Rômulo foi morto por traficantes enquanto prestava um serviço para Cedae, em São Gonçalo  - Reprodução Facebook
Rômulo foi morto por traficantes enquanto prestava um serviço para Cedae, em São Gonçalo Reprodução Facebook
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - Muito abalados, familiares e amigos de Rômulo Farias Silva, de 24 anos, estiveram na manhã desta quinta-feira, no IML de Tribobó, em São Gonçalo, na Região Metropolitana, para liberar o corpo do técnico do consórcio Módulo, que prestava serviço para a Cedae. Ele foi morto nesta quarta-feira, por traficantes quando foi fazer o corte de água por falta de pagamento em uma residência. "Foi uma tremenda covardia", declarou um amigo do jovem. 

Morador do bairro de Santa Catarina, em São Gonçalo, Rômulo Farias tinha o sonho de se formar em Direito e abrir um escritório de advocacia. No entanto, o desejo do jovem não foi concluído. Ele foi morto no terceiro dia de trabalho. "Era o sonho dele. Nossos amigos que advogam sempre o apoiaram e o incentivaram", lembra o montador de vidraças Rafael Sales, 28, amigo de infância do estudante, que estava no sétimo período do curso na Universidade Salgado de Oliveira (Universo).

O estudante de Direito também gostava muito de veículos, segundo os amigos."O carro era a paixão dele", conta Gabriel Meireles, 23 anos. Quando foi morto, Rômulo estava em uma Yamaha Crosser 150 cilindradas, do pai.

De acordo com os amigos, ele foi baleado no abdômen. "Isso não pode ficar assim. Um cara sonhador, batalhador e que perde a vida assim. O meu amigo estava uniformizado. Estava com a roupa da empresa", completa Rafael Sales.

Dona Danielle, mãe de Rômulo, amparada por uma amiga - Rafael Nascimento/ Agência O Dia

 

Havia acabado de se formar em bombeiro hidráulico

Rômulo Farias tinha acabado de se formar no curso de bombeiro hidráulico. Antes de trabalhar no Consórcio Módulo, que presta serviços para a Cedae, o rapaz ajudava o pai em uma serralharia no bairro Boa Vista. "Não era todos os dias que ele ia. Às vezes o seu Cosme (pai do rapaz) precisava de alguma ajuda e ele ia", conta Rafael.

Dona Danielle, mãe do jovem, com a dor de perder o filho mais novo, teve que reconhecer o corpo. Muito abalada, e amparada por amigos e familiares, ela não conseguiu falar com os jornalistas. Rômulo será sepultado nesta sexta-feira, às 13h, no Cemitério de Marui, no Barreto, em Niterói.

Amigos criticam demora do Corpo de Bombeiros

Para os parentes e amigos do técnico a demora da viatura do Corpo de Bombeiros foi o principal fator da morte do jovem. "Após o Rômulo ser baleado, ele pilotou por mais 300 metros e caiu. Os bandidos ainda continuaram atirando. O meu amigo ficou lá no chão e ninguém foi ajudar. Acredito que se o socorro tivesse chegado rápido, ele poderia estar vivo", afirma Rafael. "É preciso priorizar a vida e não o protocolo. A culpa da morte dele é do Corpo de Bombeiros", completa.

"O nosso estado está assim. É violência para todo lado. A gente não imagina que vai acontecer com um dos nossos. Quando acontece, vemos como estamos abandonado pelo estado" finaliza o amigo de Rômulo.

Equipes são impedidas de entrar em bairros de São Gonçalo

Segundo um colega de Rômulo, que também é prestador de serviço para a Cedae e pediu anonimato, hoje a empresa não pode entrar em mais de 90% de São Gonçalo. "Infelizmente, quando se trata de São Gonçalo, a gente tem que priorizar os serviços. Os funcionários que fazem os trabalhos são aqueles que moram lá na região e conhecem os locais", afirma um técnico.

De acordo com ele, no Jardim Catarina ninguém da empresa pode entrar atualmente. Já no Jóquei, 90% do bairro não é visitado pelos técnicos. Consertos; cortes de água e ligação não estão sendo feito em alguns bairros. "Temos problemas em Porto da Pedra, Arsenal, Boa Vista, Tribobó, Zé Garoto e Maria Paula", lembra.

"O tráfico não mexe com a gente que anda a pé. Pois, acredito que eles pensam que não oferecemos risco. De carro, caminhão ou até mesmo moto, nem pensar. Eles não permitem", diz. De acordo com o homem, no local onde Rômulo foi alvejado, o tráfico só atua no final da rua. "Lá eles só mexem no final da rua. A gente sabe que tem (o tráfico) e por isso a gente só atua do começo até o meio da via", conta. "Agora estamos vendo que lá (em Maria Paula) as coisas estão piorando."

O DIA fez algumas perguntas para a Cedae em relação às acusações dos funcionários. Por e-mail, a reportagem perguntou se as denúncias procediam. Algumas das perguntas feitas: “quais são os protocolos de segurança que a empresa toma para proteger a vida de seus funcionários/prestadores? Neste ano quantas equipes da Cedae foram agredidas no estado e em São Gonçalo? Existe algum levantamento de agressões (contra funcionários/prestadores)?”

Sem responder às perguntas, a Cedae disse que “orienta empregados e prestadores de serviço da empresa a retornarem às unidades de trabalho caso o serviço para o qual foram deslocados não possa ser executado de forma segura”. Por fim, a concessionária de água disse que “não procede a informação de que 90% dos serviços no município de São Gonçalo não estejam sendo feitos em decorrência da falta de segurança”.

Parentes e amigos lamentam nas redes sociais

Parentes e amigos de Rômulo usaram as redes sociais, nesta quinta-feira, para lamentar o ocorrido. A irmã da vítima compartilhou diversas publicações lamentando o ocorrido: "Por que fizeram isso com você? Por que logo você? Juro que tô tentando, mas não tô aguentando, volta por favor. É tudo mentira", disse um em post.

"Me diz que tudo isso é mentira e volta pra casa logo, não estou mais aguentando. Volta irmão, pfvr, sei que não é verdade, cadê você?! Eu te amo tanto, só quero você aqui comigo", escreveu. "Deus sabe o que foi melhor pra ele, meu irmão está no melhor lugar".

Amigos da vítima também se manifestaram: "É meu brother, não dá para acreditar que você se foi, esse mundo de injustiça que nós vivemos. Não conseguimos acreditar que você, um cidadão do bem, trabalhador, se foi. Você estará para sempre em nossos corações", lamentou um amigo.

"Difícil acreditar que isso tenha acontecido com você, meu parceiro. Sábado a gente estava junto soltando cafifa e hoje recebo essa triste notícia que você se foi! Que Deus conforte os corações de sua família. Descanse em paz!", escreveu outro.

Sobre o crime

Rômulo foi morto quando foi realizar um corte de água em uma residência por falta de pagamento, acompanhado de um colega. O crime aconteceu na Estrada de Paciência, esquina com a Rua Eucaliptos, no bairro de Maria Paula. Os dois avistaram os bandidos armados se aproximando e começaram a se afastar para sair da comunidade. 

De acordo o delegado Gabriel Poiava Martins, da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DH-NSG), três homens armados, cada um em uma moto, teriam abordado as vítimas antes deles chegarem ao local. "Tudo isso aconteceu às 13h, de ontem, segundo a principal testemunha", diz o delegado. "O sobrevivente afirma que, ao notarem os traficantes, ambos tentaram voltar, mas Rômulo foi atingido. O técnico afirma que escutou quatro ou cinco disparos. Em depoimento, ele disse ainda, que todos os criminosos estavam armados. Acreditamos que eles estavam com pistolas."

"Ainda de acordo com a testemunha, ele seguiu para pedir socorro. Encontrou os policiais e foram eles que chamaram o resgate", completa o delegado. O jovem chegou a ser levado com vida para o Hospital Estadual Alberto Torres (Heat) por uma ambulância do Corpo de Bombeiros. No entanto, morreu durante uma cirurgia.

De acordo com Gabriel, tudo indica que foram integrantes de uma facção criminosa que atua naquela região. "Estamos com equipes na rua para encontrar esses criminosos. Segundo o relato, os executores mandaram eles pararem, mas os técnicos não obedeceram e tentaram fugir. Estamos atrás de possíveis câmeras de segurança para tentar identificar os bandidos", diz. 

"Vamos confrontar as imagens para saber se houve omissão de socorro. Queremos ouvir novamente os envolvidos. Acreditamos que existam outras testemunhas que tenham visto o que aconteceu. Vamos tentar achar essas pessoas para elas nos ajudarem na identificação dos três criminosos", completa o delegado.

 

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