O delegado Zaccone (de boné) e o rapper D2 (à direita) no velório
 - Luciano Belford/Agência O Dia
O delegado Zaccone (de boné) e o rapper D2 (à direita) no velório Luciano Belford/Agência O Dia
Por Lucas Cardoso

Rio - O corpo do músico Marcelo Yuka chegou por volta de 14h15 deste sábado à Sala Cecília Meirelles, na Lapa, Centro do Rio, onde será velado até as 19h. O enterro será neste domingo, no Cemitério de Campo Grande, onde a família do compositor tem um jazigo. Os dois irmãos do músico ajudaram a levar o caixão e cerca de 100 pessoas acompanhavam a cerimônia até às 17h30.

O músico Marcelo D2, o deputado federal não reeleito Chico Alencar (Psol) e o delegado Orlando Zaccone comparecem à cerimônia junto a dezenas de fãs, familiares e amigos de Yuka. D2, que chorou em diversos momentos, não saiu de perto do caixão do amigo. "Yuka foi uma pessoa fantástica. Me sinto super privilegiado por ter divido arte e a vida com ele. Deixou uma lição de amor. Essa luta dele pela paz vale a pena. É a prova que podemos lutar pelo paz e viver para o amor. É incrível como a história é contada, porque mesmo com tudo que ele passou, ele não guardava rancor. Eu conheço o Yuka desde 1989, mas a maior lembrança que fica dele é de 1990, da gente comendo um cachorro quente aqui na Lapa e pensando que nós podíamos mudar alguma coisa na nossa cidade. Isso antes de Planet Hemp, do O Rappa, de qualquer coisa. Para mim, ele é uma prova viva na carne de que podemos viver pela paz e espalhar o amor", relembra o rapper. 

O artista de rua Marcondes Rocco fez uma homenagem a Yuka - Luciano Belford/Agência O Dia

Diversas coroas de flores, como da gravadora Warner, do Flamengo, de Zeca Pagodinho e de Nelso Meirelles, o primeiro baixista do Rappa, ornam o caixão. Zaccone falou sobre o comportamento de Yuka após o incidente que o deixou em uma cadeira de rodas. "Ele não guardou nenhum rancor do episódio e tentou ficar de cabeça erguida. Manteve um trabalho social forte, junto à população carcerária. A amizade do Yuka vai fazer muita falta", disse.

Chico Alencar também comentou a convivência com o compositor. "O Yuka é uma figura singular ímpar. Ele hoje nos deixa hoje em função das sequelas de um ato de solidariedade, algo tão raro nesse país. "Ele era um lutador pela paz. Morreu porque queria essa paz que, sem voz, não é paz, é medo. Como diziam as letras de suas poesias."

Para homenagear o compositor, o artista plástico Marcondes Rocco entregou uma pintura de Yuka em mãos para a mãe e os irmãos. A obra foi feita na porta da Sala Cecília Meirelles.

Yuka morreu, aos 53 anos, no fim da noite desta sexta-feira. O fundador e ex-integrante do grupo O Rappa estava internado desde o fim do ano no Hospital Quinta D'Or, em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio, para tratar de uma infecção. De acordo com a assessoria do hospital, Yuka morreu às 23h40, por causa de um Acidente Vascular Cerebral Isquêmico.

Nas últimas semanas, Yuka já tinha sofrido um AVC e seu quadro de saúde piorou. Foi então, que ele foi deslocado para o CTI da unidade, permanecendo em estado gravíssimo, até então.

O músico ficou paraplégico em novembro de 2000 após ser baleado em um assalto, na Tijuca. Desde então, seu estado de saúde foi tendo complicações.

No auge de sua carreira musical, o novo enredo da vida do garoto criado em Campo Grande e Angra dos Reis era promissor. O disco "Lado A, Lado B", divisor de águas na história da banda e quase inteiramente composto por ele, já havia vendido aproximadamente 500 mil cópias, e o videoclipe da música "Minha Alma", de composição sua, acabara de ser consagrado o maior vencedor da história do Prêmio Video Music Brasil (VMB), da MTV, levando seis estatuetas para casa. Além disso, também faturou o Prêmio Multishow de melhor clipe do ano.

"Meu momento de maior alegria no Rappa foi quando o clipe de 'Minha Alma' ganhou vários prêmios na MTV", afirmou Yuka, em sua autobiografia, intitulada "Não se Preocupe Comigo".

O engajamento e a consciência social de Marcelo Yuka sempre estiveram presentes em suas canções e, após sua saída do Rappa, apenas se intensificaram. Em 2004, Yuka fundou o grupo F.U.R.T.O (Frente Urbana de Trabalhos Organizados), cujo carro-chefe foi a música homônima à sua biografia: "Não se preocupe comigo".

Além da banda, o músico também fundou a B.O.C.A (Brigada Organizada de Cultura Ativista) - uma ONG para levar atividades culturais para entidades carcerárias - e participou, junto ao Afroreggae, da criação da Fase (Federação de Órgãos para Assistência e Educação do Rio de Janeiro).

Mas foi apenas em 2012 que Yuka se envolveu diretamente com a política – a política institucional, partidária, fora das ruas ou das letras de suas músicas. Assim que recebeu o convite de Marcelo Freixo para ser vice na chapa do Psol à Prefeitura do Rio, o músico conta que se sentiu honrado, mas tratou com desdém: "Vocês estão malucos!".

Após ouvir melhor o programa de Freixo, acabou topando. "Cheguei ao final da campanha mais otimista do que quando entrei, especialmente ao me deparar com uma juventude com esperança política, que não está só advogando em causa própria", concluiu.

Em 2017, Yuka lançou o álbum "Canções para Depois do Ódio", seu primeiro trabalho após mais de uma década, contando com as participações de Black Alien, Céu, Seu Jorge e outros músicos e amigos.

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