
Rio - Edna Palafoz de Oliveira, 43 anos, morta durante um confronto entre traficantes e policiais na comunidade do Rebu, em Senador Camará, na Zona Oeste do Rio, trabalhava no momento em que foi atingida por um tiro na cabeça. Ela era encadernadora numa empresa em Ramos, na Zona Norte, mas tinha uma barraca na praça do Rebu, onde vendia produtos para complementar a renda. A vítima revezava o trabalho na barraca com o marido, que pediu ontem a ela para não ir trabalhar por causa do tiroteio.
Aos prantos, a filha de Edna, a assistente operacional Beatriz Hilário Palafoz, de 22 anos, contou como foram os últimos momentos de vida da mãe. "Meu padrasto chegou a pedir a ela para não ir trabalhar porque estava tendo operação, mas ela foi depois que o tiroteio parou, mas depois, voltou. Ela ficou abrigada com outros comerciantes. Não sei bem o que aconteceu, mas parece que alguém pediu para ela pegar alguma coisa, ela saiu e acabou baleada. Ela ajudava muito as pessoas, e não era de negar nada a ninguém", contou Beatriz chorando muito.
Ela disse que Edna mudou para o Rebu há seis anos para ficar mais perto dela e da neta de 1 ano e dois meses. Hoje, segundo a filha da vítima, ela receberia um carrinho de bebê de presente da mãe. "Ela estava muito feliz com isso. No último feriado, minha filha ficou três dias com minha mãe a pedido dela", lembrou Beatriz, que questionou por que a mãe foi levada para o Hospital Salgado Filho, no Méier, depois de ser levada para a UPA da comunidade. De acordo com Beatriz, os PMs que socorreram Edna até a UPA.

"Não sei quem a levou para o hospital. Quero saber porque levaram para um lugar tão longe de onde minha mãe estava. Se ela tivesse sido socorrida mais perto, talvez estivesse viva. Minutos teriam salvado minha mãe. Ela sempre foi muito batalhadora", disse Beatriz.
Edna estava com o atual companheiro há um ano e seis meses. O casal pretendia casar em fevereiro do próximo ano.
O sogro Manoel Campos, 74 anos, estava com a nora no momento em que ela foi alvejada. “Ela abriu a loja e (depois) ficamos sentados (na calçada da barraca). De repente, começou o confronto e essa bala perdida pegou nela e atravessou a cabeça. Aconteceu tudo muito rápido e não deu tempo nem de se esconder ou correr. Como não tinha ninguém na rua para ajudar a socorrer, colocamos ela dentro 'caveirão' [veículo blindado da PM] e ele foi para a UPA do bairro”, lembrou o idoso.
Segundo ele, a nora costumava abrir a barraca quando ela estava de folga. “Como ela trabalhava durante a semana, a Edna só abria quando ela estava de folga. O meu filho também ajudava ela aos finais de semana. Ela é uma pessoa muito bom. O meu filho está arrasado porque eles se gostavam muito. A cena dela sendo baleada socorrida nunca mais vai sair da minha cabeça. Essa é uma perda muito grande. Todos nós estamos sentidos. A minha nora vai fazer muita falta”, completou.

Edna era a caçula de nove filhos. “Eu morava numa distância de 1 km dela e fui avisado por um colega da família. Depois fui para a UPA pra acompanhar os procedimentos. A minha irmã era uma pessoa maravilhosa. E para dar mais conforto para os filhos, ela tinha dois empregos. Ela era uma pessoa extremamente trabalhadora. O que vai ficar pra mim da minha irmã é de uma pessoa feliz e sempre com o sorriso no rosto. Ela era um ser humano fantástico e espero que Deus receba ela de braços abertos. Ela era apaixonada pela neta e tinha uma relação muito próxima com os filhos", contou o irmão da vítima, Eduardo Palafoz de Oliveira, 38 anos.
"A gente espera uma resposta definitiva. Não pode ficar do jeito que está. O estado está preocupado em fazer operações nas favelas. Mas, não se preocupa em dar emprego para o povo lá dentro. Se o governo der condições as pessoas. Eu cheguei a ver a minha irmã um dia antes, dei um abraço e conversamos um pouco”, lembrou Eduardo.

De acordo com fontes do Instituto Médico Legal (IML) da Leopoldina, na Região Portuária, o corpo de Eda Palafoz de Oliveira deu entrada no local no começo da manhã e passou por necropsia. Segundo o documento, um único disparo atingiu a cabeça da vítima pelo lado esquerdo e saiu à direita.
