Rio - O clima de revolta marcou o enterro do porteiro da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rômulo de Oliveira da Silva, de 37 anos, no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju, Zona Portuária do Rio, nesta quinta-feira. Ele foi baleado no peito na terça-feira quando levava a moto em uma oficina na localidade da Coreia, em Manguinhos. Familiares e moradores afirmam que o tiro foi disparado de uma torre da Cidade da Polícia, por atiradores de elite, e cobram a retirada da torre, temendo novas mortes.
Funcionário há quase um ano da Fiocruz, onde trabalhava no turno da noite, Rômulo deixou um filho de quatro anos. Na sexta-feira mataram um outro trabalhador, o Carlos Eduardo dos Santos Lontra, de 27 anos, no local.
Abalada com a morte do marido, Fabiane da Silva, pensa em se mudar da região. "Não estou nem pensando em processar ninguém neste momento, só quero cuidar do meu filho e sair dali", comentou. Funcionária da horta comunitária de Manguinhos, Márcia da Silva, 44 anos, diz que não houve qualquer operação policial ou troca de tiros. "Não é a primeira vez que isso acontece, não havia nenhuma operação policial ou tiroteio. Na semana passada mataram uma pessoa, agora foi o Rômulo que estava de folga e tinha levado a moto para consertar. Quer dizer que uma pessoa de mochila e moto é bandido? Não são todos os moradores de Manguinhos que são bandidos, a maior parte é de pessoas de bem, trabalhadores. É preciso tirar aquela torre da Cidade da Polícia. Quantos mais precisam morrer para alguém fazer alguma coisa? Olha a quantidade de amigos que ele tinha. Rômulo era uma pessoa querida por todos", afirmou.
Rômulo de Oliveira da Silva já cumpriu pena por porte ilegal de arma. A Secretaria de Estado de Polícia Civil informou que não autorizou nenhuma ação de atiradores de elite de dentro da Cidade da Polícia, e que a Delegacia de Homicídios (DH) está investigando a morte de Rômulo. Os agentes buscam imagens de câmeras de segurança que possam esclarecer o crime.
Em nota, a direção da Fiocruz disse que a vítima trabalhava à noite no Centro de Documentação e História da Saúde (CDHS), e que está prestando todo o apoio à família do funcionário, além de estar fazendo contato com a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa (Alerj) e com o Conselho Comunitário da Área Integrada de Segurança Pública 22, de onde é membro, exigindo a apuração dos fatos.
Pai desolado
Aos 70 anos, o aposentado Luiz Carlos da Silva não imaginava que enterraria um dos seus filhos. "É uma perda que vou levar até os últimos dias da minha vida. Não vou esquecer nunca a dor no coração que é a perda do meu filho. O certo são os filhos enterrarem os pais, não o contrário. Uma parte minha está naquele caixão com ele. Rômulo estava feliz, tinha conseguido um emprego. Agora, quem irá cuidar do filho dele? Tenho certeza que o responsável pelo tiro esteja pensando na tragédia que causou, ele destruiu uma família. Deixou uma criança órfã", afirmou.
Segundo aposentado, o filho era uma pessoa tranquila. "Ele teve o problema com Justiça, cumpriu pena, agora vivia para a família. Ele pode ter errado no passado, hoje tinha emprego, cuidava do filho. É muito triste. Não vou me recuperar desta perda. Nenhum pai se recupera", concluiu.