Furto de cabos no estado interrompe serviços essenciais, como transporte e telecomunicação - DIVULGAÇÃO
Furto de cabos no estado interrompe serviços essenciais, como transporte e telecomunicaçãoDIVULGAÇÃO
Por FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Modalidade de crime que já causa prejuízos anuais de R$ 700 milhões ao setor e deixa milhares de pessoas diariamente sem luz, telefone, internet e até sem transportes no Rio de Janeiro, o furto de cabos de telecomunicações dobrou no estado nos últimos dois anos. Em entrevista exclusiva ao DIA, o presidente da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), Eduardo Levy, garante que estudos encomendados pela entidade confirmam que há atuação de criminosos ligados às milícias e ao tráfico de drogas nos furtos.

"Antes, os bandidos furtavam para sustentar o vício em crack. Com o cerco da polícia junto aos que compram esses produtos, quem passou a atuar são os piratas de redes, a serviço de paramilitares e traficantes", revela Levy.

Em 2018, foram registradas no Estado do Rio pelo menos 18 mil ocorrências — 50 por dia. Tal número resulta na perda de cerca de mil quilômetros de cabos no período, o equivalente à distância entre Rio e Brasília.

"Além de cabos, as quadrilhas passaram a levar também itens muito específicos, como radiocomunicadores, modens e equipamentos de fibra óptica, que não são comprados por ferros-velhos", justifica Levy, afirmando que uma parcela dos 10 mil novos registros anuais de pequenas empresas no mercado junto à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) presta serviços clandestinos nas comunidades. "Algumas se registram legalmente, mas estão ligadas à milícia e ao tráfico, colocando câmeras em condomínios, ruas e praças, vendendo canais de TV ilegalmente, por exemplo", completa.

Origem ilícita

Levantamento do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf) aponta que 70% dos equipamentos das redes de telecomunicações usados pelos pequenos provedores são de origem ilícita.

A Polícia Civil, por sua vez, não dá informações de investigações em curso. A Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) afirma que vem intensificando operações em ferros-velhos nas zonas Norte e Oeste do Rio. Na última terça-feira, agentes recolheram um caminhão de peças e fiações de origem suspeita em alguns dos 18 estabelecimentos fiscalizados.

Concessionárias: prejuízos diários

Em nota, a Light informou que de 2016 a 2018, cerca de 20 km de cabos e cordoalhas foram furtados, gerando prejuízo de cerca de R$ 2 milhões. "A Light registrou 434 casos de furto de cabos nos últimos 5 anos", detalhou a empresa. A Oi, por sua vez, disse ter feito 15.510 novos registros de furtos de cabos de telefonia em 2018, sendo 9.736 na capital. Assim como a Light, a Oi adota medidas preventivas  mas ambas requerem mais segurança pública.

Já a Supervia ressaltou que no mês passado sofreu quatro casos de furtos. Em 2018 foram 175 ocorrências e nos três anos anteriores, 993. "Só com a reposição dos equipamentos, a SuperVia gasta em torno de R$ 6 milhões por ano", apontou um trecho da nota. O Metrô Rio não teve ocorrência do tipo em 2018. O Disque Denúncia (2253-1177) recebe informações para que a polícia localize criminosos.

Cabo com 'DNA' previne ocorrências

O mercado já testa cabos criptografados, com uma espécie de DNA, que só funciona com o equipamento de origem. Se for furtado, não serve em outro. Hamilton Silva, diretor da Minipa Sense, líder em monitoramentos por fibra óptica, já exporta o software inteligente, que filtra chuva, vento, galhos, pássaros e veículos, além de manter sensibilidade máxima para escada encostando na rede, escavação, abertura de tampas, tensionamento e tentativa de corte.

"Tudo integrado a câmeras, luzes, sirenes, alarmes e equipes prontas a acionar a polícia", detalha Silva. No dia 30, furto de cabos da Oi impediu o atendimento a motoristas nos postos de vistoria do Detran da Avenida Francisco Bicalho e Rua Fernando Gusmão, em Irajá. "Pela oitava vez no mês", lamentou Amélia Silva, numa rede social.

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