Jorge Ferreira, o Bigode, trabalhava há quase três décadas no Colégio Nossa Senhora do Amparo - Reprodução
Jorge Ferreira, o Bigode, trabalhava há quase três décadas no Colégio Nossa Senhora do AmparoReprodução
Por FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Comandado por pacatas irmãs Franciscanas, um dos colégios particulares mais tradicionais e caros do Sul Fluminense, o Nossa Senhora do Amparo - que dá nome à congregação Católica das madres -, em Barra Mansa, está vivendo nesta quarta-feira, pela primeira vez em 76 anos de fundação, um dia de protestos enfurecidos de pais e alunos da instituição. O pivô do movimento, que já alcançou as ruas, e deixou o trânsito lento no Centro, e a internet, obrigando a direção da instituição a reforçar a segurança em sua entrada principal, é um bigode. Ou melhor, a mobilização é em defesa de um ex-funcionário, o porteio Jorge Soares, de 59 anos, mais conhecido como Jorge Bigode.

Segundo os manifestantes, o bigodudo Jorge teria sido demitido pela direção do colégio, que tem à frente a irmã Verônica Maciel, a pedido da mãe de um estudante, supostamente advertido por ele, por ter deixado o carro parado por 20 minutos em local impróprio, atrapalhando o trânsito em frente à unidade.

Por volta de meio-dia, carregando faixas e cartazes, e usando grandes bigodes postiços, pelo menos 70 pais e filhos se uniram em um uníssono e repetitivo grito: “volta Bigode!”. Em seguida, o grupo saiu em carreata até o bairro Vila Coringa, onde Jorge reside e recebeu solidariedade. O protesto, intitulado #Somostodosbigode, segundo os organizadores, poderá se repetir nos próximos dias, caso a direção do colégio, que tem mais de 500 estudantes, entre o ensino infantil e médio, com mensalidades que alcançam até quase R$ 1 mil, não readmita o “querido Bigode”, como é carinhosamente tratado.

Em entrevista ao DIA, Jorge contou que fora demitido no dia 18, depois de ter chamado a atenção de uma mulher que estacionara em local indevido. Faltando contados dois anos e cinco meses para se aposentar, o porteiro disse que, com “vergonha de contar para parentes e vizinhos” que havia sido demitido, chegou a sair uniformizado, sem rumo de casa, voltando na hora que costumava chegar.

“Poxa, uma demissão é humilhante, né?. Senti vergonha mesmo. Mas tenho minha consciência tranquila, que não fiz nada de errado. Na volta às aulas, os pais levaram um susto ao saberem que eu havia sido dispensado”, contou Jorge, que durante todo o dia nesta quarta-feira, recebeu visitas solidárias de pais, alunos e professores. “Esse carinho é que tem me recompensado”, diz ele, que é separado e tem quatro filhos e sete netos

A direção do colégio, que tem como lema “Ser Amparo”, ainda não retornou aos telefonemas e e-mail do DIA, solicitando suas considerações sobre o episódio. De acordo com uma representante estudantil, porém, irmã Verônica, que estaria assustada com a repercussão que o assunto está tomando, teria prometido repensar a readmissão de Jorge e dar uma resposta até sexta-feira.

Nas redes sociais, o assunto alcança cada vez mais audiência e, consequentemente, indignação. “O lema do colégio soa como ironia. Perdemos um amigo fiel dos nossos filhos”, escreveu um internauta. “Engasga a garganta e dói a alma, tamanha covardia...com um profissional, um pai de família, ser humano e acima de tudo, responsável por cuidar de várias gerações que por aquela portaria passaram”, postou outro internauta, relembrando as frases mais comuns no dia a dia, na entrada e saídas dos estudantes: “Amarra o tênis, menino!”; “Vamos, vamos, tem outro carro vindo atrás!”; e “Cuidado ao atravessar rua, olha para os lados!”.

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