Filho filmou a mãe em uma cadeira de rodas a espera de atendimento, enquanto médica mexia no celular - Reprodução vídeo
Filho filmou a mãe em uma cadeira de rodas a espera de atendimento, enquanto médica mexia no celularReprodução vídeo
Por ADRIANO ARAÚJO

Rio - Uma mulher de 54 anos morreu após ter atendimento negado na emergência do Hospital Getúlio Vargas, na Penha, na Zona Norte do Rio. O caso aconteceu no último sábado, quando Irene de Jesus Bento  deu entrada na unidade, acompanhada pelo filho, com falta de ar e dor no corpo. As acusações de negligência no socorro à mãe foram feitas por ele. A polícia investiga o caso.

Após esperar por cerca de meia hora por atendimento, o filho de Irene de Jesus Bento resolveu filmar o que estava acontecendo na unidade: funcionários parados, sem realizar atendimento, enquanto a mãe esperava com dor pelo atendimento. Entre os funcionários estava uma médica, que estava sentada usando o celular. 

"Eu já estava desesperado, ela estava muito mal, não conseguia levantar, nem falar, se contorcia na cadeira. Quando vi que não iam chamar, fui na sala. Aí foi a maior ignorância, ela (a médica) bateu duas vezes na mesa, dizendo que a ficha tinha que chegar na mesa dela. Não sei o que aconteceu, mas houve um descaso de todos ali. Só uma investigação para saber quem errou ali", disse Rangel Luiz Marques da Silva, de 35 anos.

Segundo Rangel Luiz Marques da Silva, de 35 anos, eles chegaram no Getúlio Vargas por volta das 14h e a triagem teria sido feita por uma recepcionista, que mediu a pressão de sua mãe e disse que ela "não tinha nada". "Depois veio a enfermeira-chefe, perguntou se minha já tinha sido atendida. Ela disse que não atendia caso que não fosse grave, somente se fosse baleado ou algum acidentado muito grave. Falou que a pressão estava 14 por 8, normal,e mandou embora", disse, falando que a mãe estava se sentido muito mal.

Dona Irene deixou 7 filhos e nove netos - Arquivo Pessoal

"Disseram que ela estava 'respondendo aos movimentos'. Como alguém pode estar respondendo aos movimentos numa cadeira sem conseguir andar, respirar?", questionou. Ele afirma que começou a filmar os profissionais após a mãe piorar e não ser atendida.

Após serem liberados, por conta própria, decidiu levar a mãe à UPA que fica ao lado do hospital. Ele conta que chegou com Irene à Unidade de Pronto Atendimento às 15h17, onde começou novamente a triagem para saber o que ela tinha. No local, segundo o filho, ela piorou e, após dar entrada na sala amarela, foi encaminhada para o setor vermelho, para pacientes mais graves. "Ela precisou ser amarrada, ficou muito nervosa, não conseguia respirar. Depois de sofrer três paradas cardíacas, decidiram encaminhar novamente ela para o Getúlio Vargas, por volta das 23h. Vinte minutos depois ela faleceu", falou.

Um dia antes de procurar o Getúlio Vargas, o homem que faz frete e vende água na Ceasa disse que esteve com a mãe no PAM de Irajá. "Lá aplicaram dipirona e disseram que, se ela não melhorasse, era para voltar em quatro dias. Mas no sábado ela piorou." Segundo Rangel, a mãe estava com um caroço no pescoço, que cresceu muito de sexta-feira para o sábado. Ele afirma que sinalizou que a falta de respiração dela seria por conta do caroço, mas que não fizeram nada.

O filho de Irene se culpa por não ter conseguido ajudar a mãe, mas disse que quem realmente poderia salvá-la não fez nada. "Quem tinha o poder não fez. Não conseguimos fazer nada por ela, a gente fica se lamentando. Ela ficou nos meus braços e não pude fazer nada. Eles negaram todo tipo de socorro, eles não tem sentimento", lamenta, emocionado.

Rangel disse que ainda não foi procurado por ninguém da Secretaria Estadual de Saúde e nem do Governo do Estado para falar sobre o caso. "Vamos processar o estado, agora vamos lutar por Justiça para não ficar impune e não acontecer com outras pessoas. Se ninguém fizer nada, vai continuar acontecendo", criticou. Ele também registrou o caso na 38ª DP (Brás de Pina).

Ela deixou 7 filhos e nove netos, um deles completaria um ano e estava sob a sua guarda. O caso de Irene foi divulgado inicialmente pela TV Record. Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde, que responde pelo Hospital Getúlio Vargas, disse que a direção da unidade "lamenta o ocorrido e informa que tomará as providências para que os envolvidos sejam responsabilizados." A reportagem fez uma série de perguntas, mas ela não foram respondidas.

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