Moradores colocaram um corpo em carrinho de carga e levaram para a Avenida Brasil, que teve uma de suas pistas fechadas na terça-feira - Estefan Radovicz / Agência O Dia
Moradores colocaram um corpo em carrinho de carga e levaram para a Avenida Brasil, que teve uma de suas pistas fechadas na terça-feiraEstefan Radovicz / Agência O Dia
Por Bruna Fantti

Rio - Em uma semana, 12 pessoas foram mortas na cidade do Rio em operações policiais. Dessas, nove não resistiram após serem atingidas por balas perdidas. A polícia assumiu a autoria de quatro óbitos, que foram registrados pela Polícia Civil como "morte em decorrência de oposição policial".

O DIA teve acesso aos registros de ocorrência feitos no estado nos primeiros nove dias de novembro. Foram assumidas, por policiais militares, 26 mortes em confronto, ou seja, quase três mortes por dia em operações. O maior número de embates entre policiais e supostos criminosos ocorreu na capital, com sete mortes registradas na Delegacia de Homicídios (DH).

Na madrugada de terça-feira, cinco pessoas morreram após uma operação da PM com a justificativa de acabar com a reunião de chefes do tráfico. Somente uma das mortes foi assumida pelos militares: a de Marcos Paulo Fernandes Mota, que não possuía antecedentes criminais.

O tenente que assumiu a autoria da morte em confronto chamou a atenção dos agentes da DH pelo sobrenome: Principe. Segundo os policiais, ele é filho do coronel reformado Fernando Principe Martins. Em 2010, o coronel Principe, que já foi comandante do Bope, foi exonerado do comando do 9º BPM (Rocha Miranda) após Wesley Guilber de Andrade, de 11 anos, morrer atingido por um tiro de fuzil no peito dentro da sala de aula no Ciep Rubens Gomes, em Costa Barros. Na hora da tragédia, PMs da unidade de Rocha Miranda faziam uma operação. Um Espaço de Desenvolvimento Infantil foi batizado com nome de Wesley como homenagem.

À frente do batalhão na época, o coronel Principe avaliou que a morte da criança se tratou de algo inevitável. "O pior é não realizar operações", disse. A autoria da morte do menino nunca foi esclarecida.

As outras quatro mortes na Maré foram registradas como autoria indefinida. A Defensoria Pública classificou a operação na Maré como ilegal.

Mortes em confronto crescem 44%

O alto número de mortes em operações policiais nos primeiros nove dias de novembro corrobora para o que os índices criminais já apontam neste ano: o aumento do número de mortes em confronto com a polícia.

De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), de janeiro a setembro de 2018 foram 1.181 mortes desse tipo, um aumento de 44% em comparação com o mesmo período de 2017.

Para Silvia Ramos, coordenadora do Observatório da Intervenção, a expectativa era de que a presença das tropas federais diminuísse os índices criminais. No entanto, há falta de gestão na área da inteligência. "O comando da intervenção investe muito em operações militares e pouco em inteligência. O resultado é o aumento daquilo que a população tem mais medo: bala perdida, fogo cruzado e tiroteios. A presença das Forças Armadas não resultou na percepção de que a segurança melhorou", disse.

Bala perdida atinge três menores

Além das quatro mortes na Maré, outras cinco pessoas morreram durante operações policiais por balas perdidas durante a semana. Entre elas estão três adolescentes: de 16, 14 e 17 anos. Este último, foi em Manguinhos.

O rapaz de 16 anos morreu dentro de casa, no Morro da Fé, na Zona Norte, quando, segundo a Polícia Militar, criminosos atacaram agentes da UPP, que não revidaram. Já o de 14, estava sentado em uma praça na Cidade de Deus, lendo um livro, quando ocorreu um confronto entre agentes do Bope e traficantes. O jovem de Manguinhos também teria morrido em um ataque a uma base da UPP, segundo a polícia.

Neste ano, segundo a ONG Rio de Paz, dez crianças e adolescentes de até 14 anos morreram neste ano por balas perdidas.

Já um casal morreu por balas perdidas na quinta-feira, durante operação do batalhão do Choque em Senador Camará.

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