Por karilayn.areias

Rio - Renan dos Santos Miranda seguia no carro com o pai, feliz da vida, como a maioria dos garotos de 8 anos nesta situação. Mas a alegria de pai e filho foi interrompida por um arrastão, tiros e uma bala na cabeça da criança, no bairro de Gramacho, em Duque de Caxias, Baixada.

Renan ficou no CTI do Hospital de Saracuruna por cerca de 24 horas lutando pela vida, mas às 17h32 de ontem foi confirmada a sua morte cerebral. Os pais de Renan saíram da unidade desolados, chorando muito e decidiram não doar os órgãos do filho.

"Eu estava chegando próximo ao carro que eles estavam assaltando. Quando olhei para ele, disse: 'Vou retornar'. Mas não consegui escapar. Fui e voltei com o carro duas vezes. O carro deu um arranco. E começaram a atirar", disse Nílton Siqueira Macedo, o pai do menino.
 

Renan dos Santos Miranda foi baleado na cabeçaReprodução Facebook

A mãe, Luciene dos Santos, de 37 anos, passou o dia pedindo orações. "Ele é um menino feliz, alegre. Meu filho já falava em sonhos. Tem que haver justiça. Ele saiu para passear e não para receber uma bala na cabeça, e ficar do jeito que está em cima da cama", afirmou.

"Ele passou por exames e infelizmente constataram a morte cerebral. Tínhamos esperança de reverter o quadro", lamentou o caminhoneiro Alberto Macedo, 38 anos, primo de Nílton. "O pai dele percebeu o menino deitado, com muito sangue, e correu para o hospital", contou Alberto.

"Meu pai disse que um dos bandidos ainda olhou para o rosto dele. Quando meu pai virou de costas, eles atiraram. Ainda esperaram o meu pai virar para disparar. Meu irmão vai virar estatística", lamentou Leonardo dos Santos Macedo, de 19 anos.

Ele criticou a violência na cidade:"A gente não tem sossego. Tem que ter hora para sair, hora para voltar. Saímos mas não sabemos se vamos voltar vivos. Meu pai está muito abalado. É muito complicado você ver seu filho baleado", destacou o irmão Renan.

Renan sofreu nove paradas cardíacas no hospital. Uma delas durou nove minutos. Os médicos chegaram a fazer uma neurocirurgia no garoto, porém não conseguiram retirar a bala, que ficou alojada em uma parte da cabeça. O corpo do menino foi levado para o IML de Duque de Caxias.

Nilton Siqueira de Macedo%2C pai do menino baleado na cabeçaEstefan Radovicz / Agência O Dia

O carro foi atingido por quatro tiros: um no retrovisor esquerdo, dois tiros no porta-malas e um na porta do carona. Um dos tiros disparados contra o porta-malas atingiu a cabeça do garoto. O carro (um Voyage) de Nílton, que já tinha sido periciado no domingo, passou por uma nova perícia na tarde de ontem, após Leonardo achar um projetil no estepe.

O garoto saía da casa do pai, no bairro Pantanal, em Caxias, onde passara o fim de semana. O programa se repetia a cada 15 dias. Eram momentos muito alegres, segundo toda a família. Seguia para a casa da mãe, no Parque Suécia, em Belford Roxo. O trajeto era o preferido de Nílton, que considerava o percurso mais seguro.

Em nota, a Secretarial Estadual de Saúde (SES) lamentou a morte de Renan. "A Secretaria presta solidariedade e segue à disposição dos pais e familiares".

Imagens para identificar os bandidos

Delegado da 60ª DP (Campos Elísios) ouviu o pai da vítima e fez diligências para tentar encontrar os bandidos. Agentes irão recolher imagens de câmeras de segurança no local que possam ajudar na identificação dos bandidos. A Polícia Civil espera que outras testemunhas dos criminosos também ajudem na identificação dos bandidos.

O Educandário Frei Fabiano, em Belford Roxo, onde Renam estudava está em luto pela morte da criança. Amiguinhos que iam e voltavam do colégio na mesma van escolar de Renam fizeram uma corrente de oração durante o dia. O crime abalou o estado.

Somente este ano, seis crianças já morrem por conta da violência no estado do Rio de Janeiro, segundo a ONG Rio de Paz. Além de Renan, as vítimas foram: Vanessa Vitória dos Santos, de 10 anos; Paulo Henrique de Morais, 13 anos; Maria Eduarda da Conceição, de 13 anos; Fernanda Adriana C. Pinheiro, de 7 anos; e Sofia Lara, de 2 anos.

Em 30 de junho, um bebê foi baleado antes mesmo de nascer. Arthur Cosme de Melo, foi atingido por uma bala perdida quando ainda estava no útero da mãe, Claudinéia dos Santos Melo, na Comunidade do Lixão, também em Duque de Caxias. Arthur lutou pela vida por um mês, mas teve piora no quadro clínico em decorrência de uma hemorragia digestiva intensa.


*Colaborou a repórter Karilayn Areias e a estagiária Nadedja Calado


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