Witzel mandou confeccionar a faixa de governador que recebeu das mãos de Francisco Dornelles
 - Alexandre Brum
Witzel mandou confeccionar a faixa de governador que recebeu das mãos de Francisco Dornelles Alexandre Brum
Por GUSTAVO RIBEIRO

Rio - O novo governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), manteve o tom de enfrentamento pesado a traficantes e de defesa a cortes de gastos no discurso que marcou a cerimônia de transmissão do cargo, realizada na tarde desta quarta-feira no Palácio Guanabara, em Laranjeiras. O político eleito recebeu a faixa governamental das mãos do ex-governador em exercício Francisco Dornelles (PP) e deu posse aos secretários que comporão sua equipe. Witzel fez questão de mandar confeccionar o símbolo, que já havia caído em desuso em cerimônias de posse no estado.

Depois de cumprimentar o vice-governador, Cláudio Castro (PSC), Witzel ressaltou que criminosos com fuzis não poderão mais ser tratados 'de forma romântica'.

"O crime organizado não pode mais estar com a liberdade que dispõe hoje de portar armas de guerra, de fazer refém a sociedade e ser tratado de forma romântica como sujeitos que não tiveram oportunidades. Todos tivemos oportunidades. Todos aqueles que querem estudar e trabalhar encontrarão o seu caminho e nós vamos ajudar a diminuir o desemprego", afirmou Witzel. "Aquele que pega em armas e chama para si a guerra, a guerra deve ter. Como terroristas serão tratados." 

Wilson Witzel e Helena Witzel - Alexandre Brum / Agência O Dia

Após o discurso, o governador disse aos jornalistas que pediu ontem ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, empenho na regulamentação da Lei Antiterrorismo, com o objetivo de aumentar as penas de narcotraficantes, e a federalização de uma das unidades prisionais do estado. Comentou ainda que imagens de drones com monitoramento eletrônico adquiridos pelo Gabinete de Intervenção serão utilizadas para fins judiciais e para auxiliar em buscas e apreensões e em prisões.

"No meu ponto de vista, não existe necessidade de mudar a lei (para permitir o 'abate' de traficantes). Quem está com fuzil na mão é ameaça e como ameaça deve ser tratado. Eu estou propondo ao Congresso Nacional através da nossa bancada, e conversei ontem com o ministro Sérgio Moro, para regulamentar a Lei Antiterrorismo, onde as pessoas que estejam no comando do crime organizado sejam tratadas com mais rigor em presídios sem qualquer regalia, sem visitas, com advogados públicos e com tempo de prisão que vai além dos 30 anos máximos. Alongar isso para 50 anos para o crime organizado", declarou Witzel.

Wilson Witzel também tratou do déficit orçamentário de R$ 8 bilhões que o Estado do Rio terá de enfrentar este ano e reforçou que serão necessárias medidas de redução de custos e racionalização do uso dos impostos pagos pela população. Ele pediu compreensão do Ministério Público e da Justiça em relação às ações que questionam os limites constitucionais dos gastos públicos. "Eu sei o quanto anseiam tanto o MP como o Poder Judiciário, principalmente diante de tantos escândalos, de fazer com que o orçamento seja respeitado. Mas eu peço a Vossas Excelências (...) um pouco mais de paciência, porque o governo tem o compromisso absoluto para que esse dinheiro seja bem utilizado", destacou.

Na entrevista coletiva, o governador explicou que “há impossibilidade material” de se cumprir hoje os mínimos constitucionais, mas garantiu que metas que ainda serão estabelecidas permitirão a reversão do quadro.

Após a cerimônia, o secretariado participou da primeira reunião com o governador empossado, mas ainda não foram divulgados os detalhes. "As medidas que iremos tomar até o final do ano, que serão apresentadas após a reunião do secretariado, vão permitir que o déficit seja suprido, sejam elas de austeridade orçamentária, sejam elas de leilão reverso de contratos, desconto no pagamento de contratos, redução dos custos com aluguéis e reorganização de algumas atividades que possam estar mais caras do que a necessidade". 

Transmissão de cargo para o governador eleito Wilson Witzel - Alexandre Brum / Agência O Dia

Dornelles culpa a União: ‘Estado viveu momentos de agonia’

Em discurso antes de entregar o cargo, Francisco Dornelles cumprimentou o novo governador e disse que governar o Rio de Janeiro "é uma das melhores honrarias que se pode ter". "Vossa Excelência recebeu a confiança de quase 5 milhões de fluminenses e agora passa a governar por toda sua população. Seu passado e seu currículo trazem a certeza que saberá enfrentar a dificuldade do cargo e desenvolverá um governo cheio de sucesso", comentou Dornelles.

Em seguida, Dornelles tentou explicar a crise que o estado enfrenta. "O Rio de Janeiro conheceu, nos últimos anos, uma crise sem precedentes. A diminuição dos investimentos da Petrobras, o recuo no preço do petróleo e a recessão econômica com o Produto Interno Bruto negativo por dois anos consecutivos provocaram uma queda de arrecadação com enormes consequências na administração. O estado viveu momentos de agonia, tendo suas receitas sequestradas com frequência pela União credora que não compreendia que as dificuldades do Estado do Rio era sobretudo consequência de uma administração irresponsável (...) A tecnocracia federal dava mais importância aos números que a vida das pessoas",  afirmou Dornelles.

Filho trans: vaga no SUS

O filho transgênero do governador Wilson Witzel, Erick Witzel, de 24 anos, comemorou nesta quarta no Instagram ter conseguido uma vaga para fazer tratamento hormonal no Sistema Único de Saúde. Erick protagonizou críticas ao pai durante a campanha e chegou a declarar após o resultado do primeiro turno que era "um dia triste para a história do estado e do país". Questionado por jornalistas, o governador comentou o assunto: "Meu amor por ele é incondicional. Desejo boa sorte (no tratamento) e que seja feliz."

Erick foi o único dos quatro filhos de Witzel que não foi à solenidade. O rapaz contou na rede social que começou o tratamento hormonal com endócrino particular, mas era muito caro e não conseguiu continuar depois de quatro consultas. Ele aguardava pela vaga no Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia há um ano. "Como não tenho plano de saúde, fui para o sistema público e sempre tive uma resposta muito positiva, embora demore bem mais", relatou ele.

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