Há dois anos convivendo com obra inacabada e sem asfalto, moradores como a Kátia Regina, que é cadeirante, têm dificuldades para transitar pelas ruas do bairro - Luciano Belford/Agência O Dia
Há dois anos convivendo com obra inacabada e sem asfalto, moradores como a Kátia Regina, que é cadeirante, têm dificuldades para transitar pelas ruas do bairroLuciano Belford/Agência O Dia
Por Aline Cavalcante

Rio - Uma cidade com aproximadamente 470 mil habitantes e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0.684, abaixo da média nacional, que é de 0.727, Belford Roxo está entre os sete piores colocados no Ranking do Saneamento das 100 Maiores Cidades, do Instituto Trata Brasil. Segundo a Casa Fluminense, o município sequer possui o Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB). Dados que refletem no cotidiano do moradores de Santa Amélia, que ilustra a segunda reportagem da série 'O Dia no seu Bairro'.

Em Santa Amélia, uma barreira que impede a passagem de veículos a trafegar pela Rua Olavo Bilac foi o último recurso que os moradores encontraram para amenizar os efeitos negativos de uma via sem asfalto e imersa na poeira e na lama. "Fechar a rua foi uma medida desesperada, porque quanto mais veículos passavam por aqui, mais estragos causavam", conta a dona de casa Doralice Correa Crispim, de 67 anos.

A situação nem sempre foi tão ruim. Mas há dois anos ganhou capítulos dramáticos desde que a prefeitura, com a promessa de melhorias, quebrou todo o asfalto e não voltou mais. "Antes era uma rua com buracos, hoje é uma rua no buraco", lamenta Doralice.

Se passar pelo local a pé é ruim, para Kátia Regina, 48, é um pesadelo. Cadeirante, ela reclama das dificuldades de trafegar pela via. "Fica difícil sair de casa, eu até evito. Passar com a cadeira de rodas é quase impossível. Sozinha, nem pensar, dependendo de ajuda. As calçadas são desniveladas", destaca.

Além de não ter asfalto, a Rua Olavo Bilac costuma alagar em dias de chuva e a água invade as casas e quintais. "Fizemos até uma contenção no portão para impedir que a água entre", lembra Neli da Silva, 62. Lusiê Rodrigues,59, conta que a água fica na altura do joelho. "Já passei festa de fim de ano com água no joelho e, sem asfalto, os canos e manilhas ficam expostos. Uma vez, o cano de água quebrou e eu fiquei dois dias sem uma gota na torneira", relembra.

O esgoto também é um problema. "Está voltando para dentro de casa, principalmente quando chove", informa Daiana da Silva, 28. Já para Lindinei dos Santos, 63, a principal preocupação é com o risco de doenças. "Quando chove, a água suja, misturada com esgoto, entra nos nossos quintais e casas. Além do mau cheiro, a gente pode ser contaminado com alguma doença", salienta.

Quando a lama, por conta da chuva, sai de cena, o que resta é poeira. "Tenho que limpar e lavar o quintal todos os dias. A gente acaba de limpar e já tem poeira sujando na mesma hora. Meus netos vivem com problemas de alergia", relata Sebastiana de Jesus, 66.

Tantos problemas e nenhuma solução deixa nos moradores a sensação de abandono. "Estamos esquecidos aqui, ninguém faz nada por nós", desabafa Renato Gomes, 38.

Na Rua Abaeté, além dos buracos, o problema é a insegurança. O local foi fechado por moradores depois de uma sequência de assaltos. "Fechamos a passagem de um lado porque não aguentamos mais tanto assalto", conta um morador que não quis se identificar.

Em fase final da construção, uma Clínica da Família foi abandonada na Rua das Mangueiras. "Muita coisa da obra foi roubada. O terreno estava servindo de esconderijo de bandido que praticavam assaltos. Para acabar com esta situação um morador cercou o local. É triste porque a clínica podia estar funcionando e atendendo a população", reclama Marcos Soares, 53.

A Prefeitura de Belford Roxo informou que hoje uma equipe da Secretaria de Conservação irá nas ruas citadas para verificar a situação e tomar as providências necessárias. Sobre a Clínica da Família, a prefeitura afirmou que a unidade começou a ser construída na gestão anterior com verbas federais que foram utilizadas sem as devidas prestações de contas, ocasionando o cancelamento do convênio. A Secretaria Municipal de Saúde está apresentando relatórios à União para conseguir reaver o contrato e retomar as obras.

Já a Polícia Militar disse que atua na região através do 39º BPM (Belford Roxo) com base nas análises das manchas criminais e nas informações colhidas pelo setor de Inteligência. Segundo a PM, houve redução de 11% nos casos de roubo a veículos e a transeuntes na cidade em outubro, em relação ao mesmo período do ano passado. E ressaltou a importância de fazer o registro de queixas pela Central 190 e o Disque Denúncia (2253-1177).

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