João Victhor foi baleado no peito enquanto soltava pipa. Edna, na cabeça, vendendo salgados - Arquivo pessoal
João Victhor foi baleado no peito enquanto soltava pipa. Edna, na cabeça, vendendo salgadosArquivo pessoal
Por Rafael Nascimento e Felipe Rebouças*

Rio - Um menino de 9 anos foi morto com um tiro no peito enquanto soltava pipa na laje de uma casa na Favela da Fazendinha, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, no fim da tarde desta quinta-feira. João Victhor Valle Dias chegou a ser socorrido no PAM de Del Castilho, mas não resistiu aos ferimentos.  As circunstâncias do disparo ainda são desconhecidas, mas não havia confronto no momento do crime.

Alessandra Marques, 39 anos, tia de João Victhor disse ao DIA que menino morava com a mãe, o padrasto e outros dois irmãos, de 7 e 4 anos, há cerca de um ano. Segundo a manicure, anteriormente a criança era criada pela avó materna em outro bairro.

“Ele estava brincando na laje quando de repente foi atingido. A gente não sabe de onde partiu o tiro que atingiu o meu sobrinho pois, não estava tendo confronto”, lembrou Alessandra. “Quantas pessoas mais terão que morrer por bala perdida?”, indagou a mulher emocionada.

De acordo com a manicure, a criança era brincalhona, obediente e gostava muito de soltar pipa. Amigos contam que o menino foi socorrido pelos próprios familiares em um carro até a UPA. “Os pais estão arrasados”, disse a tia materna.

O corpo do pequeno João Victhor, que completou 9 anos em agosto, chegou ao Instituto Médico Legal (IML), da Leopoldina, Região Portuária do Rio, e passará por necrópsia ainda nesta tarde.

Anderson da Silva Dias, pai da criança, acompanhado da atual esposa e do primo Claiton Silva, 29, chegaram ao IML, por volta das 14h30. Abalado, Anderson, que durante todo o tempo foi consolado pela companheira, não falou com os jornalistas. A incumbência ficou para o primo do rapaz.

"Meu primo passou a noite em estado de choque, ele está completamente sem chão", afirmou Claiton. "Ainda não sabemos o que aconteceu, só temos a informação da vó materna de que ele estava soltando pipa na laje e foi atingido".

Durante a madrugada, o pai da criança prestou depoimento na Delegacia de Homicídios (DH) da Capital, na Barra da Tijuca. Em depoimento, o homem contou que ficou sabendo da morte do filho pelos parentes da criança.

"Os pais não se falavam. Meu primo só se dava bem com a vó materna, ela que nos contou tudo", contou Claiton.

João Vichtor estava no terceiro ano do ensino fundamental e os seus pais são separados há pelo menos sete anos. A criança se mudou para casa da mãe, Vanessa Valle da Silva, no Complexo do Alemão, há um ano. Anteriormente morou com o pai, em Ramos.

Claiton Silva questionou, embargado, "como uma criança de nove anos pode ser ruim?". E concluiu afirmando que "não existe Intervenção Federal" no estado.

Segundo informações, o tiro teria partido de um traficante que manuseava uma arma na localidade onde a criança morava. Inclusive, que o suspeito teria sido julgado pelo tribunal do crime e a sua sentença teria sido a morte. Entretanto, a Polícia Civil disse que irá investigar se isso aconteceu ou não.

Em nota, a UPP Fazendinha confirmou que foi acionada após ser comunicada que um menino tinha sido ferido na localidade conhecida como "Beco do Te Contei" e informou que não havia confronto no momento. Um parente da criança que comunicou o caso à polícia também teria dito que não acontecia nenhum tiroteio.

A PM foi até a unidade hospitalar onde a criança foi atingida e registrou inicialmente o caso na 44ª DP (Inhaúma), sendo encaminhado posteriormente para a Delegacia de Homicídios (DH-Capital). Uma perícia foi feita no local e agentes da unidade realizam diligências para apurar o caso. 

Segundo as informações da DH, o pai da vítima prestou depoimento. Anderson da Silva Dias informou que não vivia com o filho e que ficou sabendo do ocorrido através de conhecidos. No local, não foram encontradas câmeras de segurança para as investigações. A perícia criminal não realizou apreensão de quaisquer evidências no local e digitais também não foram encontradas. 

*Estagiário sob supervisão de Maria Inez Magalhães 

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