Denúncias envolvem PMs do 17º BPM - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia
Denúncias envolvem PMs do 17º BPMDaniel Castelo Branco / Agência O Dia
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - Considerado praticamente intocável pelas autoridades da Segurança Pública do Estado do Rio, Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho Guarabu, de 39 anos, chefão do tráfico de drogas da Ilha do Governador, conta com uma extensa rede de proteção que inclui policiais militares do 17º BPM (Ilha). Seriam pelo menos 15 agentes da unidade que, em vez de servir e proteger a população, repassam informações ao traficante. Esse seria um dos motivos pelo qual Guarabu nunca foi preso até hoje. Procurada pelo O DIA , a Secretaria de Polícia Militar informou que abrirá um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar as denúncias.

A 'ajudinha' já era de conhecimento do Ministério Público Estadual, e isso estava incomodando a cúpula da PM. Agora, por determinação do secretário de Polícia Militar, Rogério Figueredo, as informações serão encaminhadas à Corregedoria da PM e, segundo afirmou a pasta, serão apuradas "com a ênfase e o rigor pertinentes".

Nesta terça-feira, O DIA deu com exclusividade que Fernandinho Guarabu, foragido há 13 anos, é suspeito de um novo crime: a execução, em 2013, de Rafael Carneiro da Silva Neto, morador do Morro do Dendê. Ele teria sido torturado e esquartejado, e seu corpo teria sido jogado na Baía de Guanabara pelo bandido, após uma queixa de uma mulher com quem Rafael mantinha uma relação. A moça teria dito que fora estuprada pelo rapaz. O carro em que a vítima estava — um Gol — foi encontrado, dois dias depois do crime, carbonizado e abandonado, na Estrada de Tubiacanga. "Fernandinho Guarabu, mais uma vez, manteve sua estratégia de praticar o homicídio e, posteriormente, ocultou o cadáver para dificultar o trabalho da investigação", disse a delegada Ellen Souto, titular da DDPA.

"A Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que o comando da corporação não compactua em hipótese alguma com possíveis desvios de conduta de seus membros. O comando ressalta ainda que uma pequena parcela da corporação não representa a maioria absoluta do efetivo, que trabalha de maneira digna e incansável pela manutenção do direito de ir e vir dos cidadãos do Rio", posicionou-se em nota a PM a respeito dos possíveis 'colaboradores'.

De acordo com as denúncias levadas ao MP, os agentes do 17º BPM recebiam uma quantia por semana para formar uma espécie de segurança pessoal de Guarabu e para o alertar, horas antes, sobre operações no Morro do Dendê. O bandido, mesmo sendo um dos mais procurados do estado — há recompensa de R$ 30 mil para quem der detalhes que levem a sua prisão —, transita livremente por bairros da Zona Norte e Oeste.

Diversas delegacias do estado e até a Polícia Federal estão de olho no paradeiro do bandido. Mas, para escapar das garras da polícia, ele conta com a ajuda também de moradores e comerciantes. Um dos artifícios do traficante seria, segundo o MP e a Polícia Civil, o assistencialismo.

Guarabu paga remédios, gás, comidas e outras coisas mais para quem vive naquela região. Entretanto, para seus desafetos, a sentença seria a morte. De acordo com o MP, o bandido conduz com mãos de ferro a favela e é impiedoso com supostos informantes da polícia, ladrões e estupradores da região. A sentença? O esquartejamento.

Advogada: "propina não procede"

A advogada de Fernandinho Guarabu, Thaís Menezes Teixeira, defendeu o seu cliente sobre as denúncias de que ele daria propina a policiais militares para não ser preso no Morro do Dendê ou transitando por outros bairros da cidade. Segundo ela, tal "fato não procede".

"Importante registrar que é de conhecimento de todos que a polícia, inclusive a Operações Especiais, faz diversas incursões na Ilha do Governador, com apreensões expressivas de armamento e entorpecentes, além de realização de prisões. O que desmente as denúncias, pois, se houvesse pagamento de propina, não faria sentido haver operação policial na localidade da Ilha do Governador", afirma a advogada.

Thaís Menezes de Teixeira também falou sobre as inúmeras outras denúncias, inclusive de assassinatos a desafetos e moradores, que recaem sobre seu cliente: "Com relação às dezenas de acusações, cada uma narra um fato, e há inclusive processos em que houve absolvição do acusado", concluiu ela.

Mais um caso está sob investigação

Diego Emiliano Ribeiro - Arquivo Pessoal

Guarabu tem 11 mandados de prisão expedidos pela Justiça e ao menos 14 inquéritos sendo apurados pela 30ª Promotoria de Investigação Penal (PIP). Até agora, o traficante já foi condenado quatro vezes por homicídio e tráfico, e suas penas somadas passam de cem anos.

Entre as dezenas de investigações que constam contra o criminoso está a da morte do assistente de manutenção Diego Emiliano Ribeiro, em 2013. À época, ele tinha 28 anos. A Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) sabe que a vítima foi executada no alto do Morro do Dendê, e seus restos mortais foram jogados na Baía de Guanabara, na altura do bairro Bancários. O motivo do assassinato seria que o homem estaria passando informações à polícia.

Sobre essa caso, a advogada de Guarabu, Thaís Menezes, disse que o caso ainda não está aos seus "cuidados jurídicos".

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