Fernando Lamy era ortopedista e foi cassado pelo Cremerj. Havia pelo menos oito óbitos e dezenas de mutilações atribuídas a ele - JOÃO LAET / Agência O DIA
Fernando Lamy era ortopedista e foi cassado pelo Cremerj. Havia pelo menos oito óbitos e dezenas de mutilações atribuídas a eleJOÃO LAET / Agência O DIA
Por FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Ortopedista cassado pelo Conselho Regional de Medicina (Cremerj), com pelo menos oito óbitos e dezenas de mutilações atribuídas a ele, Fernando César Lamy Monteiro da Silva, de 50 anos, foi encontrado morto em uma casa em Araruama, na Região dos Lagos, no dia 1º de outubro de 2017. As circunstâncias da morte ainda são um mistério e estão sendo apuradas pela Polícia Civil. Lamy, que chegou a ser preso em 2014, depois de uma série de matérias feitas pelo DIA, respondia em liberdade, conforme o Tribunal de Justiça (TJRJ), a 70 ações nos Juizados Especiais Criminais, Cíveis, de Família, e Dívida Ativa. 

O reconhecimento do corpo foi feito pela irmã, Andreia, no Instituto Médico-Legal, mas o TJ ainda não tinha sido informado até a semana passada, por alguma das partes envolvidas em processos, segundo a assessoria da instituição.

Pelo Facebook, Lamy, acusado por testemunhas de ter operado pacientes supostamente drogado ou alcoolizado, dava sinais de que buscava tratamento em irmandades como AA (Alcoólicos Anônimos) e NA (Narcóticos Anônimos). A morte do ortopedista surpreendeu as supostas vítimas e seus parentes.

"Infelizmente, ele buscou esse caminho. Vai ter que prestar muita conta a Deus", desabafou Suely Gomes, de 61 anos, que ficou inválida depois de um procedimento malsucedido nas mãos de Lamy, contra artrose de coluna, em 2012, no Hospital do Amparo. "Passei a usar fraldas e tenho depressão", lamenta.

Fernanda esperou por justiça pela morte da mãe, Márcia, por dez anos: "Agora, só a justiça divina" - joão laet

A jornalista Fernanda Pimentel, que perdeu a mãe, a bancária Ana Márcia, 49, em 13 de junho de 2008, depois de operada por Lamy, conta que há dez anos aguardava por justiça. "Esperava a prisão do médico, que fez tantas famílias sofrerem e agiu, durante anos, impunemente. Agora, só a justiça divina", comentou Fernanda. Lamy operou dois pontos da coluna - cervical e lombar - de Ana Márcia em um mesmo dia, no Hospital Quinta D'Or, quando o prazo mínimo entre um procedimento e outro deveria ser de quatro meses.

Ações cíveis podem ter continuidade
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O caso que levou à cassação do registro de Fernando Lamy é o do analista de sistemas Marcelo Costa, 37, que morreu em 2012 na mesa de operação. Elias Gabbay, advogado da viúva, Susan, 37, diz que até hoje a família busca explicações. "A morosidade judicial triplicou o sofrimento", disse.
Ente as 70 ações judiciais, há casos que vão desde a paraplegia à falta de ereção, disfunção urinária, incontinência intestinal a danos morais e psicológicos.
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Camilla Salles, advogada do Escritório Queiroz e Andrade, lembra que quando o réu morre com processo em curso, extingue-se a punibilidade e o processo "morre" também. "Em ações de natureza cível, no entanto, a ação persiste, através dos sucessores". Se já houver sentença indenizatória, que o réu estivesse recorrendo, segundo Camilla, deve ser feita "a sucessão processual". O que se dá através de patrimônios que o réu tinha, se o polo passivo foi feito.
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