Ônibus soterrado por deslizamento na Avenida Niemeyer, durante o temporal da noite de quarta-feira. Dois morreram no local - Severino Silva/Agência O Dia
Ônibus soterrado por deslizamento na Avenida Niemeyer, durante o temporal da noite de quarta-feira. Dois morreram no localSeverino Silva/Agência O Dia
Por *Caio Cardoso e *Felipe Rebouças

Rio - "Eu vivi um milagre aqui de ter sobrevivido", desabafa Ari Ribeiro da Paz, cunhado de Isabel Paz e tio de Mauro Paz, que morreram em Barra da Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, após o desabamento da casa da família em consequência do temporal que atingiu a capital fluminense, na noite desta quarta-feira.

No local, foram resgatados Arthur e Áureo, filho e marido, respectivamente, de Isabel. Eles foram levados para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, eles estão estáveis.

Além de mãe e filho, outras três pessoas morreram durante a tempestade no Rio. A terceira morte aconteceu na Rocinha e a quarta no Vidigal, após o desabamento de um muro. A quinta vítima fatal foi uma passageira de um ônibus que foi atingido por um deslizamento na Avenida Niemeyer, em São Conrado. Por causa das mortes, a prefeitura decretou luto oficial de três dias na cidade, que está em Estágio de Crise desde às 22h15. 

Casa da fam - Estefan Radovicz / Ag

Ari mora perto do irmão e disse que já se preparava para dormir quando faltou luz e árvores começaram a cair no telhado da casa dele, onde só sobrou o banheiro."A telha começou a estalar e dar sinais de que ia quebrar. Foi só o tempo de levantar e sair de dentro de casa. Apenas o banheiro ficou inteiro", diz.

O homem conta que logo correu para a casa do irmão, onde já encontrou os parentes soterrados. "Eu comecei a gritar pedindo ajuda e dois vizinhos desceram na hora para me ajudar. O primeiro encontrado foi o Áureo, pois estava perto de mim, depois achamos o Arthur, e quando os bombeiros chegaram conseguimos achar os corpos do Mauro e Isabel", lamentou ele.

A enfermeira Silvana Mariano Costa da Silva, sobrinha de Isabel e prima do Mauro, disse que quando soube da tragédia saiu apressada para buscar a irmã em Ilha de Guaratiba. "Fomos para a casa da minha tia saber o que de fato aconteceu. E dói muito porque eles eram uma família feliz, estavam casados há mais de 30 anos e o meu tio nasceu naquele bairro."

"A minha irmã mais nova chegou lá em casa, na ilha de Guaratiba, por volta de 1h30 da manhã contando o que tinha acontecido com a minha tia, e quando chegamos na casa da Isabel, o bombeiro já havia retirado o corpo e estavam tentando resgatar o meu primo Mauro, mas encontraram muita dificuldade, tanto é que só conseguiram retirar umas 4h, 5h da manhã. Eu nasci e fui criada ali, e nunca vi uma chuva como essa, acontece as chuvas normais, mas não com essa força, foi uma tragédia sem tamanho", completou Priscila Mariano Costa de Souza, sobrinha de Isabel e prima do Mauro.

A cunhada de Isabel, Alaíde da Paz, 69 anos, relata que estava no quarto quando escutou um estouro na janela. "Cai em cima da cama da minha sobrinha e veio entrando uma lama negra pela porta do quarto. Meu sobrinho falou 'tia vamos sai daqui'. Meu irmão Áureo pedia muito socorro e eu não podia socorrer", conta. "Foi muito triste, eu tremia de nervoso. Moro em Guaratiba há 69 anos e nunca vi esse vento tão forte na minha vida", finaliza. 

Casa vizinha a do desabamento que tamb - Estefan Radovicz /Ag

A casa da operadora de serviço marítimo Isabel Andreia Balzli, de 47 anos, também foi uma das atingidas pelas fortes chuvas em Barra da Guaratiba. "Ouvimos um barulho muito grande nos fundos da casa. Eu e meu marido vimos que tinha uma árvore enorme em cima do telhado, que chegou até a quebrar. Mas foi justamente a árvore que segurou toda a terra que cairia em cima da casa. Já limpamos tudo e, graças a Deus, não tivemos nenhum prejuízo grande". 

Familiares de Isabel e Mauro identificam corpos no IML, no Centro do Rio - Marcio Mercante / Ag

Apesar disso, a operadora disse que ainda está com medo porque a chuva pode voltar. "A encanação da água quebrou, o tronco caiu em cima da fiação elétrica, e estão até agora. Eu fico com um pouco de medo porque a chuva pode voltar e fazer mais peso em cima da fiação, e aí o prejuízo será maior", teme Isabel.

A mulher conhecia Isabel e o filho dela Mauro, duas das cinco vítimas fatais do temporal. "Aqui, é um bairro pequeno e todos se conhecem, são todos amigos. Eles eram muito queridos no bairro", lamenta.

Isabel diz que não pretende sair do bairro mesmo com medo de novos temporais. "A nossa casa é própria, o meu trabalho é perto e, por isso pretendemos continuar morando aqui. Foi a primeira vez que uma chuva dessas caiu e fez todo esse estrago", completa.

Casa de Isabel Paz - Estefan Radovicz / Ag

Familiares e amigos prestam homenagem nas redes sociais 

Parentes e amigos de Isabel e Mauro prestaram homenagens e lamentaram nas redes sociais. "Me desculpe por não conseguir chegar a tempo. Só eu sei o que sinto nesse momento", declarou um parente. "Vou sempre lembrar de você e seu filhão com esse sorriso. Descansem em paz", escreveu uma amiga. "Família Paz, em luto", comentou outra. 

Intensidade

A chuva que caiu na cidade começou por volta das 20h, quando o município entrou em Estágio de Atenção, atingindo principalmente as zonas Oeste e Sul. As sirenes da Rocinha e do Sítio Pai João, no Itanhangá, foram acionadas. O temporal foi até meados das 23h30.

Veja onde mais choveu nas últimas 24h:

Rocinha: 165,4 mm

Vidigal: 162,2 mm

Alto da Boa Vista: 141,1 mm

Barra/Barrinha: 143,2 mm

Jardim Botânico: 128,2 mm

Riocentro: 112,4 mm

Ventos

O temporal veio acompanhado de rajadas de ventos de grande intensidade, provocando a queda de diversas árvores, algumas em cima de carros e fiação elétrica. Entre 21h e 23h, a estação do Inmet no Forte de Copacabana registrou velocidade de 110,16 km/h.

No Arpoador, também na Zona Sul, um veleiro encalhou na areia da praia e pode ser visto pela manhã desta quinta. Na mesma região, estruturas de quiosques desabaram.

*Estagiários sob supervisão de Cadu Bruno

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