Sala de hipodermia na nova gestão - Divulgação
Sala de hipodermia na nova gestãoDivulgação
Por Bernardo Costa

Rio - Pacientes internados em cadeiras de plástico, CTI sem especialistas, superlotação e problemas de infraestrutura. Essa é a realidade do Hospital Federal de Bonsucesso, segundo relatório enviado ao Conselho Regional de Medicina (Cremerj), ao qual O DIA teve acesso, assinado pelo novo gestor da emergência, o médico Julio Moreira Noronha. Ele classificou o que viu como "um crime à dignidade humana". Hoje, ele se  reuniu com o Conselho para pedir uma interdição ética imediata no hospital, com fechamento da emergência por 30 dias.

"É para que possamos estabelecer métodos de trabalho e recompor equipes. A gestão anterior inaugurou o setor de CTI sem médicos intensivistas. Isso é uma farsa", afirmou Noronha.

Pela emergência, o médico relatou ter encontrado pacientes internados há cerca de quatro dias em cadeiras de plástico. Segundo o médico, a medida era uma forma de maquiar a real situação do hospital. "É um cenário dantesco. E eu não posso compactuar com isso. Era como se os pacientes estivessem sentados aguardando atendimento. Mas, na verdade, eles estavam internados em cadeiras comuns".

Em relação à superlotação, o médico relatou que a capacidade da emergência é de 48 leitos, mas havia 79 pacientes internados e 93 atendimentos sendo realizados no dia em que assumiu a gestão do setor, na semana passada. Ainda há problemas de infraestrutura na unidade, como banheiros entupidos, mofo e infiltrações nas paredes. No setor de clínica-médica, será preciso fechar cinco leitos para obras.

Reativação dos serviços

Segundo Noronha, a nova gestão do Bonsucesso pretende reativar o serviço de transplante de córnea, fornecer condições adequadas para a formação de médicos residentes e recuperar a capacidade total de 503 leitos.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que realiza, desde o fim de janeiro, "uma análise profunda da situação de atendimento e gestão nos seis hospitais federais localizados no Rio de Janeiro". De acordo com a pasta, a medida tem o objetivo de otimizar o funcionamento dos serviços e qualificar a assistência, tornando o atendimento mais ágil e acessível. Na semana retrasada, o ministro da Saúde havia anunciado a integração das Forças Armadas em serviços administrativos das unidades federais.

O Hospital Federal de Bonsucesso tem enfrentado uma grave crise há meses, que foi intensificada com a rixa entre a ex-diretora Luana Camargo e os funcionários, que a acusavam de sucatear a unidade e promover indicações políticas em cargos.

Resultado da reunião

Após reunião na tarde desta segunda-feira, o Cremerj informou que "solicitou prioridade máxima no agendamento da próxima fiscalização no Hospital Federal de Bonsucesso". "Caso as irregularidades denunciadas sejam confirmadas durante a vistoria, a interdição ética torna-se uma realidade", diz trecho da nota enviada a imprensa. 

Participaram da reunião o presidente do Cremerj, Dr. Sylvio Provenzano, a vice-presidente, Dra Célia Regina, do conselheiro Ricardo Azedo, do presidente do corpo clínico do HFB, Dr. Baltazar Fernandes, do chefe da Emergência, Dr. Julio Noronha, do primeiro secretário do corpo clínico, Dr. Mauro dos Santos e do presidente da Federação Nacional dos Médicos, Dr. Jorge Darze.

Bonsucesso

Vale esclarecer que os profissionais da ação integrada estão atuando em cada hospital, como no caso de Bonsucesso, para identificar a necessidade das unidades. O grupo conta com profissionais dos hospitais de referência e excelência do país, como o Sírio Libanês, Albert Einstein, Alemão Oswaldo Cruz, Hospital do Coração e o Moinho de Vento. Além disso, as Forças Armadas, também, atuarão nesta ação, emprestando sua expertise na área de gestão de processos e abastecimento, como organização de estoques e reposição.

É importante destacar que, a execução dessas ações seguidas de outras que se mostrarem necessárias durante o período de diagnóstico, é uma resposta do Governo Federal, em sua própria rede, às solicitações de melhoria de gestão, de estruturação da rede física e resolutividade da rede assistencial que podem ser replicadas nas unidades públicas de saúde de todo o país".