Rio - Após a morte do escultor Igor Sérgio da Silva Faria, de 21 anos, dentro do barracão da São Clemente, o Ministério do Trabalho prometeu fiscalizar os barracões de todas as escolas de samba para evitar novos acidentes nas instalações. A vítima foi eletrocutada na noite da última quinta-feira, ao tentar desligar um equipamento plugado na tomada.
Familiares do jovem acusam a São Clemente de negligência. A mãe da vítima, Liane Oliveira, que se dirigiu ao local imediatamente após um amigo que trabalha no barracão ter informado que o filho havia sofrido um acidente, encontrou o jovem caído no chão e sem vida. Ela reclamou da ausência de equipamentos de proteção individual e de uma ambulância ou profissional da área da saúde que pudesse prestar os primeiros socorros e encaminhar Igor para um hospital. “Ele recebeu uma descarga elétrica quando foi desligar um equipamento na tomada. Se estivesse com uma luva de proteção, isso não teria acontecido”, desabafou.
O Ministério Público do Trabalho prometeu instaurar um inquérito para apurar as condições de trabalho da vítima e dos demais profissionais que atuam no barracão da São Clemente.
Segundo a procuradora do trabalho, Julianne Mombelli, a São Clemente tem responsabilidade sobre a segurança do trabalhador, mesmo na função de prestador de serviço. “Os barracões empregam trabalhadores, e, por isso, precisam seguir as regras de segurança do trabalho”, avaliou.
Liane Oliveira explicou que o filho trabalhava como escultor desde os 15 anos. A paixão e a dedicação fizeram com que o jovem conquistasse a chance de trabalhar no Carnaval de Santa Catarina.
Ao retornar para o Rio de Janeiro, ele passou a atuar no acabamento das alegorias da São Clemente, onde atuava como prestador de serviços e fazia parte de uma equipe que contava com pelo menos outros cinco escultores.
Vigilância interdita barracão
A Secção de Segurança do Trabalho do Ministério do Trabalho está acompanhando as investigações da polícia e deve concluir o laudo da morte do jovem em um prazo de 15 dias. A vigilância Sanitária Municipal esteve ontem na Cidade do Samba, onde ocorreu o acidente, e interditou o barracão da São Clemente.
A mãe da vítima, Liane Oliveira afirmou que o filho reclamava constantemente das condições de trabalho no barracão. “Meu filho saía de casa às 8 da manhã e ficava no barracão até às 22 horas de segunda a sábado. Ele já havia comentado que estava sofrendo de exaustão e estresse por causa da pressão no trabalho”, lembrou.
De acordo com ela, membros da diretoria da escola teriam lhe dito que o jovem sofria de problemas de saúde, mas Liane afirma que o filho era um homem forte e saudável.
O sepultamento da vítima vai ocorrer hoje, às 16h30 da tarde, no Cemitério do Caju.
Disputa de samba adiada
A São Clemente decretou luto oficial por 3 dias e prometeu prestar toda a assistência necessária aos familiares da vítima. Ainda segundo a agremiação, o jovem fazia parte da equipe de poliescultura coordenada por Flavinho Escultor.
A eliminatória para a escolha do samba-enredo da escola, que seria realizada hoje, foi adiada para a próxima terça-feira. A São Clemente informou, ainda, que não irá comentar as acusações feitas pela família da vítima. A Polícia Civil informou que a 4ª DP (Presidente Vargas) abriu um inquérito para apurar as circunstâncias do fato.
Os investigadores realizaram diligências e estão aguardando o resultado da perícia. A
Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) lamentou o episódio, mas afirmou que não irá se pronunciar sobre o caso.