Parte da frente do altar, em mármore, já tinha sido destruída, antes da paralisação das obras - Francisco Edson Alves / Agência O Dia
Parte da frente do altar, em mármore, já tinha sido destruída, antes da paralisação das obrasFrancisco Edson Alves / Agência O Dia
Por FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - A Paróquia de São Sebastião, no Centro de Barra Mansa, paralisou nesta manhã as polêmicas obras que vinham sendo feitas desde segunda-feira no altar da igreja, conforme o DIA vem noticiando. Imagens exclusivas feitas pela reportagem, porém, mostram que as divisórias de mármore já foram quebradas. Por volta de 10h, não havia ninguém trabalhando e nem ferramentas no local. A igreja está fechada por tempo indeterminado.

A intenção da cúpula da Igreja Católica do Sul Fluminense de substituir o painel sacro, ainda intacto, de meados de século passado, em milenar arte árabe-portuguesa, de azulejos vitrificados, do altar da igreja (de 1859), se transformou em discórdia. Fiéis, com apoio de padres da Congregação Verbo Divino, se queixam de não terem sido consultados pelo bispo da Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda, o italiano dom Francisco Biasin, e pelo pároco croata, Milan Knezovic, e ameaçam fazer vigília no templo para impedir a derrubada do painel.

Ao analisarem as imagens mostradas pela reportagem, devotos de São Sebastião, ao redor da igreja, demonstraram um misto de incredulidade e revolta. “Porque estão cometendo essa heresia? Se o painel estivesse caindo, em más condições, ainda se justificaria. Mas está em bom estado, bonito, como sempre”, lamentou o motorista Mauro Silva, de 28 anos. “Acho um pecado, desperdiçar dinheiro com uma relíquia que não está trazendo prejuízo algum para nós. Pelo contrário, só alegria e paz”, comentou Inês de Freitas, de 65 anos, que frequenta a igreja há 32 anos.

O advogado Ricardo Maciel, afirma que a paróquia cometeu infração grave, ao desrespeitar a Lei 4.492/2015 (de autoria do ex-vereador Ivan Marcelino de Campos, e assinada pelo vereador Marcelo Cabeleireiro, eleito deputado estadual pelo DC), que tombou a matriz como Patrimônio Municipal Histórico e Cultural. “Pela lei, qualquer intervenção deve obrigatoriamente passar pelo Conselho Municipal de Cultura", justifica.

Ontem a Prefeitura de Barra Mansa emitiu nota, informando que o pároco Milan foi convidado pelo presidente da Fundação Municipal de Cultura, Marcelo Bravo, a prestar esclarecimentos na sexta-feira, às 9h, no Palácio Barão de Guapy. Frisou ainda que Milan “já havia sido orientado quanto à legislação em vigor no dia 11”.

Até o momento, a Diocese ainda não se manifestou em relação aos questionamentos feitos pelo DIA em relação a detalhes da obra e porque elas foram paralisadas. Em nota de apenas uma linha, emitida nesta terça-feira pela assessoria da Cúria Diocesana, a cúpula católica regional informou somente que "acompanha o caso pelo setor de Patrimônio Histórico e Elementos Artísticos, e que se reunirá com os responsáveis pelo projeto".

Abraço à matriz e abaixo-assinado ao Papa

Pelas redes sociais, fiéis conclamam devotos para um ato, intitulado “Abraço à Matriz de São Sebastião”, para o próximo sábado às 10h. “Por quê? Quem autorizou as obras (PMBM), (Legislativo)? Quem vai se responsabilizar?”, postou Anderson Henrique, um dos paroquianos indignados com as obras iniciadas.

Na sexta-feira e também no sábado, um abaixo-assinado em protesto contra a possível derrubada do painel, serão colhidas na Praça da Matriz, em frente à igreja. As assinaturas serão encaminhadas ás autoridades municipais e até ao Papa Francisco, em Roma.

Assinaturas também estão sendo recolhidas por meio de petição pública, no endereço https://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR109400

Padres questionam troca de paineis

Nesta terça também, padre Renê de Oliveira, fez duras críticas à ideia. "No início dos anos 2000, com apoio do padre Norberto Priwitz, reformamos o painel", lembrou, num grupo de orações, Renê, que hoje atua em Laranjeiras, no Rio. "A intervenção atual é desprezo ou falta de compreensão das tradições religiosas e culturais", desabafou.

Outro padre, Nilton Gonçalves, também fez críticas. "O pároco atual tem a psicótica ideia de que o painel é de inspiração maçônica", postou Nilton.

Há pouco mais de 24h, Milan informou a um grupo de paroquianos pelo WhatsApp, que o painel pode até ser preservado, mas que o outro, em "conceito mais moderno", poderá ser erguido à sua frente, com passarela de 1,50m para quem quiser ver o antigo, nos fundos. "Estão subestimando nossa inteligência", esbravejou uma devota.

Em nota enviada agora há pouco, sem assinatura do bispo Francisco Biasin ou de qualquer outro representante da Cúria Diocesana de Barra do Piraí-Volta Redonda, a assessoria de imprensa da igreja argumentou que “não há qualquer intenção de demolir o atual painel que está na parede dos fundos do altar, construído na última grande reforma entre 1956 e 1960”.

O texto, que destaca falas, mas sem atribui-las à alguma pessoa, diz, porém, que obras estão sendo feitas para “atender às exigências da Lei de Acessibilidade n. 10.098 de 19/12/2000 e para ampliar a comunicação do espaço litúrgico”. Alega ainda que “a decisão de adaptação do presbitério e altar do templo foi tomada com a participação da comunidade em reuniões do conselho pastoral da paróquia”. E ainda afirma que projeto de novos painéis a serem colocados (sem esclarecer onde), “está em estudo”.

A nota, intitulada “de esclarecimento”, porém, não responde aos questionamentos que o DIA vem fazendo à Diocese há dois dias, quanto a detalhes do novo projeto, custos, e objetivos. Também não informou o motivo das obras terem sido paralisadas nesta manhã, embora há informações de que os serviços estariam sendo feito à noite. Veja abaixo a íntegra da nota:

"Nota de Esclarecimento

Diante de informações divulgadas sobre a proposta de adequação do espaço litúrgico do altar da Matriz de São Sebastião, em Barra Mansa, a Diocese de Barra do Piraí - Volta Redonda esclarece o que segue:

- Não há qualquer intenção de demolir o atual painel que está na parede dos fundos do altar, construído na última grande reforma entre 1956 e 1960.

A decisão de adaptação do presbitério e altar do templo foi tomada com a participação da comunidade em reuniões do conselho pastoral da paróquia, ocorridas nos meses de setembro e outubro e votada com ampla e favorável aprovação na assembleia paroquial realizada em novembro, contando com a participação de representantes de todas as comunidades da paróquia.

- A mudança foi proposta para atender às exigências da Lei de Acessibilidade n. 10.098 de 19/12/2000 e para ampliar a comunicação do espaço litúrgico, aproximando os celebrantes do povo, de acordo com as orientações do Concílio Vaticano II. Parte da obra foi iniciada nesta semana.

- A segunda fase do projeto, que prevê a colocação dos novos painéis, ainda está em estudo para ser aprovada pelas competentes instâncias do governo municipal e da Comissão de Arte litúrgica da Diocese, sempre preservando o antigo painel."

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