Pedro Henrique foi sepultado na manhã deste sábado - Luciano Belford / Agência O Dia
Pedro Henrique foi sepultado na manhã deste sábadoLuciano Belford / Agência O Dia
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - O jovem Pedro Henrique Gonzaga, morto após um desentendimento com um segurança do hipermercado Extra, da unidade da Barra da Tijuca, foi enterrado na manhã deste sábado, no cemitério Jardim da Saudade de Paciência, na Zona Oeste do Rio. Muito abalada, Dinalva Oliveira não conseguiu acompanhar o sepultamento do filho. Cerca de cinquenta pessoas estiveram presentes.

De acordo com amigos, Pedro Henrique era um rapaz tranquilo. "Saíamos direto. Ele era um rapaz tranquilo, sempre respeitava as pessoas. O que aconteceu com ele foi covardia. Ele era um garoto pequeno e o segurança enorme. Não tinha porque ter feito aquilo", lamentou o estudante Maurício Felipe Barros.

Jovem foi morto na tarde de quinta em um mercado da Barra - Luciano Belford / Agência O Dia

Ainda segundo os amigos de Pedro Henrique, ele sonhava em ser MC e, recentemente, tinha gravado uma música que seria lançada em breve. " A última vez que nos falamos foi nesta semana sobre a música que seria lançada e sobre o clipe que iríamos fazer também. Ele queria realizar o sonho da gravação do clipe. Em homenagem a ele vamos gravar", revelou o DJ e amigo, Rafael Medeiros da Costa. 

Pedro Henrique deixa um filho de seis meses. Uma manifestação contra a morte do jovem está marcado para este domingo em frente ao supermercado. Os internautas que organizam o ato indicam que o golpe 'mata-leão' sofrido pelo rapaz teve cunho racista.

'Tá sufocando ele'

Dinalva Oliveira — mãe de Pedro Henrique — assistiu Davi Ricardo Moreira Amâncio enforcando e matando o DJ. A mulher disse que estava com uma amiga e o rapaz no caixa do hipermercado quando ele saiu de perto. Em seguida, Dinalva contou que o rapaz saiu correndo e viu o filho já caído na porta do estabelecimento. Ainda de acordo com a mãe de Pedro, ela disse que foi ao local para tentar salva-lo e avisar que o rapaz está sob efeito de drogas. Foi naquele momento que a mulher contou que a briga começou. Quando o segurança agarrou o rapaz e o jogou no chão, Dinalva chegou a dizer que à Davi que ele estava sufocando o filho. Entretanto, o pedido para que Pedro fosse solto foi em vão. O rapaz foi enforcado, teve duas paradas cardiorrespiratórias e não resistiu.

Rapaz foi internado outras vezes

Esta não seria a primeira vez que Pedro seria internado por problemas relacionados ao uso de drogas. No dia que foi morto, Pedro Henrique seguiria com a mãe para uma clínica de reabilitação em Petrópolis, na Região serrana do Rio. Mãe e filho decidiram passar no hipermercado para almoçar e comprar mantimentos para levarem à clínica. 

Em 2017, o comerciante Newton Filho, padrasto de Pedro, registrou um Boletim de Ocorrência na 16ª DP (Barra da Tijuca) contra o jovem por agressão.

A professora e pesquisadora em Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), Luciene Patrício Barbosa Martins, reprovou atitude do segurança.

“Foi absurda e inaceitável. Um segurança jamais poderia fazer aquilo que ele fez, foi um excesso. Jamais poderia ter este comportamento, até porque deve ter passado por um treinamento que o capacitou a saber empregar a força quando necessário. A meu ver, a polícia não poderia indiciá-lo por homicídio culposo, o delegado deveria tê-lo indiciado por homicídio doloso, porque ele sabia muito bem o que estava fazendo. O segurança abusou da violência. É preciso questionar também porque os outros seguranças não retiraram o companheiro e levaram o rapaz para um local de custódia até a chegada da polícia”.

A psicóloga e mestre em terapia comportamental Márcia Magalhães Fonseca, criticou as pessoas que preferiram gravar vídeo do que ajudar o rapaz. “A tecnologia transformou as pessoas em voyeres, ou seja, elas assistem a tudo, postam tudo, mas não se comprometem. Elas postam em suas redes como forma de dizer estou aqui, eu vi, estive presente. A chefe do Departamento de Psiquiatria da UFF, Valéria de Queiroz Pagnin, explica que dependendo da substância ingerida e da própria pessoa é possível ocorrer uma ação de agressividade.

Groupe Protection não é sindicalizada

O presidente do Sindicato das Empresas de Segurança e Vigilância do Estado do Rio de Janeiro, Frederico Carlos Câmara, condenou a ação do vigilante por excesso de violência. “Essa empresa não faz parte do nosso sindicato que tem 65 filiados. Assim, o sindicato não tem como saber se ela está com a documentação regular e seus vigilantes passam por treinamentos. Vamos enviar um ofício à Polícia Federal e ao Extra solicitando informações”, disse. Para Câmara, Davi não poderia ter usado da força excessiva. “Baseado nos vídeos, creio que não havia necessidade de tanta violência. A pessoa estava dominada, bastava os demais seguranças terem imobilizado o rapaz e aguardado a polícias”. O presidente do Sindicato dos Vigilantes do Município do Rio de Janeiro, Antônio Carlos da Oliveira, diz que é preciso esperar o fim das investigações. A Groupe Protection não se manifestou.

Amigos e familiares no enterro de Pedro Henrique - Luciano Belford / Agência O Dia
Pedro Henrique foi sepultado no Cemitério de Paciência - Luciano Belford / Agência O Dia
Pedro Henrique foi sepultado na manhã deste sábado - Luciano Belford / Agência O Dia
Pedro Henrique foi enterrado no Cemitério de Paciência - Luciano Belford / Agência O Dia

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