Rio - Foragido há 13 anos, Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho Guarabu, de 39 anos, chefão do tráfico de drogas da Ilha Governador, teve o 11º mandado de prisão expedido pela justiça. Desta vez, pelo assassinato de Rafael Carneiro da Silva Neto, em abril de 2013, morador do Morro do Dendê. Ele tinha 35 anos na época e foi morto porque teria agredido e estuprado uma jovem na favela com quem ele tinha um relacionamento.
Pelo mesmo crime também foi decretada a prisão de Gilberto Coelho de Oliveira, o Gil.
O morador foi pego em casa por bandidos armados, julgado no tribunal do tráfico, passou um dia inteiro amarrado a um poste sendo torturado, foi morto à noite, teve o corpo esquartejado e jogado na Baía de Guanabara.
O inquérito da morte de Neto foi concluído em novembro de 2018 pela Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA). O corpo ainda não foi encontrado e a especializada aguarda resultado de exame de DNA feito em partes de corpos encontrados na Baía de Guanabara, próximo à Ilha.
A sentença de morte da vítima foi decretada por Fernandinho Guarabu após a família da jovem procurar o bandido pedindo punição para Neto. No entanto, há relatos de que ela teria inventado o estupro porque ficou com raiva de Neto após apanhar dele.
"Esses dois criminosos têm como imposição a morte, o esquartejamento e a ocultação do corpo de suas vítimas. Sabemos que os restos mortais são jogados na Baía de Guanabara, na altura do Bancários. Essa é a característica desse tribunal", contou a delegada-titular da (DDPA), Ellen Solto. O desaparecimento de Rafael foi comunicado à delegacia na época por parentes.
Segundo as investigações, a mãe de Rafael chegou a ir a uma boca de fumo pedir clemência pelo filho. No local, ela teria ouvido de um criminoso: "Não adianta procurar o seu filho, porque ele já está lá na (Baía de Guanabara). Está morto já, e a senhora não vai encontrar nunca". E o bandido ainda a ameaçou. "Não adianta dar parte na polícia porque vai ser pior para vocês".
Guarabu já foi condenado quatro vezes por homicídio e tráfico e suas penas somadas passam de 100 anos. O bandido é investigado em pelo menos 14 inquéritos.
Promotor diz que Baía de Guanabara é cemitério de Guarabu
As investigações mostram que Rafael foi torturado por horas e que esquartejar seus desafetos é uma prática de Guarabu. "É chocante. Fernandinho Guarabu e o Gil fazem justiça com as próprias mãos. Eles são os investigadores, os acusadores, os juízes, os carrascos e os executores", afirma o promotor da 30ª Promotoria de Investigação Penal (PIP), Sauvei Lai.
"O Rafael foi humilhado publicamente por horas antes de ser assassinado", revelou ele.
Para Lai, a Baía de Guanabara é o cemitério de Guarabu. "O Guarabu e o Gil têm um cemitério clandestino marítimo (a Baía de Guanabara) à disposição. Isso dificulta o início de uma investigação", declarou o promotor.
Desde 2001 como promotor da Ilha do Governador, Lai tem inquéritos que mostram a crueldade de Guarabu e seus aliados. "Ele não aceita que assaltantes, estupradores ou supostos delatores atuem na Ilha. Ele não quer atrair a atenção do estado para aquela região. Então, quando há algum tipo de roubo ou estupro eles rapidamente executam esses suspeitos", enfatizou o promotor.
Para o assistencialismo à comunidade contribui para que Guarabu ande livremente pela Ilha e que consiga fugir de operações policiais. Há muitas denúncias também de que ele teria a proteção de policiais a quem pagaria para não prendê-lo.
"Temos inquéritos de que moradores o ajudam na suas fugas. O Guarabu é assistencialista. Ele distribui remédios, gás, comida. Isso faz com que a comunidade o apoie e o esconda", explicou Lai.
O Morro do Dendê tem posição geográfica favorável ao tráfico, principalmente por ser perto da Baía de Guanabara. A comunidade fica ainda ao lado do Aeroporto Internacional Tom Jobim e das três principais vias do estado — Avenida Brasil e linhas Amarela e Vermelha.
"O Morro do Dendê é um entreposto perfeito para o tráfico de drogas e armas que entram pela Baía de Guanabara. Eles aproveitam da dificuldade da fiscalização no mar e se valem disso", disse o promotor. "O material que entra pela Ilha é rapidamente distribuído para outros locais do Rio, já que pela região existem vias importantes", completou Lai.
Integrante do bando de Guarabu teria matado PM
A polícia investiga ainda Antonio Eugênio de Souza, o Batoré, apontado como matador da quadrilha de Fernandinho Guarabu, foi o mandante da morte do major Alan de Luna Freire, de 40 anos, em novembro do ano passado. O oficial era lotado no 17º BPM (Ilha do Governador) e foi assassinado a tiros de fuzil no Jardim Esplanada, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Dias antes, Batoré teria feito as ameaças há há alguns dias ao policial que participou de uma operação com a da Delegacia de Roubos e Furtos (DRFA) onde dois seguranças de Guarabu foram mortos.
Informações que leve às prisões de Fernandinho Guarabu e Gil podem ser repassadas para a DDPA pelos telefones (21) 2202-0337, (21) 2202-0338 e (21) 2582-7129. Os telefones funcionam 24 horas por dia e o anonimato é garantido.