Rio - A Comissão de Esportes e Lazer da Câmara Municipal do Rio de Janeiro visitou nesta quarta-feira o estádio Maracanã para avaliar as suas condições de conservação. As informações levantadas servirão para elaborar um relatório e os vereadores pretendem se reunir nesta quinta-feira para agendar uma audiência pública. Eles querem levar adiante a proposta de municipalização não só do estádio, mas de todo o complexo que inclui ainda o Maracanãzinho, o parque aquático Júlio Delamare e o estádio de atletismo Célio de Barros.
“A nossa proposta é apresentar um estudo para a prefeitura com a intenção de municipalizar o complexo sem custos para o município do Rio de Janeiro. Flamengo e Fluminense já demonstraram interesse em administrá-lo. Precisamos entregar para a população o Célio de Barros e o Júlio Delamare. Da forma que está é um abandono total. Acabaram os projetos sociais e esportivos que aconteciam nestes locais”, afirma Felipe Michel (PSDB), presidente da comissão.
Além dele, também participaram da visita os vereadores Ítalo Ciba (Avante) e Luiz Carlos Ramos Filho (Podemos). Conforme um comunicado divulgado após a visita, o estádio está em perfeito funcionamento. Eles encontraram o gramado em excelente estado e as cadeiras das arquibancadas sendo lavadas. Por outro lado, os vereadores observaram uma situação de abandono no parque aquático Júlio Delamare e no Célio de Barros.
Histórico
O Maracanã foi reformado para figurar como a principal sede da Copa do Mundo de 2014 e foi palco da final da competição. Dois anos depois, recebeu partidas nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. Desde a reforma, o estádio passou a ser administrado pelo Consórcio Maracanã, vencedor da licitação pública que teria validade por 35 anos.
No entanto, o consórcio - formado pelas empresas Odebrecht, IMX e AEG - é responsável apenas pelo estádio de futebol e pelo Maracanãzinho. O parque aquático e o estádio de atletismo são geridos pela Superintendência de Desportos do Rio de Janeiro (Suderj), órgão vinculado ao governo estadual.
Em 2015, o Consórcio Maracanã começou a cogitar devolver o estádio ao governo do Rio devido a déficits operacionais. Ao fim dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, a crise ganhou novas proporções. No momento da devolução do estádio pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), o consórcio recusou sob a alegação de que o equipamento não estava nas mesmas condições em que foi cedido.
Abandono
Diante do impasse e com o abandono da estrutura, houve depredações no local. Em janeiro de 2017, um busto de bronze de Mário Filho, patrono do Maracanã, além de dois monitores de televisão, foram furtados. A estátua do jogador Bellini, localizada em frente à entrada principal, foi pichada. Também no início do ano passado, a Justiça considerou que o Consórcio Maracanã continuava responsável pela administração. Uma decisão liminar determinou que o grupo reassumisse a manutenção e cumprisse o contrato. O volume das partidas de futebol, no entanto, foi se tornando cada vez menor, uma vez que os clubes avaliavam que o uso do estádio implicava em altos custos.
O Flamengo fez um acordo com a Portuguesa do Rio de Janeiro para reformar e usar seu estádio: a Arena da Ilha do Governador. Botafogo e Vasco priorizam, respectivamente, São Januário e Engenhão. Neste fim de semana, após quase dois meses sem partida, o estádio sediou o confronto entre Fluminense e Nova Iguaçu. Para além do futebol, o Maracanã vem conseguindo garantir uma agenda de eventos. Em fevereiro, o local foi palco de shows da dupla sertaneja Jorge e Matheus, do cantor inglês Phil Collins e da banda norte-americana Foo Fighters.
Para resolver a situação, a prefeitura já manifestou interesse na municipalização. O Flamengo também já sugeriu assumir o estádio em uma administração compartilhada com o Fluminense, ideia que enfrenta resistência de Vasco e Botafogo. Mas o governo do estado não deu nenhuma sinalização favorável a essas possibilidades.
No ano passado, foi cogitada uma nova licitação. O governo chegou a dialogar com empresas que manifestaram interesse em assumir a administração: os grupos franceses Lagardère e GL Events e a britânica CSM. No entanto, todas elas desistiram avaliando que não havia segurança jurídica. As investigações da Operação Lava Jato sobre a Odebrecht também influenciaram para o recuo das empresas estrangeiras.