O aposentado Albertino Rodrigues, morador de Rocha Miranda, perdeu tudo em casa após a enchente - Severino Silva
O aposentado Albertino Rodrigues, morador de Rocha Miranda, perdeu tudo em casa após a enchenteSeverino Silva
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Foi a maior tempestade que a Cidade do Rio já registrou desde 1997. As fortes chuvas, no período de uma hora sem parar, seguidas de rajadas de vento de mais de 100 km/h e raios, na madrugada de ontem, terminou com quatro mortos e 2 mil pessoas desalojadas. Por conta dos alagamentos e riscos de desabamentos, o município chegou ao estágio de crise, o terceiro na escala de 1 a 3, às 0h25, permanecendo por cinco horas. A Defesa Civil interditou 51 imóveis, sendo 41 no Complexo do Alemão e 10 em Cascadura. Ao todo, 182 ocorrências emergenciais foram atendidas.

Em Quintino, na Rua Olinda, o muro de uma casa desabou e matou duas pessoas. O motorista de táxi executivo, Marcos Garcia, foi atingido pelo concreto quando a água, como "um tsunami", segundo os moradores, invadiu a vila. Ele tinha saído de onde morava para ajudar os colegas. A vizinha dele, a cuidadora de idosos, Jupira Magalhães, também morreu quando a outra parte do muro caiu. O marido de Jupira, Jorge Luiz Faria Viana, 63, tentou socorrer. "Eu estava socorrendo o Marcos, que morreu em meus braços, quando tudo aconteceu. Estou sem chão. Desesperado. Pensei que ela (Jupira) tinha ido para a rua", contou Jorge.

ÁRVORE CAI E MATA PM

A terceira vítima foi o policial Nilsimar dos Santos, do 3º BPM (Méier). Ele estava em seu carro, na Rua Recife, em Realengo, quando uma árvore caiu em cima do veículo, à 1h25. De acordo com a corporação, Nilsimar tentava fugir de um engarrafamento, provocado pela chuva, na Avenida Brasil, quando foi atingido. Horas depois, às 4h30, uma casa desabou parcialmente, em Cascadura, e matou Marcos Vinicius, de 12 anos.

Em nota, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, que está a trabalho na Suécia, lamentou as quatro mortes. "O prefeito se solidariza com as famílias dessas vítimas e, para evitar que outras tragédias se repitam, acompanha o trabalho dos órgãos municipais", destacou.

CASAS EMBAIXO D'ÁGUA

O recorde de índice de chuva na madrugada foi registrado na Barra da Tijuca, com 123 milímetros. Na região de Jacarepaguá choveu quase 150% da média esperada para todo mês de fevereiro. Em Campo Grande, o bairro Jardim Maravilha foi um dos mais castigados. Até a noite de ontem, dezenas de casas continuavam inundadas e 120 famílias precisaram sair de seus imóveis, sete delas foram acolhidas em abrigos municipais.

Em 44 comunidades do Rio, 77 sirenes foram acionadas para que moradores se deslocassem para locais seguros. Dos 2 mil desalojados, 250 famílias eram do Parque Everest, no Complexo do Alemão.

A manhã de ontem foi de muito trabalho para moradores que enfrentaram as enchentes. Em alguns bairros teve gente que perdeu tudo. Três carros, que estavam parados em uma vila na Água Santa, foram arrastados pela força da correnteza. "A lama chegou a quase 1,80 m de altura. Os vizinhos fizeram uma corrente humana e nós nos salvamos", disse o lanterneiro João Pedro de Lima. Em Rocha Miranda, na Rua Tacaratu, a chuva destruiu o imóvel do aposentado Albertino Rodrigues, 77. "Perdemos tudo", desabafou.

Em Piedade, moradores da Rua Torres de Oliveira encontraram dezenas de peixes na via, que vieram com a correnteza de uma represa de um clube do bairro.

Chuva não justifica caos generalizado
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O alto índice de chuvas não justifica o caos na cidade. A avaliação é do professor Gustavo Cunha Mello, especialista em Gerenciamento de Risco. Segundo ele, medidas deveriam ter sido tomadas para prevenir alagamentos e quedas de postes e árvores, e, consequentemente, transtornos no trânsito e no fornecimento de energia. "Fizeram muitas obras para a Copa e a Olimpíada, mas não se preocuparam em limpeza e reestruturação das galerias pluviais para escoar a água".
A vistoria de postes, pela prefeitura e concessionárias, e de árvores, pela Fundação Parques e Jardins, além da construção de mais reservatórios de água, são outras ações cobradas. "Árvores e postes não caem por causa de chuva, a não ser por raio. Caem porque já estavam podres e ninguém fez nada", criticou.
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A Secretaria de Conservação e Meio Ambiente esclareceu que, em 2017, foram limpos mais de mil quilômetros de galerias pluviais, 67 mil bueiros e 65 rios. O órgão informou que os piscinões construídos na Grande Tijuca operaram satisfatoriamente e que a região só estará livre de alagamentos em 2019, com a entrega das obras de desvio do túnel do Rio Joana, no Maracanã.
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