Rio - Uma semana depois da saída das Forças Armadas da Rocinha, 900 homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica voltaram a apoiar as polícias Civil e Militar, ontem, desta vez em uma megaoperação realizada no Morro dos Macacos, em Vila Isabel. Um dos objetivos era prender traficantes que também teriam atuado na tentativa de tomada do controle da venda de drogas na Rocinha. Dez suspeitos foram presos e três menores, apreendidos, mas nenhum fuzil foi encontrado na comunidade da Zona Norte, segundo boletim divulgado à noite pela Secretaria de Estado de Segurança.
A operação, que não teve registro de confrontos violentos, ocorreu no mesmo dia em que o Disque-Denúncia anunciava recompensas de R$ 5 mil por informações que levassem à apreensão de fuzis e à localização de arsenais no Rio de Janeiro. A medida faz parte da campanha "Desarme o bandido", em vigor desde 2005. O anonimato dos denunciantes é garantido pela entidade.
Já a Rocinha viveu o dia mais violento desde que as Forças Armadas se retiraram da comunidade, em 29 de setembro, com intensos tiroteios. De madrugada, a adolescente, de 16 anos, Nicolly de Almeida Tavares foi atingida por uma bala perdida, em casa, enquanto buscava um lugar mais seguro para se proteger dos tiros. A polícia informou que, nos confrontos ocorridos de madrugada, dois suspeitos morreram, na Rua 2, e com eles foram apreendidos um fuzil e uma pistola.
À tarde, outros confrontos entre policiais e bandidos se repetiram na comunidade. Em um deles, um jovem de 18 anos ficou ferido, na localidade do Valão, e, com ele, a polícia afirmou ter apreendido uma pistola. Tanto Nicolly como o suspeito ferido estão internados no Hospital Miguel Couto. A condição da vítima de bala perdida é estável, mas ela terá que passar por uma cirurgia. Já o suspeito encontrava-se em estado grave.
"As Forças Armadas saem, e a gente está novamente entregue aos tiroteios. Escolas já não abriram e o povo fica com medo de sair para trabalhar. Ninguém sabe o que vai acontecer daqui para frente", reclamou um morador.
À noite, houve mais relatos de confrontos na comunidade. Nas redes sociais, moradores contaram que tiros eram ouvidos em vários pontos da favela. "Eu chego na Rocinha e, do nada, o helicóptero passa quase pela minha cabeça e tome tiro!", escreveu uma internauta. "O povo da Rocinha nem deseja mais final de semana com sol. Agora, nós desejamos final de semana sem tiro", postou outra moradora.
Mais de dois mil alunos sem aula
Os confrontos de ontem deixaram mais de dois mil alunos sem aula. No Morro dos Macacos, quatro escolas, duas creches e um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) não abriram, deixando 1.951 criança e adolescentes em casa. Uma Clínica da Família também suspendeu o atendimento.
"Todas as escolas estão fechadas", disse uma moradora, acrescentando que o clima é sempre tenso na comunidade.
Na Rocinha, pais que precisavam trabalhar não puderam levar seus filhos às creches. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, duas creches que atendem 134 crianças não funcionaram.
"Ouvi bastante tiro. Com medo, não levei minha filha para a creche", escreveu uma mãe em uma rede social.
Reportagem de Rafael Nascimento, com agências de notícias