Em Marechal Hermes, móveis destruídos pelo temporal e lixo estavam espalhados na rua até ontem - Severino Silva
Em Marechal Hermes, móveis destruídos pelo temporal e lixo estavam espalhados na rua até ontemSeverino Silva
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - Colchões, armários, sofás e muitos objetos pessoais e brinquedos ainda ainda estavam amontoados ontem, pela manhã, na Rua Portão Vermelho, em Marechal Hermes, na Zona Norte. O entulho foi arrastado pelo temporal que caiu sobre a cidade na noite da última quarta-feira, mas só ontem a Comlurb esteve no local. Os moradores da região ficaram sem luz também até ontem, quando a Light finalmente esteve no local.

Devido ao lixo, um mau cheiro se instalou na área e a preocupação com algum tipo de doença assombrava quem vive na região. "Não temos como contar as vezes que ligamos para pedir ajuda. Tínhamos medo de pegar alguma doença. Ratos, baratas e mosquitos já tomaram conta da minha casa", lembra a dona de casa Claúdia Valença de Fonseca, de 45 anos, ao assistir um caminhão da Comlurb retirar os entulhos da porta de sua casa.

Com um neto de sete anos com câncer em casa, Cláudia lembra que precisou levar a criança para a casa de uma amiga. "Aqui alagou, perdi tudo e tivemos que levar meu neto para a casa da minha amiga", contou ela. Na residência moram seis pessoas e, para ter uma renda extra, a mulher cuida de 11 crianças. No entanto, ela teve que parar o trabalho devido às consequências das chuvas e esse mês não terá renda extra para ajudar a família.

CAMPANHA DE DOAÇÕES

"Sabemos que foi um intempérie da natureza. Mas o que está acontecendo aqui é questão de humanidade", desabafou a dona de casa Rita de Cássia dos Santos Silva, de 52, que mora no bairro há oito anos. "Como aqui não mora governador, prefeito, deputado ou vereador, ninguém faz nada. A classe trabalhadora luta para conseguir algo e, quando consegue, tem uma chuva, leva tudo e ficamos aqui largados", lamentou ela.

Mesmo perdendo móveis, a diarista Léia Pinto Batista, de 36, decidiu sair às ruas para pedir doações para os vizinhos. "Decidimos fazer alguma coisa, já que o poder público não faz. Estamos recolhendo roupas, alimentos e móveis para ajudar quem não tem mais nada", disse Leia. Todos os objetos recolhidos são entregues na Capela Santa Rita de Cássia, em Marechal Hermes.

Outros bairros ainda estão com lixo ou até galhos e árvores pelas ruas e com áreas sem energia. As áreas mais afetadas foram Ilha do Governador, Penha, Bonsucesso, Ramos, Vila Valqueire, Jacarepaguá, Campo Grande, e Guaratiba.

De acordo com a Light, alguns locais "exigem o trabalho de equipes pesadas com caminhões-cesta para remoção de postes e trabalho conjunto com outros órgãos de serviços públicos, tais como CET-Rio (para fechamento de ruas) e Comlurb (para remoção das árvores)". Ainda segundo a concessionária, cerca de 700 árvores precisam ser removidas, porque dificultam o trabalho. "A empresa vai reparar sete transformadores restantes danificados pela chuva e restabelecer o fornecimento de energia para cerca de 500 clientes que estão sem energia devido às intempéries", acrescentou a Light.

Já a Comlurb informou que, até ontem, foram cortadas e removidas 1.285 árvores, sendo 829 concluídas e 446 com os serviços em andamento, cortadas e armazenadas em local sem interferência no trânsito. A companhia acrescenta que, durante o fim de semana e ontem, intensificou o atendimento emergencial às escolas e hospitais públicos. De acordo com a empresa de limpeza urbana da prefeitura, desde a madrugada de quinta-feira, 2.500 garis, com 141 veículos e equipamentos, atuam de forma intensificada nos bairros mais afetados. Segundo a companhia, foram cerca de 1.640 ocorrências de queda de árvores e de grandes galhos, o maior número de incidências desde que a companhia assumiu a poda das árvores em áreas públicas em 2008.

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