Lopes (esquerda) depôs aos deputados da CPI da Alerj em Brasília - Tiago Prata/Divulgação
Lopes (esquerda) depôs aos deputados da CPI da Alerj em BrasíliaTiago Prata/Divulgação
Por CÁSSIO BRUNO

Rio - O ex-secretário estadual de Transportes do Rio, Júlio Lopes, admitiu nesta segunda-feira (21) que não tinha conhecimento na área para assumir o cargo, em 2007. Atual deputado federal pelo PP, ele disse ter sido indicado à pasta pelo vice-governador Francisco Dornelles, presidente regional do partido. As declarações foram dadas em Brasília no depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), que investiga irregularidades no transporte fluminense.

Segundo Júlio Lopes, o ex-governador Sérgio Cabral (MDB), preso por corrupção, foi alertado para o fato da falta de capacitação especializada em transporte público. No entanto, afirmou o deputado, Cabral teria dito que a escolha se daria por "mera indicação política".

"Mas eu estudei profundamente o assunto desde o dia da minha indicação. Hoje, eu me sinto capacitado para discutir o tema", ressaltou Lopes, que comandou a secretaria até 2014.

No depoimento, o deputado jogou toda a responsabilidade em Sérgio Cabral nas decisões relacionadas à realização de obras, reajustes de tarifas, licitações de linhas intermunicipais de ônibus, isenções fiscais a empresários do setor e o sucateamento dos bondes de Santa Teresa. De acordo com Lopes, tudo passava, primeiro, pelo crivo do ex-chefe da Casa Civil Regis Fichtner, e, em seguida, o martelo era batido pelo próprio ex-governador.

Entre as polêmicas, está a construção da linha 4 do metrô, que liga a Zona Sul do Rio à região da Barra da Tijuca. Segundo as investigações da Operação Lava Jato, Sérgio Cabral teria recebido R$ 50 milhões de propina da Odebrecht. Em delação premiada, um executivo da empresa declarou que Julio Lopes teria embolsado R$ 4 milhões. O deputado negou.

"Não autorizei a compra de nenhum parafuso. Não era da minha competência. Os atos de gestão estavam subordinada à Casa Civil. A única coisa que eu fiz foram três aditivos de adequações após estudos realizados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). No fim, todas as autorizações eram feitas pelo ex-governador", disse Lopes. "Foram mais de 40 reuniões do comitê de gestão da linha 4 para a contratação de serviços. Sabe de quantas participei? Nenhuma", completou.

As obras da linha 4 do metrô foram idealizadas em 1998 no governo Marcelo Alencar, quando o edital foi vencido pela empreiteira Queiroz Galvão. À época, tinha um custo de R$ 880 milhões. O projeto era considerado fundamental para a mobilidade de passageiros durante os Jogos Olímpicos de 2016. Em 2009, Cabral retomou a ideia e a Odebrecht entrou no consórcio. O valor final ficou em R$ 9,6 bilhões, conforme as investigações da Lava Jato.

"O ato que autorizou a entrada da Odebrecht no consórcio foi do ex-governador", afirmou o parlamentar.

Bens continuam bloqueados

Julio Lopes ainda responde por improbidade administrativa por causa do acidente, em 2011, que matou seis pessoas e feriu outras 57 no bonde de Santa Teresa. Os bens do deputado continuam bloqueados. Ele foi responsabilizado pelo Ministério Público pelo ocorrido. As obras de melhorias do bonde foram paralisadas, conforme revelou O DIA no último dia 7.

"O ex-governador, na verdade, queria municipalizar (o serviço do bonde)", revelou Lopes, lembrando não ter posto a culpa do acidente no motorneiro.

O depoimento de Julio Lopes foi acompanhado pelos deputados estaduais Eliomar Coelho (Psol), presidente da CPI; Gilberto Palmares (PT) e Nivaldo Mulin (PR).

"O depoimento deixou vários pontos de interrogação. Ele (Julio Lopes) respondeu as perguntas, mas se eximiu de qualquer responsabilidade. Foi um negócio bem esquisito", avaliou Coelho.

O presidente da CPI contou que o próximo passo será cruzas as informações das investigações com a fala de Julio Lopes.

"Tudo o que aconteceu de ruim e que ainda acontece nos transportes do Rio ele não teve qualquer contribuição? Faremos o cruzamento de informações e continuaremos a investigar", disse Eliomar Coelho.

 

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