Rio - No dia 16 de maio é comemorado nacionalmente o Dia do Gari, oportunidade para homenagear e reconhecer o trabalho dos responsáveis por manter a limpeza de ruas, hospitais e escolas públicas, parques, praias e demais áreas urbanas. No Rio de Janeiro, além da missão profissional, os trabalhadores da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) viraram ícones de bom humor e cultura carioca, além de transformarem o "laranjinha" dos uniformes, equipamentos e caminhões em parte indispensável da paisagem da cidade. Em homenagem à data, o DIA conversou com cinco de tantos garis emblemáticos do município.
Gari mais famoso do Brasil, Renato Sorriso, 54, comemora seu 23º Dia do Gari desde que entrou na profissão em 1995. "E que venham muitos mais!", desejou ele. Renato, que ganhou fama ao ser escalado para a limpeza do Sambódromo durante o Carnaval carioca, e conquistou o público sambando com sua vassoura, se tornou figura representativa do Brasil em vários eventos no exterior. Para ele, o mais importante, no entanto, é continuar na profissão. "Tudo o que tenho, agradeço aos meus colegas, que quero parabenizar. Nesta data peço que a população tenha mais amor e respeito pelos garis e pelo espaço público - existe preconceito, mas combatemos isso com nosso bom trabalho", afirmou ele, acrescentando que "todo gari é um Renato Sorriso".
Quem também já representou a Comlurb ao lado de Sorriso é a gari Marcielle Adão, 34, na profissão há dez anos. Ela carregou a Tocha Olímpica nos jogos Rio 2016, e dirige as minivarredeiras do Sambódromo no Carnaval. "Entrei na profissão por influência do meu marido, gari há 15 anos. Ele falava com muito entusiasmo da profissão, e decidi fazer o concurso. Demorou dois anos para me convocarem, recebi a carta da Prefeitura na véspera de Natal, enquanto fritava rabanada. Foi meu presente de Deus e de Papai Noel", brincou ela, que é encarregada da limpeza de uma maternidade pública. "Tem muito preconceito. Às vezes olham e perguntam 'por que você não estuda? Vai fazer algo melhor', sendo que é um trabalho digno e honesto. Em limpeza de hospitais, a gente inclusive salva vidas. Sem uma boa limpeza, a operação é impossível", lembrou ela, que é técnica em Patologia Clínica e hoje faz faculdade de Serviço Social.
E pode parecer que a profissão de gari - acessível através de concurso público de nível médio - é para profissionais de baixa qualificação, mas garis técnicos, graduados e até mesmo pós-graduados não são raros. É o caso de Carlos Henrique da Fonseca, 33, na Companhia há três anos e formado em Gestão Ambiental. "Trabalhava como representante comercial em um escritório, e tenho cursos nas áreas de administração, agropecuária, informática, sou bombeiro civil, de tudo um pouco", contou. "E estou satisfeito com a profissão, acho mega divertido, conheço muita gente diferente, e me sinto valorizado. Sofri preconceito ao deixar o escritório apra trabalhar com isso, mas o trabalho é importante", completou ele, que também realiza projetos de sustentabilidade ambiental e tem uma empresa de ecoturismo.
A paixão pela profissão da gari Thaís dos Santos é visível a olho nu: há quase 4 anos na Comlurb, ela tatuou um caminhão de coleta no braço. "Quando fiz 21 anos, ganhei uma tatuagem de presente, e o tatuador falou para eu escolher algo de que gostasse. Foi muito espontâneo dizer que eu gosto é do caminhão em que eu trabalho", disse, empolgada. Ela conta que enfrenta preconceito por atuar no caminhão de coleta, trabalho que, até poucos anos atrás, era exclusivamente masculino. "Eu adoro, porque é um trabalho pesado e eu sou meio hiperativa. Não tenho vergonha do que faço, tudo o que conquistei foi com esse trabalho. Sempre tem preconceito, mas a maior parte das pessoas admira e respeita. As crianças acham legal, até os bebês, quando vêem o laranja da roupa, ficam felizes, gosto muito do carinho que os cidadãos têm pela gente", comemorou.
A rotina pesada é comum a todos eles. O gari Jorge Filho, 32, que também é lutador, sai diariamente de casa no Realengo, Zona Oeste, rumo a Acari, na Zona Norte, onde dá aula de luta para crianças em um projeto social. Depois do descanso, segue para a Rocinha, onde trabalha no caminhão de coleta, e após o fim do expediente volta a Acari para encerrar as aulas da noite. "O gari é um funcionário público amado, a cidade tem necessidade do nosso trabalho. Não dá para imaginar o Rio de Janeiro sem esse cara de laranja passando no fundo", riu ele. Segundo ele, o trabalho pesado vale a pena pela contribuição com a comunidade. "Dou conta das duas coisas por isso. Contribuo com a cidade, e posso me dedicar a dar oportunidades a crianças, criando atletas ou, no mínimo, campeões como seres humanos, que é o mais importante", afirmou.
Evento em comemoração
Em homenagem à data, a Comlurb promove uma festa na Cinelândia nesta quarta-feira, a partir das 10h. Garis de várias áreas vão demonstrar suas atividades - como por exemplo os garis alpinistas, treinados pela Defesa Civil para usar equipamentos de rapel. O grupo Chegando de Surpresa, que faz música e dança para educar sobre questões ambientais; e o gari Renato Sorriso, vão ajudar a dar o clima do evento.
Para o presidente da Comlurb, Tarquinio Almeida, é importante aproveitar a data para aproximar a população do gari. "Ele está sempre presente nos momentos importantes da cidade. Hoje é uma profissão mais valorizada, extremamente importante, e as pessoas têm consciência", afirmou. Segundo ele, o próximo concurso para reposição de funcionários pode receber meio milhão de inscrições.