Rio - Um erro na liberação dos corpos de dois idosos que morreram no Hospital Caxias D'or, na Baixada Fluminense, prolongou ainda mais a dor das famílias que agora aguardam uma decisão da Justiça para conseguir se despedir de seus parentes. Enquanto a direção do hospital prometeu abrir uma sindicância para apurar as responsabilidades, os parentes de Maria Rosa da Silva, de 90 anos, obtiveram uma autorização para fazer a exumação de seu corpo, que foi enterrado por outra família, na quarta-feira, no Cemitério Raiz da Serra. O procedimento está marcado para às 7h. Ela foi velada e sepultada pela família do aposentado Cesar Carvalho Lobo, de 74 anos. O paciente havia morrido na noite anterior vítima de parada cardíaca.
Os filhos de Lobo estiveram na unidade de saúde e fizeram o reconhecimento do corpo na manhã de quarta-feira. Ao chegar no cemitério, o sobrinho da vítima, Marco Moreira, notou que havia algo errado ao não reconhecer a pessoa no caixão como sendo o tio. "Muita gente estranhou, mas no calor da emoção e como apenas um pedaço do rosto estava exposto por causa das rosas depositadas sobre o corpo, as pessoas acharam que deveria sim ser o meu tio. Alguns justificaram que o rosto estaria diferente porque as pessoas perdem sangue quando morrem", lembrou. Segundo ele, pelo menos 100 pessoas participaram da cerimônia.
Segundo o filho da vítima, Júlio Cesar Dominoni Lobo, a família soube da troca dos corpos ontem pela manhã, após a sua madrasta receber uma ligação do Caxias D'or. "A direção do hospital entrou em contato com a minha madrasta, por volta das 7h da manhã, dizendo que o corpo havia sido trocado. O diretor do hospital não soube dizer se foi um erro por parte do hospital ou da funerária. Ainda não sabemos quem errou", detalhou. Segundo ele, ao tomar conhecimento do caso, a sua madrasta, que sofre de problemas cardíacos, começou a passar mal e foi levada à emergência do Caxias D'or, onde está internada. O corpo do aposentado continua no hospital.
A irmã da vítima, Cleia Lobo disse que uma neta chegou a comentar que havia um erro, mas foi contida por parentes durante o velório. "Nunca imaginamos que pudesse acontecer uma coisa dessas num momento tão difícil. Meu irmão não merecia isso", desabafou.
O sobrinho de Lobo, disse cobrou explicações do funcionário da Funerária Praça da Bandeira, que realizou o procedimento. "Ele (o funcionário) falou que o corpo não estava na gaveta e quando fez a retirada, não havia ninguém do hospital na sala. Tinha que ter uma enfermeira e alguém da minha família para autorizar a retirada", comentou Lucas Ribeiro Lobo. Ainda segundo ele, o funcionário teria dito que não percebeu que o corpo era de uma mulher, pois os órgãos genitais estariam cobertos.
O corpo enterrado por engano era de Maria Rosa da Silva, 90 anos, que morreu na manhã de quarta-feira, vítima de uma parada cardíaca. O neto da vítima, Thiago Moraes, disse que o hospital só contou ao seu pai sobre o paradeiro do corpo de sua avó após às 18 horas." O diretor do hospital comunicou ao meu pai que o corpo da minha avó havia sido trocado. O hospital provavelmente sabia do caso, mas ficou enrolando o meu pai durante o dia inteiro", comentou. A família registrou o caso na 59ª DP (Duque de Caxias) e espera conseguir exumar o corpo da idosa ainda hoje.
"Queríamos fazer o velório dela na Primeira Igreja Batista, em Xérem, onde ela frequentava. Muitos familiares vieram de longe para acompanhar o velório dela, mas devido ao tempo que já passou, dificilmente conseguiremos velar o corpo da minha avó", lamentou Moraes. Ele também questionou o fato de ninguém ter percebido que os corpos foram trocados. "Existe muita diferença entre o corpo de um homem e o de uma mulher. Nós ficamos revoltados, principalmente com a Rede D'or, que cobra um preço alto pelo atendimento, mas não tem cuidado com o corpo das pessoas", reclamou.
O Hospital Caxias D'or lamentou o ocorrido e disse que abriu uma sindicância com urgência para apurar as responsabilidades. A direção ressaltou, ainda, que um relatório está sendo elaborado para fins de averiguação e, que toda assistência necessária está sendo prestada às famílias. A reportagem do DIA entrou em contato com a Funerária Praça da Bandeira, mas um funcionário informou que os donos da empresa estão viajando.