Por karilayn.areias

Rio - Após sofrer um ato de xenofobia enquanto vendia salgados em Copacabana em julho, o sírio Mohamed Ali Kenawy recebeu uma grande onda de acolhimento e solidariedade, virando símbolo da capacidade do brasileiro de receber bem o imigrante ou refugiado.

Mohamed Ali Kenawy%2C imigrante sírio agredido em Copacabana recebe o título de cidadão fluminense%2C no Palácio Tiradentes%2C sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de JaneiroTânia Rêgo/ Agência Brasil

“Minha vida mudou completamente, sou reconhecido, sou quase famoso, o povo brasileiro é muito carinhoso e aqui é a minha casa”, disse ele ao receber hoje (13) o título de Cidadão Fluminense em sessão solene na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Nascido na Síria mas crescido no Egito, ele diz que está há três anos no Brasil, para onde decidiu vir por causa das disputas com o Estado Islâmico no Egito.

“Na Síria vocês sabem o que acontece. Eu li sobre o Brasil na internet, falava de coisas ruins, sobre drogas, tráfico. Mas eu nunca acredito na internet, li outras coisas, meus amigos de São Paulo falaram que era tranquilo e decidi vir. Aqui, fiquei surpreso com as pessoas, na rua mesmo me ensinando a falar português, isso não acontece em outros países”.

Kenawy era chef de cozinha e trabalhou alguns meses em restaurantes no Brasil, antes de decidir vender comida nas ruas. Sobre a agressão, ele diz que nunca tinha passado por isso antes. Após o ato de xenofobia, ele não considera que os brasileiros sejam pessoas más, mas que existem indivíduos maus em qualquer país.

“É como ter uma caixa com livros e apenas um danificado, não se pode dizer que estejam todos danificados. Eu não fui para a delegacia, apenas perdi o dia de trabalho. Ele quebrou meu carro, mas carros podem ser consertados. Três dias depois apareceu um monte de pessoas no ponto onde eu vendia. Todos sabiam da minha história, minha vida mudou completamente, as pessoas foram lá por mim, dei entrevistas. Pensei: 'aqui é o meu país', esse é meu sentimento nesse momento, muito amor. Seu país não é onde você nasce, seu país é onde você é respeitado como ser humano. Esqueça minha religião, minha cor, minha nacionalidade, o que nos conecta é que somos seres humanos”.

Ele afirmou que a prefeitura ofereceu uma licença para trabalhar no mesmo ponto, na Rua Santa Clara, mas não aceitou por causa violência que sofreu no local. Atualmente, está em outro ponto e busca legalizar um food truck para expandir os negócios.

Kenawy recebeu a solidariedade da escola de samba Portela, atual campeã do carnaval carioca e que fará desfile sobre migração em 2018. Ele foi convidado a participar do desfile de 2018 na Sapucaí e se disse muito surpreso e feliz com o convite. “Me esperem na Sapucaí em 2018”, disse, emocionado.

Política de refugiados

A homenagem foi proposta pelo deputado estadual Wanderson Nogueira (PSOL), que afirmou que o Rio de Janeiro já foi referência nacional em acolhimento de refugiados e que o estado precisa retomar esse papel.

“Quando aconteceu o caso do Mohamed, a gente percebeu que a resposta do povo brasileiro foi muito bonita. Então essa sessão tem o sentido não só de homenagear o Mohamed, mas de reconhecer a necessidade do debate e acima de tudo homenagear todos os migrantes e refugiados que buscam acolhimento no Brasil, principalmente no estado do Rio, que já foi exemplo nessa política, inclusive reconhecida pelos organismos internacionais”, afirmou Nogueira.

Segundo a representante da Cáritas, Débora Marques, atualmente há 7,5 mil refugiados no estado. “É preciso pensar em estratégias para garantir que eles tenham equidade. Eles têm dificuldade de acesso a escola, ao mercado de trabalho. Eles têm direito às políticas de acesso efetivamente como têm os brasileiros”, defendeu.

A Secretaria de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos já anunciou que deve lançar até o final do ano o programa Rio de Braços Abertos, para auxiliar refugiados e migrantes no acesso à documentação básica, à educação e ao mercado de trabalho.

Você pode gostar