Rio - Na estação do metrô da Pavuna, na Zona Norte do Rio, circulam diariamente 44 mil passageiros. O caminho para embarcar no transporte é árduo. Todos precisam enfrentar a desordem urbana e a ausência do poder público. As irregularidades vão desde a venda de produtos roubados e piratas até a comercialização de animais, celulares, tablets e peça de carros, além da exploração de máquinas de caça-níqueis.
Inaugurada em 1998, a estação terminal da Linha 2 é cercada por três grandes complexos de favelas: Chapadão, Pedreira e Acari, todas de facções rivais e principais rotas de roubo de cargas no Rio. O acesso pode ser feito pela Rua Judite Guerra (Lago da Pavuna) ou pela Avenida Pastor Martin Luther King Júnior. Fica ainda a poucos metros da 39ª DP e está na área de atuação do 41° BPM (Irajá).
Na região, há também pontos irregulares de vans e de mototáxi. Como constatou O DIA no cadastro do Detran, alguns automóveis estão com a vistoria atrasada e em péssimas condições de uso. Já os mototaxistas transportam pessoas em motos sem placas, sem capacetes e sem serem incomodados.
Motoristas de ônibus também cometem infrações de trânsito, como estacionar em local proibido, e param fora do ponto. Entre as barracas espalhadas pelas calçadas e nas passarelas de acesso à estação, é possível encontrar também lixo.
CAMELÓDROMO
O DIA comprou em camelôs cinco produtos sem notas fiscais e pela metade do preço encontrado nos supermercados e nas drogarias. As mercadorias são de marcas conhecidas: mortadela (R$ 2, de 200g), amaciante de roupas (R$ 3, de 500ml), repelente (R$ 5, de 100ml), iogurte (R$ 4, de 600g) e xampu (R$ 8, de 200ml). Tudo foi entregue à Polícia Civil, que registrou o caso e abriu inquérito para investigar a procedência.
"Fazemos operações regularmente no entorno da estação da Pavuna. Há olheiros, com radiotransmissores, que avisam da nossa chegada. Peço à população que denuncie e não compre esses produtos para não estimular o roubo de cargas", disse o delegado titular da 39ª DP, Henrique Damasceno.
Investigadores da delegacia contaram que no local são apreendidos produtos roubados e pessoas também já foram presas por receptação. Na calçada da Rua Judite Guerra, por exemplo, há uma feira livre de celulares usados, que incluiu iPhones e outros aparelhos.
Em 2017, foram registrados 10.598 roubos de cargas segundo dados do Instituto de Segurança Pública um caso a cada 50 minutos. Destes, 1.247 ocorreram na área do 41° BPM. De acordo com estudo da Firjan, divulgado em janeiro, o prejuízo foi de R$ 607,1 milhões. Em 2018, o ISP registrou, até março, 1.810 roubos deste tipo, sendo 229 na região do 41° BPM.
DIFICULDADES NA INVESTIGAÇÃO
A opinião dos investigadores é unânime: há uma dificuldade de se investigar produtos roubados vendidos nas ruas. Segundo eles, em um mesmo lote, as mercadorias podem ser comercializadas pelos fabricantes para estados diferentes, o que dificulta a identificação do crime por nota fiscal.
"O produto é apreendido com o camelô porque ele não tem nota fiscal e não por ser uma mercadoria roubada. Por isso, existem as grandes operações contra roubo de cargas. Nesses casos, as investigações estão avançadas", explicou um inspetor.
Os policiais querem a aprovação de um projeto de lei que "torna obrigatório o número de lote, de série ou qualquer outro elemento individualizador do produto, tornando possível a identificação do mesmo". A proposta aguarda parecer da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.
Na sexta-feira, a Polícia Federal prendeu 14 pessoas em uma operação contra uma quadrilha de roubo de cargas. Os agentes atuaram no Rio, Belford Roxo e Duque de Caxias.
ÓRGÃOS DIZEM QUE ATUAM NA REGIÃO
Procurado pelo DIA, o titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), Delmir da Silva Gouvêa, informou, por meio da assessoria de imprensa, que realiza ações para identificar e desarticular quadrilhas que agem no estado do Rio. Ele citou a Operação Expugno II, deflagrada na quarta-feira quando 19 pessoas foram presas nas favelas Furquim Mendes, Dique, Beira Rio e Ficap, na Zona Norte.
Em nota, a Guarda Municipal disse "atuar para desobstruir o espaço público, em apoio aos órgãos fiscalizadores como a Coordenadoria de Controle Urbano (CCU) e a Coordenadoria de Licenciamento e Fiscalização (CLF), em operações de rotina ou integradas com as forças policiais, no caso de áreas de maior risco".
A CCU ressaltou que intensificará as operações. A Secretaria Municipal de Transportes informou que "iniciou a seleção de policiais militares da reserva para recompor a equipe de fiscalização" contra vans e mototáxis.
O Metrô Rio, no entanto, não quis se pronunciar sobre o caso. A Polícia Militar não respondeu aos questionamentos do DIA.