Secretário de Policia Militar, coronel Rogério Figueredo - Fernanda Dias/Agência O Dia
Secretário de Policia Militar, coronel Rogério FigueredoFernanda Dias/Agência O Dia
Por RAFAEL NASCIMENTO E WILSON AQUINO

Rio - Desprezado pelos generais que comandaram a intervenção federal na Segurança Pública do estado, o projeto das UPPs não está morto. O secretário de Polícia Militar, coronel Rogério Figueredo de Lacerda, 48, defende a continuidade do laureado programa, copiado por outros estados do Brasil e até por alguns países.

A primeira nova unidade do atual governo será implementada na Favela do Jacarezinho, a mais problemática do Rio, na avaliação do comandante Rogério Figueredo. Terá como base uma construção mais moderna, segura e barata. Porém, o secretário ressalta que é preciso não deixar de lado a reestruturação da Polícia Militar nas áreas de logística, tecnologia, de efetivo, treinamento e ensino. 

O DIA: O projeto de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) foi a grande referência da segurança do Rio. Por que não deu certo?

Figueredo: Fui coordenador de inteligência, operacional e, depois, coordenador geral. Então, passei por três funções das UPPs. O projeto é muito bonito e importante, só que, na sua elaboração e construção, a Polícia Militar não era o único ator. Havia outros órgãos e secretarias que deveriam ter participado. E, a partir do momento que não houve essa integração e participação, de fato o projeto ficou comprometido.

Então, a PM não assume a culpa pelo fracasso do projeto?

Eu não vejo o projeto como um fracasso. A UPP ainda é muito importante para o Rio de Janeiro. Está em uma fase de realinhamento e de outras ações positivas. Só realmente quem viveu em meio ao cenário anterior sabe o que a UPP proporciona. Hoje, temos um legado muito importante que é o de dar segurança a todas as pessoas. Então, o projeto pode melhorar muito ainda. Ele vai ser mantido.

Algumas bases das UPPs estão deterioradas, colocando em risco a integridade do policial na comunidade. O que será feito para dar mais dignidade e proteção aos PMs?

A construção dessas bases será o meu desafio. Vou trocar todos os contêineres por bases de alvenaria. Elas terão vidros blindados, uma recepção com mesa e cadeiras para atender a população, banheiro, copa, alojamento com beliches e ar-condicionado. Isso já está sendo discutido nas áreas financeira, de engenharia e orçamentária, a fim de que tudo se passe de forma mais célere possível. A bases no Morro do Pinto, na Providência, e a da Ladeira dos Tabajaras, Copacabana, serão as novas referências de UPP.

E essa nova geração de UPPs começa por qual comunidade?

Minha prioridade é o Jacarezinho. A intenção é iniciar por essa comunidade. Os recursos estão dentro do nosso orçamento. Só precisamos organizar para começar. Podemos dizer que, até depois do carnaval, vamos iniciar a instalação dessa base.

Por que o Jacarezinho?

Porque ali há uma resistência muito grande (dos criminosos), e ainda não conseguimos fazer uma atuação de realinhamento. Então, teremos uma nova proposta para a UPP Jacarezinho. Vamos permanecer lá e fazer outro tipo de trabalho. Queremos melhorar aquela região.

E qual é o custo?

Cerca de R$ 45 mil (cada). Fortificada e com vidro blindado. As duas que construímos (Morro do Pinto e Tabajaras) foram feitas com os recursos da própria PM.

O que o senhor vai fazer para tentar reduzir a morte de policiais?

Continuaremos com os treinamentos para minimizar a vitimização policial. Vamos ampliar o percurso seguro, que é o trajeto entre a casa do PM e o seu trabalho. Principalmente para PMs de UPPs. A vitimização policial apresenta manchas criminais, apontando os locais com mais incidência de assassinatos. Queremos priorizar o reforço do policiamento nas vias expressas, para que todo mundo passe e não seja vítima de roubo, arrastão ou de assassinato.

Como amenizar a dor dos familiares dos PMs que foram assassinados?

Hoje, temos um núcleo que atende os familiares dos policiais vitimados. Queremos dar apoio tanto para o PM que esteja em algum hospital quanto para os entes queridos dele. Para nós, comandantes, dar um suporte aos familiares é muito importante.

O que o senhor sente quando é avisado que um PM foi morto?

Uma tristeza profunda. Nós pensamos, a toda hora, como podemos melhorar para que fatos assim não ocorram. A nossa preocupação é diária. Mas, a partir do momento que agimos para combater as incidências criminais, o número de mortes de PMs diminui. Fazendo isso para a sociedade, contemplamos também o policial militar.

Há suspeitas de que agentes da PM estejam envolvidos no assassinato da vereadora Marielle e do motorista dela. Se isso ficar provado, o senhor vai ficar surpreso ou decepcionado?

Não é questão de surpresa. Se isso acontecer, eu vou ter que encarar como liturgia do cargo. Como uma pessoa que está à frente de uma corporação, estou aqui para fazer a gestão desses problemas.

A milícia se expandiu muito, e vemos muitos policiais envolvidos. Não falta uma cultura dentro do treinamento da PM para orientar a tropa a não se envolver com isso?

Temos identificado que, na atuação das novas milícias e suas expansões, elas recrutam também ex-traficantes. Então, se você observar as milícias atuantes, existem muitos ex-traficantes na liderança. Essa afirmação (de que milícia é coisa de PM) não é a regra hoje. A milícia, atualmente, é apenas mais uma facção criminosa.

O governador nunca fala de milícia. Os milicianos conhecem a engrenagem do estado. Qual é o desafio da PM para tentar combater esses grupos paramilitares?

Integração dos órgãos. Tanto com a Polícia Civil quanto com o Ministério Público. Temos que trabalhar com as áreas de inteligência e operacional para fazer ações contra esses tipos de crime.

Qual é a sua utopia?

Que os crimes diminuam consideravelmente; que as pessoas sejam felizes no Rio; e que a corporação realmente seja uma referência para todo o Brasil. E que a gente avance em relação à polícia de proximidade.

Você pode gostar
Comentários