Rio - A partir desta quarta-feira, as famílias que quiserem sepultar os corpos de seus entes queridos em Duque de Caxias só poderão fazê-lo mediante liminar na Justiça. Na noite de terça-feira, no segundo dia de impasse com a concessionária que administra cinco cemitérios da cidade, a prefeitura decidiu lacrar os locais, alegando uma série de irregularidades cometidas pela empresa, incluindo atrasos no enterro de mortos com direito a gratuidade.
Desde o domingo, famílias já recorrem a cemitérios de cidades vizinhas. "Estamos tentando enterrar a filha de uma amiga há quase 24 horas. Por conta da burocracia, vamos tentar enterrá-lá no Cemitério de Bongaba (em Magé). Não estamos conseguindo enterrar aqui em Caxias porque uns dizem que os cemitérios estão funcionando e outros dizem que não", queixou-se, ontem, a comerciante Andreia Rodrigues Sobreira, de 48 anos.
A vendedora Luciana Valentim, 34, que também perdeu um parente, fez um apelo: "O Ministério Público tem que nos ajudar. É uma falta de respeito. Não estamos conseguindo dar enterro digno aos nossos parentes".
A reportagem de O DIA esteve no Cemitério Nossa Senhora das Graças, em Vila Operária, onde constatou o funcionamento normal, mesmo com a prefeitura tendo determinado a suspensão das atividades, na véspera. É que ficou acordado entre o município e a concessionária que os enterros já marcados seriam feitos. Mas, às 18h, funcionários da prefeitura lacraram este e os outros quatro cemitérios. A concessionária AG-R Eye Obelisco Serviços Funerários negou as irregularidades e entrou na Justiça contra a prefeitura.
A família do jardineiro Delmar Farias Júnior, morto por bala perdida, aos 17 anos, em 3 de janeiro, acusou uma suposta representante da concessionária de cobrar R$ 1 mil para 'agilizar' o enterro. "O sepultamento, se fossemos pagar, sairia por R$ 3,8 mil. Recorremos à gratuidade e fomos surpreendidos com esse valor de R$ 1 mil", lembrou Renan dos Santos Silva, cunhado da vítima. "Lá no cemitério (Nossa Senhora das Graças), uma mulher fez essa proposta e estranhamos, porque o caixão que seria usado era o mesmo que a prefeitura disponibiliza (para o enterro gratuito)", alegou.
Após se recusarem a pagar, os parentes recorreram à Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos e só no fim da manhã de ontem, cinco dias após a morte do jardineiro, o jovem foi sepultado no Cemitério Nossa Senhora de Fátima.
Ao negar as acusações, o advogado da AG-R, Daniel Simoni, declarou que "a responsabilidade de comunicar as mortes deve ser da Secretaria. Assim que fomos informados, imediatamente enterramos sete corpos (com direito à gratuidade). Não houve e não haverá recusa".