Pezão está preso na Unidade Prisional da PM - Márcio Mercante/Agência O Dia
Pezão está preso na Unidade Prisional da PMMárcio Mercante/Agência O Dia
Por *O DIA

Rio - Dois anos e 12 dias depois da prisão do ex-governador Sérgio Cabral, o sucessor dele, Luiz Fernando Pezão teve o mesmo destino. O governador do Rio foi preso, na manhã desta quinta-feira, sob acusação de ter recebido mensalão de R$ 150 mil e propinas de R$ 39 milhões em espécie, entre 2007 e 2014 período em que exerceu o cargo de vice-governador na gestão de Cabral, entre outros crimes.

Segundo o delator Carlos Miranda, Pezão não sucedeu Cabral apenas como chefe do Executivo Fluminense. Ele também assumiu a função de arrecadar e distribuir propinas. Entre os beneficiados, o próprio Cabral. "Depois de Cabral sair do governo, os pagamentos se inverteram: Pezão passou a enviar a Cabral, R$ 400 mil mensais", afirmou Miranda, na delação homologada pelo STF. De acordo com a Polícia Federal, Pezão teria aumentado a taxa de propina para 8% dos contratos, mesmo com o estado em crise. No tempo de Cabral, a taxa era de 5%.

Em nota, o Governo do Estado se limitou a informar que "de acordo com o artigo 140 da Constituição estadual, a chefia do Poder Executivo passa a ser exercida, a partir desta quinta-feira (29/11), pelo vice-governador Francisco Dornelles". Por sua vez, o Dornelles disse apenas que "manterá todas as ações previstas no Regime de Recuperação Fiscal (RRF) e dará prosseguimento aos trabalhos de transição de governo, reiterando o seu maior interesse na manutenção do bom relacionamento com os demais Poderes do Estado". O único a protestar contra a prisão foi o próprio Pezão. Após prestar quatro horas de depoimento na sede da Superintendência da PF, na Praça Mauá, Centro do Rio de Janeiro, Pezão saiu fazendo sinal de positivo com o dedo polegar e afirmou "é óbvio que eu nego, nego tudo", quando questionado se tinha cometido os crimes dos quais é acusado.

Banho e café da manhã

Os agentes da Polícia Federal acordaram Pezão para lhe dar de voz prisão. Eram 6h. O governador pediu que aguardassem ele tomar banho e café da manhã. Às 7h36m, Pezão deixou o Palácio Laranjeiras residência oficial do governador escoltado. Ele não foi algemado e seguiu na frente da viatura até a sede da PF. Depois de interrogado, Pezão fez exame de corpo de delito, passou em Benfica e foi levado para o Batalhão Especial de Prisional (BEP), em Niterói.

Pezão, que morava no Laranjeiras, um palácio com cinco mil metros quadrados de área construída, vai ficar em uma sala de 15 metros quadrados, sem grades e com apenas uma porta, cama e vaso sanitário. Será permanentemente vigiado por câmeras de segurança. Ele vai ter direito a banho de sol e atividades físicas durante as manhãs. Vai almoçar e jantar no refeitório do presídio, sendo que o cardápio será o mesmo que é oferecido pela Seap a qualquer preso. Em contrapartida, o governador terá que participar todas as manhãs do hasteamento das bandeiras e ajudar nos trabalhos do presídio, onde existe uma horta. Nos próximos dias, Pezão só poderá receber visitas dos advogados.

Preso em exercício

Pezão passa a integrar uma lista nada honrosa: a de governadores eleitos que foram presos. Ele se destaca no grupo por ter sido o único a parar na prisão durante o exercício do mandato.

Todos os governadores eleitos nos últimos 20 anos foram parar atrás das grades. O primeiro deles foi Anthony Garotinho, que governou o estado entre 1999 e abril de 2002, quando saiu para disputar a presidência. A sua vice, Benedita da Silva, assumiu o governo até o fim do mandato, em dezembro de 2002.

Garotinho foi preso um dia antes de Cabral, em 16 de novembro de 2016, acusado de fraudar o Programa Cheque Cidadão. Cabral, que chegou a zombar da prisão de Garotinho (seu inimigo político) foi preso na Operação Calicute e de lá para cá, denunciado em 25 processos e com condenações que beiram os 200 anos de prisão.

Rosinha Garotinho, que foi eleita em 2002 e governou até 2006, quando foi sucedida por Cabral, foi presa ano passado, por crimes eleitorais. Ela esteve na mesma cela da ex-primeira-dama, mulher de Cabral, a advogada Adriana Ancelmo, hoje em prisão domiciliar.

Assim como os chefes do Executivo, os do Legislativo fluminense não escaparam. Todos os presidentes da Alerj desde 1995 estão presos: Cabral, Jorge Picciani e Paulo Mello.

Manifestantes fazem festa

Manifestantes comemoraram a prisão do governador Luiz Fernando Pezão. As celebrações ocorreram em frente à sede da Polícia Federal, na Praça Mauá, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), no Centro, e também no Batalhão Especial Prisional (BEP) da Polícia Militar, em Niterói.

O Sindicato do Servidores do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro (Sindjustiça-RJ) promoveu na tarde de ontem manifestação com bolo em frente ao prédio da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), no Centro, para comemorar a prisão de Luiz Fernando Pezão. O governador foi preso pela Polícia Federal no Palácio Laranjeiras, na Zona Sul.

Organizador do ato, Ramon Carrera explicou que a prisão de Pezão diz muito sobre os problemas financeiros que os servidores públicos do Estado do Rio sofreram nos últimos anos. "Isso (prisão) explica tudo que acontece aqui no estado. É o encerramento de um ciclo e a gente acredita que, se tivermos mais investigações, mais gente será presa... Ele não queria dar um abraço no Cabral? Agora vai poder", desabafou, fazendo alusão à entrevista concedida pelo governador ao jornal O Estado de São Paulo, publicada no dia 30 de outubro.

"A prisão do Pezão representa o que a gente denuncia desde 2015. Não é normal os servidores ficarem sem dinheiro para comprar remédio. Tem muita coisa errada. Para onde vai o dinheiro da corrupção? É onde falta dinheiro para aplicar no estado. Difícil vai ser ver essa grana de volta", criticou Ramon.

Alerj se manifesta

Em nota, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), por meio do presidente em exercício André Ceciliano (PT), disse que "lamenta toda essa situação" e que defende todas as investigações da Lava Jato. "Lamentável essa situação em um momento em que somamos esforços na Assembleia Legislativa do Rio para ajudar o estado a sair da crise financeira. Defendo as investigações da Lava Jato, bem como o direito à ampla defesa dos investigados", diz o texto.

"Vamos continuar trabalhando, especialmente nesse momento em que votamos questões importantes como a prorrogação do Estado de Calamidade nas finanças, do Fundo de Combate à Pobreza, os vetos a projetos de lei e o orçamento do ano que vem. A Alerj prosseguirá com a pauta de votações de medidas importantes para o futuro do Rio e do povo fluminense", conclui o comunicado.

*Reportagem de Adriana Cruz, Maria Inez Magalhães, Wilson Aquino e Rafael Nascimento, com colaboração do estagiário Felipe Rebouças

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