Oferenda foi deixada dentro de ônibus do BRT - Reprodução / Facebook Bangu Ao Vivo
Oferenda foi deixada dentro de ônibus do BRTReprodução / Facebook Bangu Ao Vivo
Por FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Usuários do BRT (Transporte Rápido por Ônibus), supostamente de uma das linhas que circulam pela Zona Oeste, se surpreenderam com um inusitado ebó (oferenda no candomblé e seitas afins, que envolve sacrifício ou não de animais, em dedicação a um orixá ou oferenda feita em sua intenção) deixado entre os bancos de um dos articulados. A imagem de um alguidá (vasilha circular de barro), contendo um frango, foi publicada pelo perfil no Facebook "Bangu ao Vivo", mas sem mencionar a data em que foi feita.

Pouco mais de 24 horas depois, a postagem já havia alcançado 1,2 mil comentários e 6,5 mil compartilhamentos. Alguns internautas condenaram o abandono do despacho dentro do veículo, criticando "a falta de segurança" do sistema. "E se fosse uma bomba?", questionou Paulo Roberto da Silva. Outras pessoas levaram o assunto na brincadeira. "Certamente eu levava esse frango pra casa . Virava canja ou frango a passarinho", comentou Roni Freitas. "Deve ser macumba pro motorista", especulou outro usuário. "Macumba ambulante", disse mais um internauta. 

Em nota, a administração do BRT alegou que, apesar das câmeras instaladas nos vagões e estações, a empresa ainda não identificou o número de ordem do articulado e nem o dia e a hora em que a oferenda foi deixada. "Mas o procedimento para uma ocorrência dessa natureza é a retirada do carro de operação para que a empresa responsável pelo articulado faça imediatamente sua limpeza e manutenção", ressaltou o texto.

Antropóloga diz que caso é tentativa de denegrir e agredir religiões afros

A antropóloga e pesquisadora de religiões de matrizes africanas do Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos (Ineac/UFF), Rosiane Rodrigues, afirmou ao DIA, por sua vez, que o a colocação da oferenda no ônibus é inusitada, "mas não inocente". Para ela, o suposto ebó foi abandonado no BRT de propósito, na tentativa de agredir e denegrir religiões de matrizes africanas.

"Desconheço que um ebó deva ser deixado dentro de ônibus, ou qualquer lugar que não seja ligado à natureza ou a algum caminho (estrada, encruzilhada, cemitério, entre outros). É estranho uma provocação desse tipo, justamente às vésperas do julgamento do Superior Tribunal Federal (STF), que no dia 9 de agosto, vai julgar a possibilidade de criminalizar abates religioso nos terreiros", alertou Rosiane.

Para Rosiane, pela forma que deixaram o animal morto no ônibus, não se trata de abate religioso. Ainda mais porque demonstra que quem fez, não entende de ebó, pelo simples fato de o frango estar inteiro. Nos rituais verdadeiros, a carne do animal não é desprezada, mas serve para alimentar pessoas da comunidade. Somente algumas partes como pés, cabeças, ponta das asas e rabo, são entregues em oferendas", detalhou.

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