Rio - Cerca de 200 pessoas, entre familiares e amigos, se despediram, na tarde desta quinta-feira, de Soraia Macedo de Lemos, a jovem de 17 anos morta com tiro na cabeça durante assalto no Jardim Carioca. O enterro aconteceu no Cemitério da Cacuia, também na Ilha do Governador. A mãe da vítima, Cristiane Gomes Macedo, era a imagem do desespero no momento em que o caixão foi fechado. Dezenas de pessoas usavam camisas brancas e exibiam cartazes para protestar contra a violência na cidade.
"Eu quero minha filha de volta. Não fecha a tampa (do caixão), ela vai levantar daí", disse ela, aos prantos. "Que essa minha dor não se repita com mãe nenhuma. Que a vida da minha filha seja o basta. Que não aconteça mais com filho de ninguém. Que a justiça venha fazer por si. Espero que a justiça seja feita de verdade e que isso pare", completou. Após a cerimônia, grupo de aproximadamente 50 pessoas seguiu em passeata até a 37ª DP (Ilha) aos gritos de "justiça". Um dos cartazes levados pelas pessoas tinha a seguinte frase:
"Quantas pessoas teremos que perder para alguém acordar e tomar uma atitude?". As estradas do Cacuia e do Galeão foram interditadas no sentido Centro do Rio durante o trajeto, causando um grande engarrafamento. O grupo saiu da 37ª DP e seguiu para o colégio onde a menina estudava.
A aposentada Zilda Cristina de Assis, de 38 anos, disse que saiu da Ilha por conta da violência. "Minha neta, que era amiga da Soraya já foi assaltada aqui na Ilha. Conhecia Soraya desde pequena pela amizade que ela a tinha com a minha neta. Ela me chamava de 'vó'.
"Queria que o presidente da República, Michel Temer, olhasse para a segurança do Rio e que o Congresso estivesse atento ao que está acontecendo na nossa cidade."
'É cruel, desesperador', diz namorada da vitima
N., de 21 anos, namorada da jovem e testemunha do crime, narrou os momentos de terror vividos pelas duas naquela noite. Segundo ela, a última palavra de Soraia foi “amor”.
“É desesperador, é cruel. Não pelo roubo, mas pelo prazer que ele teve de tirar uma vida”, disse.
Amiga de Soraia, Ingrid Santos, de 15, lembrou que a vítima era uma pessoa muito emotiva:
"O apelido dela era 'Chorinho' justamente por causa disso. Ela tinha o sonho de trabalhar para ajudar a mãe", contou.
Na madrugada desta quarta-feira, Cristiane fez um longo e emocionante desabafo em uma rede social. “Filha, sempre quis o melhor para você. Te abracei sempre que precisou dos meus braços. Tentei te dar meu melhor. Choramos e rimos juntas. Te aconselhei em tudo em sua vida. Sempre tive orgulho de ter você como filha. Sou muito apaixonada por você. Parece que é mentira que vou acordar e não te ver mais. A ficha ainda não caiu. Meu eterno chorinho, minha menina boba levada. Arrancaram um pedaço de mim. Não sei o que vai ser de mim agora. Apenas 17 anos sonhando em ficar de maior. Uma menina cheia de esperança e com um futuro brilhante pela frente", escreveu.
Segundo informações, a adolescente e sua namorada estavam a cerca de 300 metros do colégio onde a vítima estudava, quando foram abordadas pelos bandidos em uma moto, por volta de 19h. Soraia entregou o seu aparelho, mas os bandidos dispensaram quando viram se tratar de um iPhone. Eles pediram, então, o smartphone da outra jovem, que demorou pra entrega-lo. Antes da fuga, o único criminoso armado apontou para a cabeça de Soraia e efetuou o disparo.