Rômulo foi atingido por pelo menos dois tiros enquanto realizava um serviço  - Reprodução Facebook
Rômulo foi atingido por pelo menos dois tiros enquanto realizava um serviço Reprodução Facebook
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - No jogo de empurra entre a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros, quem sofre é a família de Rômulo Farias Silva, de 24 anos, que trabalhava como técnico de empresa terceirizada prestadora de serviço da Cedae, em São Gonçalo. Esse impasse pode ter custado a vida do rapaz. O jovem foi baleado na tarde desta quarta-feira, na Estrada de Paciência, esquina com a Rua Eucaliptos, no bairro Maria Paula.

Tudo começou quando Rômulo e um colega seguiam para cortar a água de uma casa na região. No entanto, a dupla foi abordada por pelo menos cinco criminosos, que ordenaram que eles parassem o serviço. Rômulo e o colega não obedeceram e tentaram fugir. Na tentativa de sair do local, o homem levou pelo menos dois tiros.

Mesmo ferido, o rapaz conseguiu pilotar a moto por mais 300 metros e caiu. De acordo com parentes do rapaz, eles chamaram o Corpo de Bombeiros. Uma testemunha contou que, ao chegar ao local, um bombeiro disse que não poderia fazer o resgate, alegando estar sem ambulância e sem equipamento adequado. E mais: teria dito que só entraria na comunidade com a PM. Houve bate-boca, e o bombeiro decidiu acionar a Polícia Militar.

Minutos depois, PMs, em duas motocicletas, chegaram ao local. Uma nova discussão ocorreu, e um policial militar teria dito que não poderia fazer nada, pois "não tinha condições de prestar auxílio naquele momento". A testemunha, então, se prontificou a buscar Rômulo dentro da comunidade. Nem isso fez com que o Corpo de Bombeiros levasse o rapaz ao hospital. No bate-boca, o bombeiro deu voz de prisão para a pessoa que tentava salvar Rômulo.

“Quando eu pedi uma maca para tirá-lo (o Rômulo) da comunidade e levá-lo para onde eu estava, o bombeiro me deu voz de prisão. Foi quando eu peguei o telefone e comecei a filmar. Foi muita negligência, foi um abuso de autoridade e omissão de socorro por militares que não deveriam nem usar a farda”, contou. “É nessas horas que a gente vê que não está nem um pouco amparado pela polícia. Nem pelo bombeiro, nem por nenhuma outra autoridade”, disse.

Rafael Sales, de 28, amigo de infância do estudante, acredita que o rapaz poderia estar vivo se o Corpo de Bombeiros tivesse agido e o levado ao hospital. "Acredito que se o socorro tivesse chegado rápido, ele poderia estar vivo”, afirma Rafael. “É preciso priorizar a vida, e não o protocolo. A culpa da morte dele é do Corpo de Bombeiros”, completa.

O DIA procurou a Polícia Militar. Segundo a corporação, policiais militares foram ao local e avistaram o funcionário ferido, que "não tinha como ser socorrido pelas motopatrulhas". Segundo a PM, uma ambulância do Corpo de Bombeiros e uma patrulha foram acionadas. Ainda de acordo com a PM, a ambulância chegou cerca de 20 minutos e a vítima foi socorrida para o Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo. Ainda de acordo com o comunicado, a PM não omitiu socorro ao técnico que trabalhava para a Cedae.

De acordo o delegado Gabriel Poiava Martins, da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, as imagens do vídeo serão confrontadas com os depoimentos das testemunhas para saber se houve omissão de socorro. Ainda de acordo com o delegado, os socorristas poderão ser chamados para prestar depoimento.

Corpo de Bombeiros diz que não houve omissão de socorro

Mesmo com vídeo, que mostra o militar do Corpo de Bombeiros dizendo que não iria socorrer o jovem — por falta de maca, de uma ambulância adequada e alegando falta de segurança, a assessoria de imprensa da corporação disse que “não houve omissão (de socorro) e falta de equipamentos”.

Segundo o órgão, “a viatura que aparece no vídeo estava se deslocando para atender outra ocorrência na região, quando se deparou com o incidente. A equipe parou e acionou a ambulância, que é a viatura adequada para socorrer uma pessoa baleada”.

A corporação, no entanto, não explica a atitude do militar que deu voz de prisão para o rapaz que tentava socorrer Rômulo e nem se vai abrir uma sindicância para apurar sua conduta.

O órgão disse que “classifica as áreasderiscocomo áreasdeconflitos previsíveis (que o conflito está acontecendo) e áreasdeconflitos imprevisíveis (aquelas em há probabilidadedeocorrer um conflito). Trata-sedeuma análise subjetiva, que deve levar em conta, entre outros fatores, o dia, o local e a hora da ocorrência”, afirma o comunicado.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, “em casodeocorrências registradas nessas áreas, o objetivo da corporação é garantir que o atendimento seja prestado, sem descuidar do zelo pela integridade física dos militares. Assim, um protocolo interno é seguido. A equipe desocorro da corporação que não se sentir segura em ingressar em determinadaárea, para qualquer tipo deatendimento, pode acionar apoiopolicial”. Na nota a assessoria deixa a entender que o militar do vídeo não foi ao local socorrer Rômulo por “não ter se sentido seguro”.

Por fim, a corporação disse “que está à disposição para contribuir com a investigação da Polícia Civil”.

Você pode gostar