E até o final do ano que vem, estes Aedes aegypti vão povoar os 73 bairros das zonas Norte, Sul e Centro. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) começou ontem, pela primeira vez em larga escala, a liberação de mosquitos do projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil.

Bactéria Wolbachia%2C introduzida no Aedes aegypti%2C dificulta a proliferação da dengue%2C zika%2C e chikungunyaReprodução

Dez bairros da Ilha do Governador, incluindo Freguesia, Ribeira, Zumbi, Moneró e Cacuia, começaram a receber semanalmente ovos e mosquitos adultos com Wolbachia. Já no fim de 2018, terão sido liberados 2 milhões de Aedes aegypti para beneficiar 2,5 milhões de habitantes. Segundo a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, os primeiros resultados importantes em redução de casos de dengue, zika e chikungunya devem começar a aparecer a partir de 2020 e 2021. "Acho que vai ser um grande avanço no controle da doença em todo o país", disse ela.

Segundo o líder do projeto, o pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira, o impacto da iniciativa que começou hoje deve ficar mais claro em três a cinco anos. Estudos epidemiológicos vão comparar o número de casos entre as regiões com mosquitos 'do bem' e a Zona Oeste, que ainda não deve receber o projeto. "Os mosquitos demoram de seis meses a um ano para se estabilizar e só então poderemos observar essa capacidade. A grande vantagem é que essa ação é autossustentável: nas duas primeiras áreas do projeto (de 2014) paramos de liberar mosquitos há 18 meses e quase a totalidade da população já tem o Wolbachia", explicou.

Moreira explica que o método não oferece qualquer risco à população - a bactéria já existe naturalmente em 60% dos insetos e nunca foi encontrada em humanos. A Wolbachia é propagada pela reprodução dos mosquitos e impede que eles transmitam o vírus da dengue. No entanto, os 'supermosquitos' não podem fazer todo o trabalho sozinhos. A população também tem que ajudar a combater a doença, eliminando focos do Aedes aegypti ao evitar água parada, manter os ambientes limpos e capinar os quintais.

Nesse sentido, os agentes comunitários desempenham um papel importante no programa de eliminação da dengue. Eles informam aos moradores sobre a liberação dos mosquitos e captam voluntários para hospedar cada vez mais armadilhas. "A Ilha foi a área mais afetada na última epidemia de dengue [em 2015]. Então, nós abraçamos a causa e entendemos que o desafio é também da sociedade", afirmou o estudante e morador do bairro, Luan Ferreira. 

Agentes informam sobre programa a população%2C que ajuda hospedando armadilhas de mosquitosDivulgação

Produção é de 1,6 milhão 

Quando o projeto foi lançado, em 2014, a ideia era que os mosquitos modificados já estivessem em locais como Urca e Vila Valqueire em 2016. No entanto, a expansão dependia do financiamento internacional e da produção de Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia.

Para a nova etapa de larga escala, a Fiocruz teve que aumentar a produção de ovos de mosquito de 600 mil por semana para 1,6 milhão. A expectativa é que o Simulado de Campo (estrutura única no país montada para o projeto) consiga produzir 10 milhões de ovos, para liberação nos bairros, manutenção da colônia e de pesquisas da fundação. O financiamento internacional inclui verba da Fundação Bill & Melinda Gates, via Universidade Monash (Austrália) e Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.

Outros pesquisadores da Fiocruz enfrentam dificuldade: na última terça-feira, estudantes de mestrado e doutorado fizeram uma paralisação com faixas e cartazes para protestar contra o corte de verbas para bolsas do CNPq. 

Em outubro, projeto vai para Cordovil 

Em outubro, o projeto terá nova expansão para outras localidades da Ilha e para o bairro de Cordovil. Até o final de 2018, o 'Eliminar a Dengue' vai percorrer, em sequência, a Zona Norte, Centro e Zona Sul, em um 'desenrolar de tapete', segundo o pesquisador Luciano Moreira. "É uma expansão muito significativa, que nunca foi feita em nenhum lugar do mundo", disse.

Os bairros que receberão o programa incluem: Bonsucesso, Penha, Irajá, Cascadura, Madureira, Del Castilho, Méier, Piedade, Benfica, Catumbi, Botafogo, Copacabana, Flamengo e Santa Teresa.

 

Você pode gostar