Rio - As ofensas tidas como racistas e preconceituosas, recebidas em rede social pela família do professor universitário e doutor em Filosofia e Teologia, Marco Antônio de Oliveira, de 53 anos, do arrendatário da Pousada Canto do Hibisco, Henrique de Santana, conforme o DIA Online publicou nesta segunda-feira com exclusividade, ganhou rápida repercussão. Empresários do setor se dizem indignados com o tratamento "surreal e desprezível" dado a Marco Antônio e seus parentes pelo estabelecimento, que fica na Ilha da Gipóia, na Ilha Grande, em Angra dos Reis, na Costa Verde.
Nesta manhã, em nota, a empresaria Roberta Nakamashi, por exemplo, dona da Pousada do Preto, uma das mais tradicionais da Ilha Grande, na Enseada do Bananal, se dizendo sensibilizada com o ocorrido, ofereceu estadia de um fim de semana de graça para a família do professor.
"Infelizmente, o que aconteceu foi uma atitude isolada. Oferecer estadia é uma forma de mostrar que os outros estabelecimentos da ilha, com certeza, não compactuam com tal comportamento (do arrendatário). Entendemos que nossos hospedes são preciosos, a razão de nossos empreendimentos. São amigos, independentes de cor, raça e credo", justificou Roberta, detalhando que as diárias oferecidas como cortesia incluem quartos de frente par o mar, pensão completa, translado e até passeio de barco. A pousada surgiu na década de 1990, nas instalações de uma antiga fábrica de pescados, por iniciativa de Kiyoshi Nakamashi, mais conhecido como Preto.
Se dizendo ainda "traumatizados", familiares de Marco Antônio, formado pela Universidade Pontifícia Católica (PUC), agradeceram o convite e disseram que vão pensar na oferta. Nesta segunda-feira, Priscila Oliveria, 28 anos, filha de Marco Antônio, vai registrar queixa na 166ª DP (Angra dos Reis), contra suposta pratica de racismo, furto, constrangimento ilegal e maus-tratos, que ela e mais três parentes alegam terem sido vítimas na Pousada Canto do Hibisco. De acordo com Priscila, que usou as redes sociais para denunciar o assunto, ao postar comentários sobre a "má impressão" deixada pela hospedagem, para eles, no site da pousada, Henrique de Santana — que disse ao DIA ser arrendatário do estabelecimento — rebateu as críticas "de forma violenta e humilhante", pelo mesmo canal.
Além de reclamar de um suposto furto de R$ 40 dentro da pousada, que, segundo Priscila, teria sido sofrido pelo namorado, Thiago Michimoto, 29, ela também afirmou que as humilhações, que viralizam na internet, serão detalhadas no boletim de ocorrências da Polícia Civil. "Tentamos registrar (o caso), neste domingo, em Niterói (na Região Metropolitana), mas um agente alegou que era melhor registrar em Angra, porque senão a tramitação do caso para o Sul do estado pode levar de um a dois anos", lamentou Priscila, que se hospedou na pousada também na companhia da mãe, Zeni Oliveira, 59. "Nunca fomos tão maltratados e humilhados. Há áudios em que Henrique diz à camareira que desconfiava de nós. Até água potável, garantida por lei, só nos serviram no café da manhã durante a estadia (entre os últimos dias 23 e 25), com diária de R$ 400", reclamou.
As postagens de Henrique, reproduzidos por Priscila nas redes sociais, chocaram os internautas. "Toma vergonha na cara e vai procurar um lugar onde seu bolso possa pagar. Aqui nunca foi pra gente da sua laia. Pobres, feios, miseráveis e mal-educados. Gipóia é pra quem tem classe, cerca elétrica, segurança 24h por dia é necessário (sic) na comunidade onde vc mora. Aqui é o Caribe Carioca, tem a proteção da Marinha do Brasil. Você não vai voltar aqui porque sua cara e de todos que vieram (família) estão estampadas nas pousadas da região por serem suspeitos...", diz uma das postagens.
As ofensas continuaram: "Escolha um lugar onde seu bolso possa pagar... entre com processos, liminares e afins. Todos os esquerdistas têm essa premissa... Só não se esqueça que o Brasil de 1º de janeiro não é o mesmo do governo passado. Aqui não tem Bolsa Família. Aqui é Angra dos Reis.... vai se tratar. Pobreza e miséria são espíritos vai se libertar (sic)"
O outro lado
Por telefone na noite de domingo, Henrique de Santana disse à reportagem do DIA que está preparando uma nota oficial, não divulgada até o momento, mas admitiu ter escrito as ofensas, veemente contestadas e criticadas na Internet. Ele alegou, porém, que "estava de cabeça quente". Henrique revelou que, neste domingo, ele também fez um registro de ocorrência na 166ª DP, por suposta calúnia, difamação e falsa denúncia contra Priscila.
"Essa história já foi longe demais. Eu, que também sou negro e abomino o racismo, já constitui advogados para me defender. Tivemos que tirar os sites da pousada do ar, porque comecei a receber até ameaças de morte de internautas. Meu prejuízo já é gigantesco, com o cancelamento de reservas e até eventos, entre eles, dois casamentos", argumentou, garantindo que, para evitar "maiores transtornos", deu R$ 40 a Thiago, que teria alegado sumiço do dinheiro de sua carteira, que havia ficado no quarto num dos dias. "Em 19 anos de atividade, a pousada nunca teve problema semelhante", finalizou.
Em nota oficial, sem assinatura, postada há pouco no Facebook da Pousada Canto do Hibisco (ver a íntegra abaixo), alguém que se identificou apenas como arrendadora do estabelecimento, disse que “o sr. Henrique Sérgio Soares de Santana (arrendatário) agiu pessoalmente, de forma diversa das normas e condutas aplicada na história do estabelecimento”.
Na mesma nota, que recebe abaixo dezenas de críticas de internautas, a suposta arrendadora fez questão “de deixar registrado o respeito e busca incansável pela proprietária da pousada em melhor atender seus hóspedes, o que garantiu mais de dez anos de funcionamento, elogios e referências”. Confira a íntegra:
"A POUSADA CANTO DO HIBISCO, localizada na Praia do Vitorino s/n° - Ilha da Gipóia – Angra dos Reis/RJ, vem a público promover o esclarecimento ao fato ocorrido e amplamente divulgado nas mídias e redes sociais pela Sra. Priscila Oliveira. Em primeiro lugar, fica registrado o respeito e busca incansável pela proprietária da Pousada em melhor atender seus hóspedes, o que garantiu mais de 10 (dez) anos de funcionamento, elogios e referências.
Em segundo lugar fica informado que a referida Pousada se encontra arrendada ao Sr. HENRIQUE SERGIO SOARES DE SANTANA, que ora agiu, pessoalmente, de forma diversa das normas e condutas aplicadas na história do estabelecimento. Por fim, a proprietária arrendadora se coloca à disposição para garantir melhor conforto à referida hóspede e que abomina qualquer tipo de conduta ou ato ofensivo e que está promovendo administrativa e judicialmente medidas para coibir qualquer prática similar."
Também em nota oficial (ver a íntegra abaixo) divulgada agora há pouco, Cida de Santana, que se identifica como parceira arrendatária da pousada, que assina a nota, reiterou o que Henrique Santana já havia dito ao DIA por telefone, de que respondera aos comentários de Priscila “em um momento de stress” e “fora do contexto”. A nota, entretanto, na qual Cida reproduz alegações de Henrique, afirma que diante do ocorrido, o arrendatário também alea ter sofrido “racismo, ódio gratuito, lucro cessante, e injúria e difamação, a partir da publicação de Priscila Oliveira”. Henrique de Santana disse ainda, por telefone, que está reunindo mensagens de ameaças que recebeu pela internet, e que deverão ser encaminhadas à polícia.
"A Pousada Canto do Hibisco, através de seu arrendatário, Henrique Santana , em um momento de stress , respondeu aos comentários acusatórios de roubo e desprestígio do local e da estrutura da pousada, feitos por Priscila Oliveira.
Suas respostas colocadas fora de contexto foram compreendidas como injúria e racismo. Eu , Henrique Santana, nascido e criado em Nova Iguaçu, estudante bolsista, filho de professor do estado. Em sua trajetória alcançou patamares, difíceis de se conseguir em um país, onde um homem negro muitas vezes não alcança. E aos 46 anos depois de vários negócios quebrados, devido a política econômica, chega em Angra dos Reis e resolve atender uma demanda que poucos têm coragem de fazer.
Quando chegou em Angra a Pousada praticava preços entre R$ 700 a R$ 1,5 mil e encontrou uma forma de atrair a clientela , através de preços acessíveis. Vale lembrar que a região é conhecida por abrigar a Ilha de Caras , carregou e carrega essa marca. A ilha tem uma das festas mais conceituadas no Rio, ainda possui um dos melhores restaurantes da região, frequentado pela socialites cariocas, músicos e artistas famosos.
A pousada passou a ter uma tarifa entre R$ 400 e R$ 800 , tornou-se um lugar acessível para trabalhadores , professores, estudantes, analistas , contadores etc. Profissões desprestigiadas nesse país.
A hospedagem da família de Priscila iniciou em 23 de janeiro, aparentemente uma família comum. A reserva foi feita de última hora , às 2 h da manhã . Nos causou estranhamento porque não houve contato telefônico e solicitação de informações acerca do local, preço é cardápio. Perguntas comuns dos nossos clientes , já que a ilha é privada. O primeiro contato telefônico foi com o Sr Tiago, que demonstrou total desinteresse sobre a ilha. O Sr Marco , por sua vez, ignorou nossos telefonemas.
Acatamos a reserva , sem garantia de que iriam pagar, já que desconheciam os protocolos da ilha. Vale lembrar que somos uma APA , temos o cuidado de informar sobre o abastecimento de água - poço artesiano. Não existe fornecimento de água potável na ilha. Sobre a energia, falta luz e entra o gerador. Pedimos sempre que não deixe luzes acesas por conta do bioma. Mas isso foi ignorado. Ao chegarem a ilha, o Sr Marco questionou o horário de jantar e café da manhã , se poderia estender.
A Cida , segunda arrendatária, informou que em relação aos horários não poderia flexibilizar porque não seria justo com os outros clientes que já estavam hospedados há mais de 3 diárias, que tomaram conhecimento das regras da pousada. Assim como também a Cida também informou que não poderia encher garrafas de água, como solicitado pela Priscila porque não temos água potável. Todos aqui bebem água engarrafada. Sua insatisfação foi óbvia, mas entendemos que não podemos atender a todas as demandas de cliente. A noite, por volta das 22 h a Sra Priscila acordou o namorado gritando e continuou a gritar pela pousada, afirmando que dormiria sem se alimentar.
O Henrique solicitou nosso funcionário Fábio , para atender a ela com uma pizza , já que o horário havia finalizado. Todos os clientes, dos 5 chalés ocupados , se alimentaram no horário citado. Depois de entregue a pizza , fomos obrigados a colocar um cadeado na geladeira porque a mesma afirmou que iria pegar a água e não pagaria, resguardada pela lei federal.
No dia seguinte, a tarde, solicitaram almoço , foi servido. O Tiago , namorado dela, acreditamos , mas dormiram em quartos separados afirmou ter sido roubado na pousada . A Cida informou a ele que isso era um engano porque não houve limpeza nos quartos deles porque não foi autorizado pela família. As chaves estavam aos cuidados deles. Inconformado, no dia do Check out , 25/01, este informou sua insatisfação em não ter sido ouvido que foi roubado . A nossa funcionária Stella perguntou se ele hóstia de chamar a polícia para atende-lo.
Ressalto que a informação foi dada na presença dos outros hóspedes no café da manhã. Imediatamente Cida , voltou e perguntou - lhe sua insatisfação, ele disse que estava tudo bem e que não precisava de 40 reais e não ia fazer diferença. Henrique irritado com a exposição dos nosso funcionários , sendo chamados de ladrões, foi até a mesa e deu o dinheiro (40 reais) , afirmando que não acontece isso na casa. O mesmo aceitou o dinheiro e demonstrou antipatia com a solução encontrada.
No saída do Cais , nosso funcionário recebeu 40 reais de gorjeta deles, fica a pergunta: acusar os funcionários de roubo não é crime ? Ser lesado e não chamar a polícia é no mínimo estranho. Dar gorjeta a um funcionário de uma pousada onde foi destratado , é natural? Depois de ter sido roubado?
Falar que a pousada , em uma ilha privada , com câmeras de segurança pode ser invadida por piratas e bandidos depois de ficar jogando sinuca até 2 h da manhã , enquanto todos dormiam é comportamento de uma família equilibrada. Todos os hóspedes que veem para a ilha sabem que suas atividades são diurnas porque é dito no primeiro contato.
Ao saírem da pousada , informamos ao Booking a má conduta da família hospedada. No mesmo dia, Henrique respondeu a Sra Priscila suas acusações acerca de um roubo que nunca aconteceu. Respondeu em sua página pessoal do Facebook, e o resto da história, já conhecem.
A sua publicação foi disseminado como ataque cibernético. O que provocou “n” telefonemas agressivos, ameaças de morte, injúria , difamação e racismo até de homossexual , o Henrique Santana foi chamado. E ainda , nas páginas do Facebook , o seu casamento, seus amigos foram questionados agressivamente por pessoas que não nos conhecem e nem conhecem a pousada .
Eu, Henrique Santana peço perdão pelas palavras ácidas , agressivas e sem propósito a Priscila Oliveira , em um momento de defesa da integridade dos nossos funcionários.
Informo que estou aguardando os processos sugeridos pelas pessoas no Facebook, no Booking , no Instagram para assim, tomar as devidas providências judiciais.
Fica aqui a seguinte observação: sofri racismo, ódio gratuito, lucro cessante, injúria e difamação a partir da publicação de Priscila Oliveira .
Att
Cida de Santana"