Rio - Uma questão burocrática atrasou a libertação de Leonardo do Nascimento dos Santos, preso na última quarta-feira após ser confundido com um dos autores de um crime ocorrido no dia anterior, em Pedra de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio. No episódio, Matheus dos Santos Lessa, de 22 anos, foi morto a tiros ao tentar defender sua mãe durante o assalto em sua mercearia.
Durante toda a tarde desta quarta-feira, familiares de Leonardo aguardavam sua libertação em frente ao presídio de Benfica, na Zona Norte do Rio, onde ele se encontra. No entanto, o alvará de soltura registrava sua transferência para uma unidade prisional em São Gonçalo, na Região Metropolitana. Por esta razão, o oficial de Justiça precisaria primeiro se dirigir à São Gonçalo e só então poderia levar o documento à Benfica.
Até o início desta noite, Leonardo permanecia preso. Sua defesa informou não ter conhecimento de que ele estava prestes a ser transferido e disse acreditar ter ocorrido um erro de sistema. A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) não explicou a situação. "Estamos aguardando o alvará de soltura que ainda não chegou na unidade prisional", se limitou a dizer em nota.
A revogação da prisão foi determinada nesta madrugada pelo juiz plantonista Ricardo Coimbra da Silva Staling Barcelos, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) após a prisão de Yuri Gladstone Guimarães, que confessou o crime e a participação de mais duas pessoas, que estão foragidas.
Vigília
Jorge Benjamin, pai de Leonardo, avisou que passará a noite em vigília em frente à penitenciária caso não ocorra sua libertação. Ele diz que aguarda o momento de poder abraçar o filho e que, no último domingo, Leonardo completou o aniversário de 27 anos na prisão. Segundo Benjamin, os amigos lhe preparam uma recepção em Pedra de Guaratiba. A mãe do jovem também o aguarda em casa, pois não teria condições emocionais de ir à Benfica.
Nos últimos dias, familiares e amigos organizaram manifestações diante da penitenciária defendendo a inocência de Leonardo. A atuação de seus familiares foi também importante para provar que ele não participou do crime. Eles conseguiram obter imagens da câmara de um condomínio que mostra o jovem em uma rua retornando para casa em um horário próximo ao momento em que o crime ocorreu.
"O apoio dos amigos foi fundamental. A família estava sem chão e os amigos nos abraçaram. Mobilizaram pela rede social, fizeram camisa", diz Jorge. Ele vestia uma camisa com as fotos de Leonardo e Matheus. Segundo ele, seu filho vai virar a página e a família do jovem assassinado é a maior vítima dessa história.
Pesadelo
O pai de Leonardo disse que ao saber que o filho seria solto, se sentiu liberto de um pesadelo. Ele lamenta a forma como a prisão ocorreu. "Apresentaram ele a algumas testemunhas para reconhecimento. Colocaram ele no meio de outras duas pessoas que já estavam detidas, de cor de pele mais clara. Não quero julgar se houve racismo. Estou apenas dizendo a forma como ele foi reconhecido", disse Jorge, lembrando que o suspeito do crime era negro.
Benjamin disse que os policiais foram buscar seu filho em casa, mas ele estava ausente no momento. "Nós ligamos para ele e dissemos que a polícia estava lhe esperando. Ele retornou imediatamente. Ele poderia ter ido embora se realmente tivesse participação no crime". Apesar de toda a situação, o pai de Leonardo não quer apontar culpados pela situação. "Não quero acusar a polícia. Através do trabalho da polícia, ficou provada a inocência", diz.